A única coisa que passa pela minha mente quando entro no avião é "como é que vou aguentar uma viagem destas sem chorar?"
Mas depois apercebo-me do quão fraca realmente estou a ser, e o quanto isto não faz o mínimo sentido e engulo em seco para tentar absorver as lágrimas. Olho para trás antes de passar as fitas de segurança e aceno para Peter e Troy que me vieram trazer. Na mala tenho o resto do bolo que tanto insistiram para que eu trouxesse, assim como a carteira, os auscultadores e as chaves.
Seria de esperar que lenços, maquilhagem e todo um conjunto de outros produtos ocupassem espaço mas foi tudo para a mala que se encontra neste momento no compartimento destinada para a mesma enquanto eu entre o bilhete que é necessário.
- Mary, espera!- oiço a única voz que faz com todos os músculos que tenho congelem. Tenho pessoas atrás de mim a pronunciar inúmeros insultos mas não oiço nenhum, não processo nenhum, apenas continuo a olhar para o corredor que tenho de seguir.
Uma pessoa empurra-me para o lado enquanto eu passo, e os meus pés parecem corresponder quando saio da fila e olho para trás. Ele está ofegante, transpirado e a ignorar todas as regras de socialização que indicam que deveria ficar a mais de 5 metros de mim. Ou vou partir-lhe os dentes todos.
- O que é que tu queres?- rosno, inconscientemente a expulsar raiva que estava pressa, como se de algum modo, descarregar nele me fosse fazer sentir melhor.
Peter dá um passo em frente, vendo o quão transtornada realmente estou mas Troy pára-o, pondo um braço à frente do corpo.
- Quero que me oiças. Foi tudo um esquema, foi tudo planeado, eu juro!- ele cospe as palavras tão rápido. E eu sei que este não é nem o local nem o momento para termos esta conversa. O máximo que posso fazer, mesmo que não queira, é pedir que falemos depois.
Sei que as férias vão ser passadas a pensar no que ele tem para me dizer mas não consigo falar neste momento. Estou com demasiada raiva dele e tudo o que significa para mim.
Sabem, eu acreditava mesmo que esta pseudo-relação que criei na minha cabeça e que estava a ser transportada para a realidade era algo de quase honesto, quase sincero. Eu acreditei que todos os sonhos que tive com ele estavam a tornar-se reais, que todas as fantasias onde ele se deitava a meu lado, onde me beijava, onde conversávamos sobre tudo, onde conversávamos sobre nada. Fazia tudo parte de um desejo tão forte que se tornara realidade.Já se percebeu também que eu sinto tudo muito intensamente, não?
- Falamos quando eu voltar...- sussurrei, quase como se me estivesse a convencer a mim própria que era melhor assim. O olhar dele era tão desesperado, as sobrancelhas uniam-se numa ruga indefinida e a boca estava semi-aberta. Ele continuava lindo, não consigo ignorar esse facto.
E naquele momento tudo à minha volta parou. Como se o universo tivesse feito uma pausa para me permitir capturar o rosto dele, bem à minha frente, como se não me magoasse olhar para a pessoa por quem estava de facto a começar a apaixonar-me, como se tudo o resto não fizesse sentido.
E eu olhei para ele consciente de que algo entre nós estava completamente desconexo quando deveríamos ter a capacidade de comunicar como mais ninguém. Só pelo simples facto de que queríamos e podíamos comunicar. Não éramos dois estranhos à procura de encontrar e conhecer o outro. Não estávamos em páginas separadas do mesmo livro. Mas neste momento não haviam palavras. A dor que eu sentia, que era frequentemente parte do meu ser, impedia-me de ver para além daquela foto. Por isso eu não conseguia falar com ele mesmo que quisesse.
Porque nos tínhamos timing, tínhamos algo que nos fizera partilhar do mesmo interesse, mas tínhamos tudo o resto contra nós. E esse tudo o resto, impossibilitava tudo o que era certo.
E sem voltar a olhar para ele, baixei-me de modo a passar para o corredor que dava acesso ao avião e acenei à senhora que me olhava com desagrado pelo meu atraso. Entrei no avião.
Porque mesmo que a minha vida aqui seja fundamental e pareça um caco neste momento, eu tenho de voltar a casa. Eu preciso dessa terapia, agora mais do que nunca.
Boa tarde! 🙃
Tenho sido bastante rápida a atualizar , também porque estou doente e isso significa que tenho mais tempo para escrever.
Por isso este capítulo ficou mais pequeno mas o próximo já compensa 😃
As perguntas são as mesmas! Tudo em suspense não é verdade?
O que acham que ele quis dizer com "foi tudo um esquema?" 🙄 quem é que poderia ter feito esse plano?
Beijinhos! 😗o
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Identidade Perdida.
Novela JuvenilQuando Mary é forçada a fazer uma mudança, tudo o que parecia certo na sua vida deixa de existir. Os amigos que conhecia, a casa que frequentava, a família que tinha e ainda por cima, é o primeiro ano de faculdade não só numa cidade mas num país dif...