O fim apenas no começo (parte 1)

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"No sitio certo, na hora errada"

Levantei-me, e caminhei até ao quarto onde Chad deveria estar a dormir pacificamente mas tal não foi o que sucedeu. Conseguia ouvir os seus passos de um lado para o outro, a porta estava entre-aberta e a sua voz pronunciava algumas palavras nervosas e assustadas.

Troy que se encontrava a passar naquele preciso momento pelo corredor, parou a olhar para mim na figura de espia, ao qual eu respondi com um dedo na boca para que mantivesse o silêncio.

Ok, eu sei que isto não é correto. Posso simplesmente entrar no quarto e deixar de fazer esta figura triste. Mas tenho um pressentimento que algo está muito errado. A voz dele é tão baixa que para conseguir ouvir a conversa, tenho de me chegar à frente. Troy revirou os olhos e caminhou até ao quarto, fechando a porta suavemente.

Por muito que eu saiba que ele não concorda com o que eu estou a fazer, não me parou ou estragou o esquema por isso encosto-me ainda mais, deslizando pela ombreira da porta e tentando não fazer nenhum barulho denunciante.

-  Mas como é que é possível isso ter acontecido?! Não! Não, não é normal. Simplesmente não é! - a sua voz estava tão acelerada que mediante o sotaque inglês que tão bem o caracterizava tive de fazer um esforço para perceber. Mas ele estava a falar com quem? E porque é que parecia tão irritado?- Nós estamos bem! Muito bem aliás e não vou deixar que nem ela nem ninguém estrague isso!

Estou a perder demasiado tempo aqui, enquanto podia estar a despachar-me. Tenho a mala para fazer, tenho tanta coisa em que pensar que neste momento, esta conversa parece-me tão despropositada como o discurso de Troy no inicio da manhã.

Levanto-me e entro no quarto, pronta para dizer algo quando vejo Chad visivelmente nervoso, a atirar o telemóvel para o meio da cama e colocar ambas as mãos na cintura. Mas que raio?

Aproximo-me dele e circundo a sua cintura com os meus braços, vendo-o ficar tenso e afastar-se por momentos. Mas afinal, o que é que se passa?

- Amor...- chamo, não sabendo ao certo como reagir.- Passa-se alguma coisa?- Ele vira-se e afasta-se de mim com uma visão ligeiramente assustada no rosto e suspirando fundo. Caminha novamente e puxa-me para mais perto dele, dando-me um suave beijo na testa ao qual eu fecho os olhos para absorver.

- Estou só nervoso bebé, não te preocupes...

- É o exame?- ergo uma sobrancelha, consciente que aquilo não pode ser a verdadeira razão.- Ou tens algo mais que queiras partilhar comigo?

Ele afasta-se novamente e pega nas roupas que se encontram no chão, colocando-as na mochila.

- Não é nada...- diz, enquanto as atira e puxa o fecho apressadamente. - Tenho de passar por casa para tomar banho e trocar de roupa. Encontramo-nos na faculdade?- Eu aceno, não sabendo ao certo como devo tomar esta atitude dele.

Porque é que ele se está a afastar de mim? Fiz algo de errado? Será que ele está arrependido do que aconteceu entre nós há umas horas atrás? Tem haver com o telefonema que ouvi parcialmente?

Com todos os pensamentos e perguntas a gritarem na minha cabeça, vou para a casa de banho e tomo um duche. Não consigo deixar de me sentir suja e acho que isso deve ser uma reacção normal. Afinal de contas, deitei imenso sangue e sei que os meus músculos vão demorar um pouco a normalizar. Mesmo assim, não me arrependo do que aconteceu.

A Mary do passado teria achado cedo, teria ponderado o tempo que conhecia este rapaz e teria feito na cabeça um esquema de todos os passos que uma relação deve seguir antes de se atirar para o sexo. Mas neste momento, tudo isso me parece um disparate. Não foi apressado e tão pouco desesperado, o nosso gesto. Ele gostava de mim e eu gostava dele e isso deveria ser o suficiente. Afinal de contas, a nossa vida não pode estar planeada a 100%. As coisas acontecem, e parte do nosso caminho, é simplesmente deixar acontecer.

Identidade Perdida.Onde histórias criam vida. Descubra agora