Cap. 26

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“É o começo do nosso casamento, amanhã vou ao convênio saber como ponho você como meu dependente”, disse ele não se preocupando em esconder a felicidade a quem quer que fosse. Aquele momento foi só nosso e foi como se o tempo congelasse os ponteiros por nós dois.

A cada dia sinto-me mais feliz ao lado dele que se mostra melhor vez após vez. Jamais esperei entender o amor assim, tão delicado, tão terno. Hora da irresponsabilidade! Hihihi “Coelhinho, você tem o resto do dia livre e eu também, eu sei que é quarta-feira, mas você não que fugir comigo pra gente tomar um banho de piscina lá chácara não?” Perguntou-me Marcello afrouxando a minha gravata. “Como dizer não pro meu cachorrão?” Respondi hihihi. Resolvemos ter a tarde para gente e pedimos uma limonada dupla, com um quilo de gelo hahaha.

Pouco antes de sairmos, um guincho estacionou ao lado da caminhonete do pai de Marcello. “Será que eu estacionei na vaga de deficiente?” Marcello perguntou levantando-se em um susto. Naquele trecho, tornou-se hábito o guincho fazer visitas aos que ignoram a Lei.

Para nossa surpresa o carro guinchado foi um Ford corcel II que precisava de reparos na pintura e havia estacionado ao nosso lado. “Acho que estão guinchando porque é velho demais e para o motorista não pegar tétano, olha essa lataria” disse Marcello aliviado. Hoje penso que o destino aprecia o humor inglês; ainda observávamos o guincho partir quando na porta surge o religioso que ao ver o carro ser levado descontrolou-se; quis correr e correu, mas no percurso entendeu ser vã sua corrida; voltou para junto da senhora que agora segurava a criança que já não mais procurava reprimir seu choro.

“E agora? Minha carteira estava dentro do carro” disse ela ao homem que transformou seu rosto em carranca gritando com aquela senhora que para ser bondoso aparentava ser sua filha. Pelo que pudemos perceber pelos grunhidos daquele senhor descompensado, todo o dinheiro que tinha estava na bolsa dela. “Que prudente não?” Marcello disse observando a cena.

Enquanto aquele senhor ocupava-se proferindo impropérios de toda sorte, a jovem senhora demonstrava apreensão ao pôr sua mão sobre a testa de seu filho que havia vomitado. “Essa criança não está bem” ouvi de Marcello que desceu do caro e se dirigiu à aquela senhora que de perto percebemos que também chorava. “Ele está com febre?” Perguntou Marcello ao aproximar-se dela que só assentiu com a cabeça afirmativamente. “Ela está queimando” Ele disse examinando a fronte do menino. “Entra no carro que eu levo vocês ao hospital agora” Disse ele abrindo a porta para ela que exitou por um instante ao olhar para o marido que notadamente perdido a ajudou a subir no carro.

“Vocês têm convênio com algum hospital aqui?” Perguntou Marcello enquanto fazia a manobra para sair do estacionamento. “Não, nós somos de Campos Belos” respondeu a senhora, “a gente está aqui pra convenção” completou. Marcello fez cara de quem ouvia um idioma estrangeiro.

Fomos a um hospital público onde mediram a pressão e a temperatura, mas depois de esperarmos meia hora e Marcello haver se estressado com a atendente que namorava ao telefone, resolvemos levar a criança ao hospital onde Marcello é conveniado. O pai da criança que até então estava em silêncio disse envergonhado que não podia pagar a consulta ao que Marcello disse para ele não se preocupar com isso. Por sorte, o garoto foi atendido pela pediatra imediatamente.

Para nosso espanto a médica disse que pela sintomatologia apresentada podia ser princípio de meningite. Levamos um susto e o garoto teve de ser internado. Os pais do garoto nos disseram que havia dois dias a criança apresentava febre e não comia direito.

Eles têm parentes aqui em Brasília que moram na Ceilândia, um bairro mais afastado do centro, aqui chamamos de satélites para se ter uma noção.

Marcello segurou a mão do garoto que agora chorava muito e perguntou o nome dele. “Ezequiel” ele respondeu estranhando tudo.”Você tem quantos anos, Ezequiel?” Marcello continuou. “Sete” Ele respondeu, mas aparentava menos em razão do seu tamanho. “Ezequiel, a doutora vai lhe dar um remedinho e quando você melhorar nós vamos tomar sorvete ok?” Disse Marcello a Ezequiel que diminuiu o choro e quase sorriu.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora