Capítulo 46

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As palavras de Cláudia, volta e meia me vinham à mente. Guto notou que eu não estava bem, quis me perguntar o que ocorria, mas pelo meu tom triste quando respondi que não era nada ele soube entender que eu não queria tocar no assunto. Ir a uma festa quando se acaba de saber que sobrevivera à tentativa de um aborto doméstico dói, não queiram saber o tanto, mas como não comparecer à casa de Marcello?

Seus pais me esperavam. Eu não podia estragar mais ainda o seu natal, contudo eu me senti horrível o tempo todo. Embora ele insistisse para que fossemos a outro lugar, mas não me sentia de forma alguma no direito de simplesmente não ir à casa dos seus pais.

Terminei por reconhecer que ir à casa da família de Marcello foi o melhor que poderia haver feito, o calor daquela gente e aquela atmosfera barulhenta e afetuosa ajudou a diminuir a dor das feridas do primeiro impacto.

“Não sei o que está acontecendo, mas saiba que estou do seu lado” Disse Gutinho, que a certa altura teve que sair não sem antes dizer que era só dizer o nome e que poderíamos fazer com que parecesse um acidente e que ninguém precisava ficar sabendo.

“Roubamos um carro, arrancamos a placa, nos livramos do corpo e em algumas horas cruzamos a fronteira com o México” Disse ele. Hihihi Pode uma coisa dessas? “Zero em geografia, Gutão” disse a ele sorrindo que me deu um beijo na testa dizendo “a proposta está de pé!” Guto é um moleque mesmo, sorte de Heitor, Guto é um rapaz excepcional. Abraçou Marcello e se foi.

“Claudinho, sofrimento não serve para nada e tenho certeza de que sua irmã exagerou no que disse, eu estou aqui e é isso que importa, eu sou agora a sua família e o quero, desejo viver ao seu lado enquanto houver ar em meus pulmões. Desculpe por haver perdido a cabeça com sua irmã, mas quando eu a vi pronta para machuca-lo eu não pude me segurar” Disse Marcello me abraçando na cozinha de sua casa. Eu me senti protegido

Recebi um telefonema do meu pai pedindo para que voltasse para casa, dizendo que precisávamos conversar e que Cláudia havia perdido a cabeça; disse a ele que não tinha condições e que ainda estava muito confuso, mas que é certo que voltaria para conversarmos, depois. Minha mãe ao telefone chorava, não me recordo da última vez em que a vi chorar ou mesmo se tinha certeza dela poder chorar; procurei acalma-la dizendo que estava bem ao que ela respondeu que meu lugar era em casa.

Respondi que depois conversaríamos, mas agora precisava de um tempo. A noite foi longa, mas Marcello conseguiu inverter meu estado lastimável. Dormi em sua casa. Durante a noite acordei muitas vezes e em todas elas Marcello estava acordado e me sorria sempre dizendo com sua voz doce e seu erre marcado que aprendi a amar, “eu estou aqui, meu Coelhinho, dorrrrrme”.

No dia seguinte...

No dia 26 dormi por toda manhã e acordei quando passava das 14h. Marcello havia se levantado, trouxera comida, me carregou para o chuveiro. Ele me vestiu e disse que durante a manhã, enquanto eu dormia, havia saído e me preparado uma surpresa boa.

“O que você fez?” Perguntei a ele que respondeu que só depois contaria. Pensei em voltar à casa e conversar com meus pais, mas a vontade era pequena e decidir que melhor não. Voltar à casa, era estranho, mas não me sentia mais aquela como minha casa.

Marcello me levou para darmos uma volta e sem que eu percebesse comecei a desabafar com ele minha dor e despejei coisas que nem me lembrava mais. Ele a tudo ouviu calado se limitando tão somente a me abraçar. Foi tão importante sua presença.

“Sabe Marcello, eu sempre senti que havia diferença entre Cláudia e eu, mas não compreender esse ódio sempre foi ruim e saber que meus pais brigam por minha causa dói” disse eu a ele ao que ele respondeu que isso não era verdade e que meus pais gostavam muito de mim, mas perguntei a ele o porquê de me haverem escondido isso; Marcello quedou calado.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora