Capítulo 41

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Ele me apresentou ao maior repertório de piadas racistas que jamais integrante algum da Ku-Klux-Klan fez idéia. Mas isso não irritava, apenas aborrecia, contudo um fato me magoou, no dia do seu casamento todos receberam convites para e cerimônia, meu pai e minha mãe, eu não. Não se tratou de um esquecimento, de fato descobri depois que ele não queria que eu estivesse presente à cerimônia. Resolvi relevar pelo bem da boa convivência familiar.

Ele jamais me destratava na frente do meu pai, mas diante da minha mãe jamais se desfez em mesuras para comigo. De qualquer forma ele estava ali, e parecia precisar de auxílio, não esqueço o fato dele ser pai da minha sobrinha e mais uma que virá.

“Bonita caminhonete do seu amigo” disse ele já provocando. “É do pai dele” respondi querendo entabular uma conversa, mas notando a mordacidade que lhe é peculiar desisti e disse a ele que se quisesse conversar e se eu pudesse ajudar o faria com gosto. “Agora não” Ele respondeu e me afastei em silêncio lembrando que devo me ocupar de quem me trata bem.

Ao subir, notei que meus pais estavam imersos no silêncio que se faz após as discussões; como diz o Guto “climão”. Conversei rapidamente com eles e fui para o quarto, cruzei com minha irmã no corredor que respondeu com um oi desinteressado e continuou em direção a cozinha quando perguntei como ela estava e como estava o bebê. “Tentei!” eu pensei comigo.

Meu quarto estava em ordem, mas notei que haviam estado nele, uma foto em que estávamos Marcello e eu, e que guardara dentro de um livro havia sido deixada debaixo da cama. Teria caído sozinha?

Telefonei à Marcello e animado, me perguntou se podíamos ir ver o apartamento na sexta, concordei. Mais tarde tentei falar com a Lu em Belo Horizonte, mas ninguém atendeu.

Fui dormir com um leve incômodo causado por uma dor de cabeça.

Durante o sono leve pude ouvir os sons da rua, custei a me desligar. De madrugada, num daqueles momentos de sono mal dormido em que se quase volta à consciência, ao virar para o lado, vi um vulto sentado na cadeira me observando escuro. A sensação de terror entrou pela minha boca, e meus batimentos cardíacos me fizeram sentir meu coração pulsando em minha garganta.

Saltei da cama, armei o punho e me preparava para esmurrar o que sei lá pudesse ser quando ouvi: “Calma! Você sempre acorda estressado assim?” Disse meu cunhado acendendo a lâmpada do abajur. “Santo Cristo, o que você está fazendo aqui? Quase tive uma síncope” Disse a ele me refazendo do susto e puxando o lençol, dormia nu por conta do calor, o ventilador não o aplacava e o vento teimava em não entrar pela janela. É dura a vida dos “sem-ar-refrigerado” em Brasília, acreditem.

“Eu preciso falar contigo, sabe, nós nunca nos demos bem, mas eu notei que você cresceu e eu acho que posso confiar em você pra falar um pouco de mim, pelo que eu estou passando” Ele disse enquanto eu me vestia. É péssimo ser acordado assim, por conta disso tive dor de cabeça até a manhã seguinte.

“Obrigado por me oferecer ajuda, é bem mais que jamais recebi dos seus pais ou dos meus. Mas talvez fosse, como você diz, apropriado, se conversássemos em outra hora, foi um erro ter vindo aqui” disse ele se levantando, notei que ele estava embriagado. “Não, fique” Disse a ele e me desculpei por haver gritado com ele.

Lembrei que pouco antes de adormecer ouvi os dois discutindo, recordei também dela o haver posto para dormir no sofá, que não é a melhor acomodação da casa, creiam.

“Claudinho, sua irmã é uma boa moça, tem temperamento difícil, mas é uma boa esposa, mas sinto que algo mudou entre nós, da parte dela e da minha também." (Os pais dela precisam dar uma surra nela - Jhoen)

"Há umas coisas a meu respeito que nunca tive oportunidade de conversar com ninguém e acho que talvez você seja a pessoa certa, talvez você possa me entender.” Ouvi dele que falava com dificuldade e com a voz pastosa. Estendi o bi-cama que fica debaixo do meu para ele deitar. Estava sujo e, como Marcello diz, pingando de sono. Ao ver o lençol branco do bi-cama, ele se arremessou contra ele e dormiu quase que instantaneamente.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora