Capítulo 36

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A saudade de quem se gosta devora dias para passar e quando do regresso do ser amado só se pensa em receber o outro em sua alma em seu corpo, só se quer estar dentro da alma do outro, dentro do seu corpo. Só se deseja beber da boca do outro. Sentimento assim jamais houvera em mim. Queremos estar nos braços de quem amamos e somente isso, coisas outras não bastam. Tomamos uma ducha, pusemos nossos pijamas e sentamos na varanda do quarto.

Tropeçava meus olhos nas poucas estrelas que se podia contar quando notei que Marcello me observa. “Eu queria cantar uma música que aprendi a tocar para você, menino brigão do olho roxo” Disse Marcello que se levantou apanhou o Bruno (Bruno é o violão dele, é!, ele tem essa mania de dar nome a tudo, é coisa de garoto eu sei e já disse a ele, mas fazer o que?) e voltou o afinando.

Ele sabe que eu amo o ver tocar e ele parece fazer isso com muito gosto. Enquanto um arrepio me percorria a pele eu reconhecia nos primeiros acordes, era Weird fishes do radiohead.

Como eu amo ver esse moço cantar, amo sua voz e a forma apaixonada dele dizer a mim, por meio do que canta o que sente. A família de Marcello guarda uma intimidade com a música que admiro. Enquanto ele iniciava os acordes dizia “Isso é o que eu sinto quando olho dentro dos seus olhos, meu coelhinho de briga”

Marcello tem uma relação de adoração com o radiohead, como eu. Dividimos a mesma paixão pelo senhor Thom York, a voz masculina mais linda que as ilhas da velha e loura Albion jamais produziram. Esse moço York entra pelos meus ouvidos, corre por minha artérias e vai direto para meu coração me fazendo sentir coisas que não podem ser explicadas com palavras.

Daí o amanhecer se fez lindo; enquanto ele, meu Marcello ainda tocava, tirávamos nossas roupas e voltávamos para a cama, como que num acordo mudo em que nossos corpos, senhores de si mesmos, se procuravam desejosos de beber a vida um no outro, ele abandonou o Bruno de lado, nos beijamos mais e terminamos de cantar baixinho a Weird fishes, eu no ouvido dele, ele no meu, deitados, enquanto nos recebíamos um ao outro e eu ouvia dos lábios de Marcello o quanto ele amava tocar a minha pele.

Weird Fishes / Radiohead http://www.youtube.com/watch?v=57q2uFaMjNs

Dormimos abraçados até o meio dia quando Guto bateu na porta do quarto. Havíamos combinado de irmos à cidade com os meninos. Encontraríamos outros amigos nossos que haviam decidido ir a Pirinópolis no último feriado.

Quase meia hora para levantarmos e nos compormos para descermos à rua. Os meninos estavam tagarelando muito, nem pareciam que haviam ido dormir depois de nós.

Na cidade encontramos duas amigas de Guto e três amigos de Marcello que eu ainda não fora apresentado. Resolvemos todos à casa de uma parenta de um desses amigos de Marcello. Lá chegando havia uma festa, muita gente. Coincidiu de eu encontrar uns colegas da faculdade lá, Rubinho estava entre eles. Ele havia ido com outras amigos nossas.

Como o mundo é pequeno, pensei. Rubinho se aproximou e me deu um abraço, ele visivelmente já estava, digamos, colocado, devia ter bebido a manhã toda. “Claudinho, que coisa boa, hein?” disse ele com a voz meio pastosa, hihihi.

Gosto dele, é um ótimo amigo, muito tranquilo e ótimo parceiro nos grupos de estudo.

“Tudo bem?”, prosseguiu Rubinho estendendo a mão a Marcello que deu um rosnado para ele e em seguida um forçado sorriso. Rubinho sorriu sem entender muito e disse “Depois nos falamos, Cláudio” despediu-se Rubinho voltando ao grupo onde estava. Marcello cerrou os dentes e deu um latido quando ele se afastava.

“Eita Eita Eita, eu vou ter que conseguir duas funcinheiras é?” Perguntou o Guto fazendo troça com a cara de Marcello que respondeu “Cáspita, não pra mim, foi o tocha humana que começou”. Marcello, não sei porque, tem ciúme de Rubinho e faz brincadeira com o fato dele ser ruivo, muito ruivo. Tadinho, ele tem muita sarda e me confessou ter dificuldade de se relacionar com as meninas porque elas não gostam de ruivos.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora