Capítulo 45

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*Natal*

Marcello é um homem bom, estou seguro disso, contudo não sei como reagiria ao saber do destempero de Cláudia para comigo. Ele é um ser humano admirável, realmente um querubim; coitadinho, improvisaram um colchão para ele, deu dó vê-lo se dizer satisfeito com a manta que mal o cobria.

Na noite anterior, acordei de madrugada, ajustei meu edredom sobre seu corpo e verificando que seus pés estavam descobertos, frios, eu me ajoelhei e os beijei como que em um agradecimento a Deus por me haver dado um anjo bom com cabelos cor de trigo.

Meus pais haviam retornado da chácara de uma amiga de minha mãe com Cláudia. Passaríamos o natal em família como há muito não fazíamos, todos acreditávamos que ela assim se sentiria melhor. Combinei com Marcello de cearmos com meus pais e depois irmos à casa dele.

Minha mãe se mostrou nervosa sobremaneira naquela noite. Meu pai se atrasara; era 20h e ele ainda não havia chegado da rua. Marcello e eu estávamos em meu quarto, Guto me visitava e dali iria para a casa dos pais de Marcello. Ouvimos os meus trocarem palavras duras, quando meu pai chegou; fiquei embaraçado com aquilo, mas tanto Guto, quanto Marcello, observando que fiquei sem jeito, disfarçaram que haviam escutado a troca de gentilezas. "Nem na noite de natal esses dois se dão trégua" pensei imaginando as caras amarradas de meu pai e minha mãe.

Guto se despediu de nós e marcamos de nos ver mais tarde. Ele saiu, mas esqueceu seu telefone, minutos depois o aparelho toca, pelo identificador era Heitor. Não atendemos, Guto retornou para apanhar o telefone que esquecera e ao perceber a chamada não atendida prendeu discretamente um sorriso nos lábios.

Por volta das 22h, quando já estávamos à mesa Aurélio interfonou, queria ver a filha. Meu pai o convidou para subir, surgiu um sorriso no rosto da minha mãe que jamais escondeu desejar uma reconciliação entre ambos, mas Cláudia protestou começando a desfiar seu novelo de impropérios.

Estava agressiva para além do “normal” se dirigindo à minha mãe de forma dura como ainda não havia presenciado. Seu tom de voz se elevou aos berros, estava descontrolada. Gritava coisas ininteligíveis, estava fora de si. Marcello ficou imóvel sentado à mesa, reparei que ele ficou ruborizado com o comportamento de minha irmã.

Meu pai tentava convencer Aurélio que voltasse em outro momento. Minha mãe tomou Letízia, que chorava, nos braços para levá-la para o quarto quando Cláudia se precipitou em sua direção de forma ameaçadora e dizendo que não era para ela descer com a criança. Sem entender o que eu fazia, sem mesmo pensar o porquê, me vi postado entre Cláudia e minha mãe, instintivamente não pude conceber agressão àquela severa senhora a quem tanto amo.

"Você não está sendo razoável, Cláudia, procure se acalmar, você está muito nervosa e isso não lhe fará bem, tampouco ao bebê" eu disse a minha irmã tentando fazê-la se conter; de tão descompensada; ela havia armado um tapa para minha mãe.

"O que é que você vai fazer? Você não tem direito de dizer nada aqui, você não é ninguém, bastardo. Não é à-toa que o quiseram abortar!" Ouvi Cláudia latir isso conta mim. (Mas o que?? - Jhoen)

Não pude entender direito o que ela dizia. Minha mãe gritava, "Basta!", mas Cláudia prosseguiu e as coisas que ela disse naquela noite... bem, doeu mais que qualquer tapa que dela antes houvera recebido.

"Quiseram abortá-lo sim!" ela gritou e prosseguiu "Ninguém nunca teve a coragem de contar para você, porque você era fraquinho, “dodói” demais pra suportar; e tinha aquela coisa no coração, e aí você começou a se sentir gente. Sabe por que papai e mamãe vivem discutindo?" Ela perguntava com a face contorcida por sua mente atormentada.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora