Capítulo 39

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Não me agrado disso e sei que compreenderá e respeitará meu espaço. Não quero ter que trancar meu quarto quando sair, jamais nessa casa isso ocorreu, nunca foi necessário. Apelo ao seu bom senso e sei que isso não se repetirá. Sei que posso confiar em você com relação a essa conversa. Ouça, teremos que conviver por mais certo tempo e não quero ter que me indispor mais com você. Não precisamos nos gostar mas necessitamos nos desentender, não é?

Mais uma coisa, retire suas malas do meu quarto, deve haver espaço no que ocupam, é o melhor da casa e o mais amplo também, eu vou tomar meu banho e quando eu voltar não quero encontrar mais nada seu aqui nem você. Eu me fiz entender?”

“Claro Claudinho, desculpa aí” ele respondeu ao que completei “Meu nome é Cláudio Santiago, não se dirija a mim no diminutivo, não sou seu amigo, nem desejo ser, não há a necessidade de sermos íntimos tampouco desejo isso” eu me virei e fui tomar banho.

Durante o banho o que Guto havia me dito ocupou meus pensamentos, estou sofrendo por ele. Será que ele ainda gosta de Luíza? Será que há chance para os dois? Devo dizer algo, tenho medo de atropelar e terminar por prejudicar. Que droga, queria saber o que fazer.

Quando voltei não havia mais nada que não fosse meu no meu quarto e os dois computadores estavam desligados. Não gosto de falar assim com as pessoas, mas acho que agi na medida exata, procurei não ser duro demais e não humilhá-lo pelo fato de ele precisar, momentaneamente, de estar hospedado na casa dos meus pais, mas precisava ter tido essa conversa franca com ele.

Um sorriso de lírio enchia sua boca e seus dentes eram como um colar de pérolas preciosas. Jamais me cansarei de sentir o seu perfume misturado ao cheiro natural da sua pele. Seu cabelo espelhava a luz do postezinho antigo - pastiche bem sei, mas que graciosamente a rua iluminava com sua esguia elegância funcional.

Quando se ama, ama-se também o suor que ensopa a roupa de quem se gosta e que depois seca. Aprende-se a gostar do sabor da boca do outro, bem como do abraço que àquela hora, me cingia a cintura. Tonto eu, por um gole a mais, equilibrei-me sobre os calcanhares firmando um horizonte imaginário que teimava entortar para a direita.

Caminhei um pouco trôpego, contando as pedras no chão. Quais mãos engenhosas as teriam combinado nesse mosaico que ora formavam? O som das risadas de Marcello era como borboletas que me faziam cócegas nos ouvidos. “Eu amo quando você fica de pilequinho, Coelhinho. Porque não admite que esta tontinho e me deixar carregar você?” Marcello me perguntava rindo, mas eu, receoso de parecer sob o efeito do vinho influído, respondia que não sabia do que falava ele.

Que tonto eu fui, não é? Custava reconhecer que eu já estava alto? hihihi Mais risos eu ouvia e mais eu me empertigava em minha pose, precariamente sóbria. Ainda bem que Marcello faz questão de vinho de boa qualidade, ao menos o porre valera a pena e meu fígado não reclamaria como a cabeça também não na manhã seguinte. hihihi

Houve um momento em que quase tropecei e disparei contra ele numa gargalhada de quem se entrega por não mais poder a fraqueza esconder enquanto lhe dizia: “Marcello empurrar não vale!” Outra sonora e deliciosa gargalhada de Marcello inundou a rua e se misturou a luz leitosa dos lampiões.

“São momentos assim que me fazem ter certeza que você nasceu pra mim, Só você consegue me fazer sentir essa felicidade nas coisas mais simples, caminhar de madrugada na rua só contigo, meu anjo, só você me faz provar prazeres desses” O beijo que se seguiu foi assistido pela coruja que velava nosso caminho e por uma senhora insone, talvez tão notívaga quantos nós que da sua janela, antiga, em seu olhar mais antigo ainda, nos guardava a mira.

O que terá pensado? A vista turva e suas rugas tantas contavam histórias de um mundo que só naquele lugar existe. Amo Goiás e suas ruazinhas empedradas, o casario velho, simples como as pessoas que lá habitam, a atmosfera envolvente e o odor que brota da mata e que abraça a cidade. Cheiro de terra e dos perfumes dos doces muitos que ao andar pela cidade posso sentir.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora