Capítulo 40

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Depois dessa minha confissão fizemos silêncio durante certo tempo enquanto terminávamos nosso malbeque; ouvíamos os sons das cercanias. O quase silêncio que tinha ao fundo grilos e piar de corujas, às vezes um latido ou um miado distante, foi rompido por uma voz feminina que vinha de além do muro, era uma canção cristã dedicada à virgem pelo que pude entender.

Parecia ser a uma senhora que atravessando o tom, em seu português simples naquela pronúncia imperfeita me encantou pela pureza do sentimento religioso de fé e esperança, lindo, lindo. A voz de um coração honestamente simples e desprovido de vaidade qual seja, um coração que naquele instante estava, seguramente, em contato com algo superior.

Assim como veio, se foi, leve, simples, linda, simples, como o vento ligeiro dessas colinas de Goiás.

Estava de cabeça baixa enquanto dizia a Marcello sobre o encantamento de todas as coisas e como o belo é simples em sua forma e conteúdo. Ele respondeu num sorriso que concordava. Acrescentei que para ser feliz e de forma plena, pouco é necessário. Necessitar era o tema da minha divagação.

All I Need – Radiohead - http://www.youtube.com/watch?v=cdrCalO5BDs

A noitinha era linda e eu tive naquele momento tudo que precisava, estava completo. Eu o Beijei e ficamos abraçados nos degraus da porta da cozinha que dão para o quintal dos fundos olhando aquele céu lindo, negro, profundo. Sem dizer muito, ele me tomou pela mão e fomos para nossa cama.

Ficamos abraçados um ao outro sob o silêncio dos satisfeitos, plenos de contentamento iluminado somente pela fraca luz amarela do abajur. O dia havia sido perfeito, ainda havia o som do vinho e o sabor da música pela casa... Marcello me beijou os olhos, o pescoço, tirou minha camisa, beijou meus pés. Beijou meu peito, tirou minha bermuda e me beijou a púbis. Quando beijou minha virilha, me olhou nos olhos e sorriu dizendo eu te amo, Pude notar que ele tinha lágrimas nos olhos. Voltou a beijar minha cintura e virilha.

O contentamento por ver seu nome escrito no meu corpo estava em seus olhos. Nos amamos entre beijos e mordidas até nossos corpos desejarem não mais que apenas ter a pele do outro contra a própria. Dormimos profundamente; ele com a cabeça no meu peito. Estive completo e enquanto acariciava seus cabelos fiz uma prece silenciosa intercedendo junto ao Eterno por todos que ainda não encontraram sua outra parte, lembrei de cada amigo desta comunidade, suas dúvidas e dores que também são minhas.

Sabem, minha vida até encontrar Marcello havia sido uma sucessão de infortúnios amorosos, às vezes me cria destinado ao desacerto, mas uma crença estranha havia em mim e essa mesma certeza de origem desconhecida me diz que vale a pena e também que cada um que hoje sofre no momento certo estará diante daquele o completará no momento oportuno.

Na manhã do sábado fui acordado pelo toque do telefone, era Guto, deixou tocar uma vez e desligou. Telefonei de volta, mas não consegui conexão. Sei que talvez precisasse conversar, fiquei um pouco aflito por ele. Durante o dia eu tentaria ao menos mais umas dez vezes; todas sem sucesso.

Voltei a dormir pensando sobre ele e Luíza.

No dia seguinte...

Acordei novamente com Marcello brincando com minha orelha enquanto me olhava. “Bom dia, Coelhinho” ouvi de seus olhos doces que tanto amo. Aprendi a entender suas piscadinhas. Depois do café, ficamos na rede um pouco e resolvemos nos entregar às delícias dos doces, o de manga é magnífico.

Depois disso fomos nadar numa fazenda fora da cidade que um amigo do pai de Marcello havia nos indicado. Ver só céu e cerrado é incrivelmente maravilhoso. O lugar é um paraíso na terra, a água da cachoeira inexplicavelmente perfeita e cristalina, geladinha. Passamos o dia lá, na fazenda onde só estavam o caseiro e sua esposa que de tímidos se recolhiam ao longe de nós; se quiséssemos poderíamos ter andado nus de tão sós que estávamos.

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora