Desculpem-me por não dar notícias por esses dias. Marcello está em São Paulo e penso que tenho estado, de certo modo, deprimido. Em casa, as coisas têm ficado um pouco complicadas, faz dois dias ao chegar da faculdade encontrei minha irmã no meu quarto; ela havia ligado o meu computador. Foi um choque pra mim porque ao seu lado minha mãe estava, em pé.
Ambas olhavam algo que quando cheguei à porta pude ver que minha irmã, ao notar minha presença, minimizou da tela, não - ela fechou o que via. Não preciso dizer em que estado fiquei. "Olá, meu filho, já terminou sua aula?' Minha mãe me perguntou de forma natural.
"Eu saí mais cedo, pois uma dor de cabeça me aborrecia muito" respondi a ela enquanto sentava na cama. "Você deve ter razões para se preocupar mesmo, dores de cabeça podem ser reflexo de outra coisa" Disse-me minha irmã com seu modo naturalmente irônico. "O que você quer dizer, exatamente, com isso?" retruquei a ela que deu um sorriso cínico em resposta e saiu do quarto.
"Cláudio, quero falar-lhe pela manhã, você dorme agora?" ouvi de minha mãe. "Respondi que iria tomar uma ducha e deitaria em seguida, quis saber do que se tratava; de forma disfarçada perguntei sobre o teor da conversa e sobre seu grau de urgência. "É algo que prefiro falar durante o dia" dela ouvi enquanto saia.
Noite infernal; fritei sobre a cama. O que terão visto? O que teria minha mãe para falar comigo que melhor seria dito sob a luz do sol? Estranhei o fato das duas estarem em meu quarto; não temos o hábito de frequentarmos uns o quarto dos outros na ausência do seu dono.
Minha irmã pareceu haver se esquecido dessa regra tácita, mas dela tudo espero, acho que me incomodei mesmo foi ver minha mãe lá dentro; jamais entrei em seu quarto sem antes bater ou quando ela não estava, esse era como que nosso ritual particular de celebração do respeito mútuo que nutrimos em nossa casa.
Ligue o computador e verifiquei o histórico de acessos; havia sido propositalmente apagado.
O que terão visto? Busquei nos últimos documentos acessados; ela, minha irmã, não havia sido tão hábil em cobrir seus rastros de busca. Haviam acessado, entre outras coisas uma pasta com fotos minhas, mas que nada comprometedor guardava em seu conteúdo.
Lá estavam fotos com amigos, de minha sobrinha, meus pais, da minha festa de aniversário, algumas de meus amigos da faculdade e outras de Marcello e eu, mas nada que denunciasse o que quer que não fosse simples amizade entre mim e quem quer que o fosse.
Não dormi naquela noite. Ressentido por minha mãe haver quebrado uma regra que, desde sempre, ela impôs, doía, mais ainda por haver feito em deferência à minha irmã. Pensei em como Cláudia a mantinha sob seu domínio e como ela a manejava.
Mágoas da infância, resolvidas ou não, tornaram à tona. Uma existência vivida à sobra da primogênita da família Santiago pesava um meu coração. Santo Cristo, nem posso contar as vezes em que me senti relegado em importância. A saudade de Marcello vinha me açoitar hora a hora.
Na manhã seguinte, à mesa do café da manhã, meus pais e minha irmã, em silêncio comiam, incomum, pois nessa hora costumamos conversar. Tomei meu café ao som de um silêncio de que pesava toneladas, despedir-me deles e ganhar a rua, me fez sentir a alegria do encarcerado sob indulto natalino. Vez por outra me sentia alienígena entre eles, isso foi atenuado com os anos e a ausência da preferida mais alívio trouxe, contudo agora, sensações esquecidas, ressuscitam.
Marcello longe não torna as coisas mais fáceis e há noites em que não quero voltar para casa; engraçado e triste é pensar que talvez essa jamais tenha sido minha. Por volta da hora do almoço minha mãe me telefonou dizendo que estava preocupada com meu pai, ele havia saído e não deixara direção.
Curioso, não era seu proceder comum. Sei que têm discutido e que aquele relacionamento que nunca fora um exemplo de mar de carinhos, havia se tornado nos últimos meses ligeiramente mais conflituoso.
Minha mãe me esclareceu que queria falar comigo sobre isso e combinamos de eu regressar mais cedo naquele dia. Como ajustado, tornei à casa antes da hora habitual.
Minha irmã saíra, o clima era menos denso e minha mãe pode se dirigir a mim sem reservas. Segundo ela, meu pai tem apresentado um comportamento muito diferente do que é habitual e ela estava muito preocupada.
Foi a primeira vez que aquela rocha a mim fez confidência de tamanha preocupação, coisa que jamais imaginei presenciar. Mais adiante ela relatou uma série de fatos inéditos e confessou imaginar coisas, coisas as quais deixou seu silêncio responder quando indaguei quais eram.
De qualquer modo essa conversa foi interrompida quando minha irmã voltou da rua. Observei que minha mãe mudou de assunto, talvez não quisesse que ela de qualquer coisa soubesse. Cláudia não é tão mordaz quanto a supunha e nada notou; melhor assim.
Fui pra a faculdade imaginando o que passava na cabeça da minha mãe. A lembrança de Marcello dividia então lugar com minhas inquietações quanto aos meus pais. Quando me dirigia ao ponto de ônibus após a aula imaginava como o dia havia ido de um sobressalto a outro, no trabalho e em casa. Que bom que ele terminara, eu pensei.
Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, meu ex se aproximou sem que eu percebesse.
"Olá, como vai?" ele perguntou ao que respondi que bem, procurando esconder o desconforto a que ele me remete. "O namoradão viajou? Ontem e hoje não o vi lhe buscar" ele perguntou demonstrando haver me observado.
"Não quero falar com você e não quero que fique me seguindo. O que houve entre nós foi um engano triste e disso não passou" dessa forma respondi a ele que segurou no meu braço enquanto perguntava se eu realmente o havia esquecido e se meu atual "namoradinho" era melhor que ele em aspectos que pelo torpor me impedem de repetir.
Eu simplesmente não cria no que estava ocorrendo. Deixei claro que não desejava o menor contato com aquele sujeito e agora, logo agora que estava passando por um momento difícil ele surge para me incomodar?
Ele é mais alto e muito mais forte que eu e queria me puxar para dentro do seu carro. A parada estava vazia e não havia auxílio próximo. Concordei em conversarmos um pouco, mas ali mesmo, sentados no ponto, me pareceu mais seguro. Ele sentou e disparou a falar; pediu desculpas por me haver ocultado que tinha família, mas que se eu desse uma chance a coisa seria outra dessa vez.
Disse ainda que gostava do meu jeito, que eu não era efeminado como uns caras que ele conheceu e que sendo assim a gente poderia ficar junto sem que ninguém soubesse. Senti asco por um dia haver me deitado com uma criatura que pensasse assim.
"O que existe de errado em ser efeminado? Parecer menos gay faz alguém melhor?" Perguntei a ele e prossegui "Você pode até querer levar uma vida dupla, mas não é o que planejo para mim. Não acho justo que sua esposa seja mantida na ignorância, não creio que isso seja correto comigo e tampouco creio que essa faceta oculta da sua vida seja melhor trabalhada com você se comportando assim" continuei "Você diz não gostar de caras efeminados, tem preconceito quanto a eles, mas procurar homens secretamente não é conduta mais adequada.
Por que quis se casar, uma vez que gosta de homens? Percebe que isso não é justo contigo e que vai sobrar sofrimento para todo lado? Não quero ser o outro na sua vida. Talvez você até encontre quem aceite e assim possam até ser felizes, cada um escolhe ser feliz de uma forma, mas não quero me mover nas sombras. Não é o que desejo para mim"
Disse a ele ainda que compreendia que era difícil para ele gostar de homens e estar casado com uma mulher. Disse que sabia que de alguma forma ele amava sua esposa, mas que ela o completava somente em parte.
Ele a tudo ouvia calado olhando para mim. Um ônibus se aproximava e respirei aliviado. "Queria poder falar contigo depois" ele me disse notando que eu me levantara. "Acho que não seria bom" respondi. "E o que eu faço com esse desejo que eu sinto por você?" Ele perguntou.
"Esse desejo tem um dono que não sou eu e que no tempo certo, quando você deixar de ser preconceituoso e se aceitar ele aparecerá". "Nossa conversa ainda não acabou" ouvi ele dizer enquanto eu subia no ônibus. Não me virei e senti certo tom de ameaça em suas palavras. No trajeto pensei sobre como era difícil para ele viver daquela forma. Indaguei porque ele havia casado e pensei que às vezes a vida nos empurra para situações que nos fogem ao controle.
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O namorado da minha amiga.
RomanceOi, vou começar a postar uma historia no wattpad do autor Jhoen Jhol chamada 'O namorado da minha amiga', não sei se ja ouviu falar no casal "Coelhinho e Cachorrão"? Ela fez mto sucesso em outros site. como este http://www.romancegay.com.br/jhoen-j...