Cap. 19

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“... E o que acontece é que eu nem sei mais como chamar esse sentimento que se adonou de mim e que é tão grande que às vezes me pego durante o dia rabiscando o seu nome em todo papel que aparece na minha frente, na parede, na mesa, na minha mão e sei lá mais onde e lembrando desse seu sorriso e eu começo a sorrir como um bobo sem saber porque, fico com os olhos rasos d´água de saudade e ouço pássaros cantando na minha cabeça (sic)”

Essas palavras, ditas com aquele acento marcado tão característico não deixavam dúvidas, era Marcello. Guto me abraçou o pescoço e senti o calor do corpo de um irmão que tanto me agrada. “Cláudio, cuida desse cara, eu o amo demais, ele é mais que um irmão pra mim e... eu sei que você sabe disso”.

Isto eu ouvi de Guto ao pé do meu ouvido, dito de forma discreta e confirmado por um daqueles sorrisos honestos que ele dá quando está diante de uma das suas muitas certezas. Dele recebi uma lambida debochada na testa e um beliscão descontraído no nariz. O bar parou pra ver o que acontecia.

Fomos todos atrás de Marcello que estava terminando de afinar o violão. Ele havia sumido minutos antes e já me preocupava, fiz conta de quase meia hora, mas não sei dizer ao certo. Perguntava a André sobre ele quando ouvi sua voz num microfone. Que parecia vir dos fundos, na ala dos fumantes.

“O que há dentro do meu coração; eu tenho guardado pra te dar, e todas as horas que o tempo tem pra me conceder são tuas até morrer. E a tua história, eu não sei, mas me diga só o que for bom. Um amor tão puro que ainda nem sabe a força que tem é teu e de mais ninguém. Te adoro em tudo, tudo, tudo, quero mais que tudo, tudo, tudo, Te amar sem limites viver uma grande história...”

Amor e discussão.

A voz de Marcello encheu o ambiente, não se podia ficar indiferente à sua presença.

O meu anjo de olhos de água marinha cantava. Meu coração parecia explodir e não conseguir segurar e chorei, amo essa música e em tempos idos sonhei ouvi-la ao lado de alguém a quem pudesse amar se reservas.

Na voz de Marcello foi como a ouvisse pela primeira vez e ela jamais me pareceu tão linda. Ele continuo cantando de uma forma tão sentida que era com se sua voz passasse através do meu corpo.

Marcello me fez esquecer com aquela canção da discussão que tive com meu pai hora antes. Tentei conversar com meus pais sobre a viagem de forma honesta, esse sempre foi nosso proceder, omiti algumas coisas, mas jamais menti e queria que assim sempre fosse.

O dizer ao meu pai que pediria uma ausência, pois a viagem que faria me tomaria duas semanas da faculdade ele trovejou “Como? Vai trancar a faculdade para viajar? Com quem? Pra onde?” Expliquei que não seria um trancamento e sim uma ausência temporária e que não haveria prejuízo, mas ele me metralhava de perguntas e nem tive tempo de a tudo responder.

Desconheci aquele comportamento, era como se desaprovasse sei lá o que ou se estivesse diante de algo que não admitia fosse em forma ou substância. “Não, não, e não. Isso é um absurdo, Cláudio!” Ele repetia com que com essa frase quisesse disfarçar outra que não tinha coragem de dizer. Não entendi aquele comportamento. Ele estava visivelmente irritado e procurei acalmá-lo, não queria que ele estivesse mal por minha culpa.

Pai e mãe.

Amo a meu pai e não o queria fazer sofrer, mas não tive coragem de ir sem dizer minha direção. Dele sempre ouvi que o correto era dizer a verdade fosse em que circunstância fosse, mas naquele dia pensei que seria melhor ter mentido. Como ele se enervou acima do que penso ser seguro calei-me. Ele marchou para o quarto, não sem antes me dizer que não ia permitir que eu prejudicasse a faculdade.

Minha mãe que permaneceu muda todo o tempo em que meu pai esbravejava me disse: “Ouça bem, Cláudio, isso tudo parece estranho pra mim...pra nós. É uma viagem pra muito longe e... Não sabemos onde conseguiu o dinheiro, mas se você me explicar tudo converso com seu pai.”

O namorado da minha amiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora