Capítulo 1

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Era Domingo à noite e o céu despencava em forma de chuva. Eu estava em um bar que é muito frequentado por jovens adultos nos finais de semana. Era cerca de uma e meia da madrugada e as pessoas se apertavam no bar para que todos pudessem se sentar no balcão ou nas mesas para beber algo. Quando cheguei ao bar, que ainda estava vazio, sentei-me numa mesa quadrada com quatro cadeiras ao redor. Havia um outro rapaz de vinte e cinco ou vinte e sete anos sentado em outra mesa, nos fundos do bar. Ele bebericava sua cerveja e escrevia algo num caderninho de anotações. Ele poderia ser só um cara qualquer, como todos os outros presentes no bar, mas o seu estilo era do tipo que eu gostava, mas ainda assim, ele parecia alguém sozinho demais e, de pessoas sozinhas, bastava eu.

O garçom se aproximou da minha mesa e me trouxe o de sempre, um drink avermelhado. O garçom anotou na comanda o drink pedido e saiu depois que eu o agradeci. Bebi pausada e vagarosamente o drink enquanto o bar começava a ficar repleto de pessoas falando alto, muito alto. As pessoas iam em conjunto, com grupos de seis ou sete pessoas e as mesas redondas, que eram maiores, não possuíam cadeiras suficientes para os grupos, então, para amenizar a situação, eles pegavam as cadeiras de outras mesas que estavam vazias, ou pediam para os que estavam sozinhos nas mesas e as colocavam nas deles. Naquela noite, levaram as três cadeiras da minha mesa com o meu consentimento, é claro, afinal, eu não estava à espera de ninguém.

Ao longo da noite, foram levando uma por uma, as cadeiras do cara que me chamou a atenção. Sempre paravam a sua frente e diziam "Ei, posso pegar essa cadeira?" e ele levantava a cabeça, sorria pacificamente e dizia "Pode pegar!". Eu não gostaria de tê-lo reparado, não é uma coisa que faço com frequência quando vou aos lugares, mas por alguma razão, naquela noite a única coisa que eu gostaria de fazer, era ir à mesa dele e perguntá-lo o que tanto escrevia naquele caderninho. Eu estava mesmo prestes a fazer isso, mais alguns drinks ingeridos e eu poderia ir até lá. Porém, no meio desse meu pensamento ele fechou o caderninho, levantou a cabeça e observou lentamente o bar. Sua visão corria por todo espaço, delicadamente, visualizando pessoa por pessoa, e eu pude perceber como ele possuía traços incrivelmente interessantes. Ele olhou para mim bem no meu ato de observá-lo. Felizmente, consegui desviar o olhar rapidamente para não dar tanto o braço a torcer. Depois de olhá-lo novamente, percebi que ele falava com o garçom, enquanto pagava a conta. Ele não tinha nem bebido sua cerveja toda então, achei que ele poderia ficar lá mais dez minutos, pelo menos, mas ele pegou o caderno, levantou-se e passou por mim em direção à saída. O meu arrependimento de não ter falado com ele foi enorme e não pude entender a razão.

Depois disso, eu já pensava em ir embora, até que um sujeito de cabelo espetado, bafo de álcool e jeito malandro se aproximou e puxou conversa.

- E aí, belezinha! Qual o seu nome? - perguntou o sujeito.

- Eu não tenho nome. – respondi calmamente.

- Como não? É claro que tem. Diz aí, vamos conversar. – ele insistia de uma forma irritante, enquanto mexia nos meus cabelos.

- Eu já disse que não tenho nome. – falei, enquanto acenava para o garçom pedindo a conta.

O sujeito continuou a perguntar o meu nome enquanto me bajulava, falando alto e gesticulando de uma forma estrondosa. Ainda fiquei ali por alguns minutos aguentando aquele teatro, torcendo para que o garçom chegasse logo, até que ele chegou e eu paguei a conta. O garçom me entregou a nota fiscal e disse:

- Esse homem está te incomodando?

- Não importa, eu já estou indo embora.

- Não vai, não! Belezinha! – berrou o bêbado.

- Deixa ela em paz, volta para a sua mesa, senhor. – retrucou o garçom.

- Eu só quero saber o nome dela, custa? – disse com braveza o bêbado.

- Ela não tem nome! – respondeu o garçom.

Saí da mesa em direção à saída, o garçom voltou para o balcão e o sujeito para a sua mesa entupida de gente. Saí do bar, abri o guarda-chuva e subi a rua em direção ao meu apartamento, que não era tão longe dali, bastavam quinze minutos de caminhada, porém, debaixo da chuva tudo parece mais vagaroso e distante.

Ao chegar ao meu prédio desejei uma boa noite ao porteiro, subi as escadas até o segundo andar e deixei o guarda-chuva para secar ao lado do tapete. Descobri que o apartamento à esquerda já estava abrigando alguém, pois, há alguns meses os antigos moradores, um casal de idosos com um coelho, havia se mudado e o apartamento ficara vazio. Mas agora, o novo vizinho estava escutando Billy Idol numa altura baixa, porém, no silêncio da noite é possível ouvir até o suspiro de alguém que mora no andar de cima.

Ouvi por alguns segundos a música e entrei no meu apartamento. Zoé, a minha gata malhada de dois anos, estava sentada no sofá e, depois que tirei o casaco e o pendurei num cabideiro, fui até o sofá, deitei-me para ver um filme e acabei pegando no sono. 


Minha Querida Sem Nome IIOnde histórias criam vida. Descubra agora