Capítulo 6

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Acordei pela manhã, cerca de oito horas. Levantei-me e vi que Zoé estava dormindo em meus pés, fiz carinho nela e a ouvi ronronar baixinho. O sol entrava pelas cortinas do quarto e acentuava os meus quadros nas paredes. Vasculhei o quarto com os olhos e pouco a pouco fui me lembrando que pela noite, recusei beber com Oliver. Já que ainda estava cedo e ele provavelmente estivesse em seu apartamento, pensei em chamá-lo para tomar um café da manhã comigo. Essa minha ideia de aproximação me dava calafrios extremos pelo corpo, mas pensar nele me fazia sorrir levemente. Eu ainda tinha em minha mente o pensamento de que gostaria de conhecê-lo melhor, então, o que seria melhor do que convidá-lo para tomar um cafézinho? Então, lá fui eu. Depois de tomar um banho frio e vestir um vestido com estampa floral até o joelho, toquei sua campainha e esperei. Ele apareceu depois de alguns minutos, com o cabelo bagunçado e os olhos cansados.

- Ah, oi Oliver. Você estava dormindo? – perguntei, já tendo em mente a sua verdadeira resposta.

- Não, não... Na verdade eu estava escovando o Luke.– coçou os olhos.

- Entendi. Você quer tomar café comigo ou algo assim? – perguntei.

- Claro, claro. Me dê só um minutinho. – e entrou.

Esperei na porta, que estava semiaberta, por alguns minutos e logo ele surgiu com os cabelos penteados, jeans, camisa e chinelo. Oliver trancou a porta e guardou a chave no bolso de trás da calça. Enquanto descíamos as escadas ele tentou manter uma conversa e meu sorriso bobo era completamente visível para qualquer um.

- E então, onde vamos? – perguntou Oliver.

- Tem uma cafeteria no andar de cima da biblioteca onde trabalho... – respondi.

- Ah, você trabalha numa biblioteca? Que interessante. Eu gosto de bibliotecas, de lojas de sebo, de discos antigos, de cheiro de coisa envelhecida. – riu.

- Devemos dar os braços. – ri – Eu também gosto muito de tudo isso. Enfim, a cafeteria é bem aconchegante, cheia de móveis de madeira antigos, cheiro de café por todo o espaço e tem um jukebox lá que só às vezes as pessoas ligam, mas que em si colabora muito para a decoração do espaço.

- Posso imaginar.

Continuamos andando até subirmos as escadas da porta ao lado da entrada da biblioteca e entrarmos na cafeteria que estava com um cheiro magnífico de café novo e pães de queijo que acabavam de sair do forno. De cara percebi que ele apreciou o local, que estava um pouco cheio, por conta do horário. Apesar da sua face sem grandes reações, seus olhos pareciam brilhar ao olhar o espaço.

Depois de finalmente encontrarmos uma mesa vazia, nos sentamos e fizemos o nosso pedido. Diferente do que eu imaginava, ele não pediu café, pediu suco e torradas com queijo. E bom, eu pedi o bom e velho café quentinho com pães de queijo de casquinha crocante.

- Ué, você não gosta de café? – perguntei quando o garçom se retirou da nossa mesa.

- Olha, na verdade não. Eu nunca consegui gostar e não sei o motivo. – riu enquanto passava a mão nos cabelos médios.

- Você é a primeira pessoa naquele prédio que não gosta de café. – revelei com bom-humor.

- Sério? Nossa. Não sei dessa fissura das pessoas por café. Eu gosto mais de cerveja. – falou, como se a comparação fizesse algum sentido. Bom, sei lá, as pessoas não tomam cerveja no café da manhã.

- E eu não gosto nem um pouco de cerveja. – falei.

Ele olhou para mim boquiaberto, revelando talvez a sua remota lembrança de que noite passada havia me oferecido cerveja para beber.

- Por isso não quis beber comigo! – disse Oliver, levantando as sobrancelhas.

- Não, não é isso! Eu estava realmente cansada, mas se estivesse disposta, eu beberia. – retruquei.

- Beberia algo que não satisfaz seu paladar só para estar em minha companhia? Nossa, até que eu sou bem importante. – gargalhou.

- Cala essa boca! Eu só beberia um pouco, e só para não parecer mal educada. – respondi com um sorriso amarelo.

Ele me olhou no fundo dos olhos e levantou o dedo para chamar o garçom, sem tirar os olhos de mim. Quando o garçom se aproximou com a sua cadernetinha em mãos, Oliver fez um novo pedido.

- Cancela o meu suco e troca por um café expresso, por favor? – disse.

- Sim, senhor. – anotou o garçom.

Olhei-o sem entender o motivo da mudança, já que não gostava de café.

- O que foi isso? – perguntei.

- Você me chamou para tomar café, então, por educação eu deveria saborear aquilo que te satisfaz para estar em sua companhia. – explicou.

- Mas eu não espero que faça isso, sério. Peça o suco. – respondi.

- Não, quero café... Só hoje. E quando você for beber comigo, vai experimentar a cerveja.

- Tudo bem, Oliver. – ri.

Conversamos mais um pouco sobre algumas banalidades e a comida chegou. Saboreamos cada gota de café e cada farelo de pão como se aquele momento fosse inacabável. Depois de comermos, ele limpou a boca com o guardanapo de papel e percebeu que na mesa repousava o livreto feito por seu Carlos, com os meus textos. Ele folheou e leu rigorosamente cada parte de cerca de três das minhas crônicas enquanto eu terminava de beber o resto do café que ainda continha em minha xícara.

- Nossa, boas essas crônicas, né? – disse ele.

- Não sei, são? – brinquei.

- São sim. Quem será que escreveu? Não tem o nome da pessoa aqui. – perguntou.

- Fui eu. – respondi.

- Sério mesmo? Caramba, que demais!

Expliquei-o a razão dos meus textos estarem compilados naquele livreto e ele ficou sorridente ao saber, até que me fez uma pergunta que mudaria o rumo do café da manhã e me faria ter de explicá-lo mais coisas.

- Você deveria pedir ao seu chefe para colocar o seu nome aqui na capa, já que foi você quem o escreveu. Não é justo deixar algo seu aqui sem o devido registro.

- É que é um pouco complicado sabe... – eu disse.

- Me explica, eu tenho muito tempo.

- Não tenho nome, por isso não há autora neste livreto. – falei sorrindo de lado, envergonhada.

- É por isso que também não falou o seu nome na reunião de moradores do prédio! – retrucou.

E só pude pensar "e lá vamos nós de novo".



Minha Querida Sem Nome IIOnde histórias criam vida. Descubra agora