Capítulo 13

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Durante aquela noite, sonhei novamente com Oliver. Todos esses sonhos começaram a me deixar completamente paranoica. Mesmo que eu quisesse esquecê-lo durante o dia, à noite não seria possível mandar em meus sonhos. Eu já havia me apegado e sabia disso, mas eu nunca fui de gostar tanto de uma pessoa que eu mal conhecia, então como isso poderia estar acontecendo agora?

Não importava o que acontecesse, eu simplesmente não conseguia entender a razão do beijo ter sido recusado. Ele parecia gostar de mim, parecia se importar. Talvez eu tenha entendido tudo da maneira errada ou talvez, ele já tivesse uma namorada. Mas conversamos sobre tantas coisas pessoais. É claro que eu sempre falei bem mais de mim do que ele falou de si, mas isso não me fez pensar que ele não confiaria em mim. Ele não falou nada de ter uma namorada, então talvez não tivesse mesmo. Talvez ele só não achasse que fosse a hora certa de deixar as coisas mais sérias.

E o tempo passou. Haviam dois meses desde que o "quase" beijo aconteceu e, desde aquele dia as coisas nunca mais foram iguais. Parecíamos mesmo só vizinhos de um prédio antigo e com cheiro de mofo pelos corredores. Não tomávamos mais café juntos e nem saíamos. As coisas foram esfriando e eu só conseguia ficar mal dia após dia, me sentindo estupidamente culpada por ter estragado tudo com uma pessoa que eu me importava.

As conversas foram diminuindo e chegou a um ponto que ficamos cerca de duas semanas sem se falar e até os cumprimentos na escada estavam rápidos e chatos. Mas ainda assim, eu não conseguia chorar. Algo em mim estava completamente trancafiado, amordaçado, esquecido. Meu coração tinha se transformado em um freezer e não chorar, para mim, era uma terrível tortura emocional. Não conseguir botar para fora os meus sentimentos era a pior coisa do mundo.

Então eu decidi que se não haveria choro, haveriam palavras e mesmo tudo estando tão estúpido entre mim e Oliver, decidi escrevê-lo um texto, uma carta, mais ou menos. Talvez assim as coisas se tornassem menos odiosas e menos esquecidas. Talvez assim eu pudesse aos poucos retomar a nossa amizade.

Então eu escrevi algo meio assim:

" Oliver,

Você não é só o meu vizinho. É sério. Não é só o cara que eu vi no bar e por acaso também mora ao lado. Você é meu amigo e sabe de todos os meus medos, anseios, tristezas, vontades e sonhos. Sei que de vez em quando, o meu jeito destrambelhado e mirabolante estraga tudo, mas eu não posso deixar de afirmar que você fez desses meses os melhores que eu já vivi nessa vida.

A pior parte de mim não é ter um nome. A pior parte de mim é não ter alguém como você ao meu lado. Eu gosto do modo como me trata e do modo como me ouve, sem às vezes sequer dizer uma palavra. Eu sei que vomito meus sentimentos constantemente e ninguém deveria aguentar uma pessoa tão sentimental e às vezes tão carente como eu, mas as coisas mudaram tanto desde que você se tornou meu amigo. Olha, pode dizer que agora sou até menos depressiva!

Os dias tem mais graça, sabia? E esse ano eu conheci um monte de banda só por sua causa! E a gente alugou filmes e tomou café juntos e eu até aprendi a gostar (mais ou menos) de cerveja. A gente também conversou sobre um monte de bobagens e sobre ter discos de vinil empilhados em ambos os apartamentos. E sei lá, a gente falou muito sobre o Luke e a Zoé (mesmo que eles nunca tenham se visto). E não se esqueça da trança torta e desfigurada que você fez em meu cabelo.

Sabe, eu sei que da última vez fiz tudo errado, mas não estou disposta a repetir as mesmas baboseiras de sempre. Gosto de você e quero tê-lo por perto. Desculpe-me.

Beijos da (sua) Ella. "

E passei a carta por debaixo da sua porta.



Minha Querida Sem Nome IIOnde histórias criam vida. Descubra agora