Bom, se acham que o fato de eu ter entendido tudo e ter a certeza de que não haveriam mais chances entre nós não me fez chorar, saibam que estão cruamente equivocados. Chorei, sim. Mas o choro passa e a gente descobre que ao longo dos dias fica impossível chorar de maneira ininterrupta, então eu parei.
As coisas, como sempre, continuaram iguais. Oliver não se aproximou, o que apenas me confirmou a certeza de um beijo vazio. Bom, eu também não tentei me aproximar, afinal, sabia da frieza que crescia no coração de ambos. Até que um dia, chegando do trabalho, vi a porta de Oliver semiaberta e seu apartamento estava praticamente sem móveis. Haviam apenas alguns jornais velhos e caixas pelo chão, uma vassoura encostada na parede e um cheiro tremendo de pó no ambiente.
Andei devagar e abri a porta até o fim, vendo Oliver sentado no chão, fechando caixas com fita adesiva. Demorei um pouco para entender o que ele fazia ali e onde haviam ido parar os móveis, mas ao ver seus olhos, dessa vez foscos, pude compreender que ele estava indo embora. Ele me olhou de um modo profundo e seus sentimentos pareciam tão bagunçados que não decifrei sua alma.
- Vai embora? – perguntei, encostada na porta e olhando para o chão.
- É.. Vou morar com Ana Lúcia... precisamos de um lugar maior, agora. – respondeu.
- Ah, claro. Isso é ótimo. – falei, fitando seus cabelos médios.
- É. Você vai ficar bem, não vai? – perguntou Oliver.
- Sempre esteve tudo bem por aqui, estando eu sozinha ou não. – respondi, sorrindo fraco.
Oliver largou a fita, levantou-se, colocou os cabelos para trás das orelhas e disse:
- Sei que deveria ter confiado a você cada um dos meus detalhes... – disse Oliver, sem terminar.
- Oliver, está tudo bem. Fica tranquilo. – falei depressa.
- Ella, eu preciso que você saiba que gosto de você. Você foi minha melhor amiga, a melhor vizinha, a melhor cronista que já conheci e eu não posso deixar de dizer que eu sempre me importei com você, desde o momento que nos conhecemos. Então, fica bem... eu preciso ir embora sabendo que está tudo bem. – finalizou Oliver.
- Está tudo bem. Eu vou sentir sua falta, mas passa. Sabe, eu não deveria ter me apegado tanto assim a você, muito menos ter pensado que haveria algo entre nós assim, do nada. – falei.
- Você não tem culpa de nada. Se não houvesse alguém a possuir o meu coração, saiba que eu o guardaria para você. – falou Oliver, me abraçando apertado.
Nos abraçamos por alguns minutos que pareceram eternos e seu cheiro ficava em mim como uma cicatriz de um machucado de infância. Senti a textura do seu rosto e dos seus cabelos em mim, senti seus lábios beijando as maçãs do meu rosto e senti nossos corações batendo forte, como um martelo que destrói facilmente um vaso de cerâmica. Pela primeira vez, senti que meu chão sumia aos poucos e era em Oliver que eu gostaria de me apoiar.
- Oliver, obrigada por me ouvir. Obrigada por ter sido o meu amigo. – falei, ainda em seus braços.
- Obrigada por ser quem é... Ella. – falou.
E no dia seguinte, Oliver foi embora.
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Minha Querida Sem Nome II
Roman d'amour"Ela", "Você", "Moça" é uma jovem adulta que mora com sua gata Zoé em um apartamento na cidade grande. Ela trabalha em uma biblioteca e gosta de escrever crônicas em seu tempo livre ou então ir a um bar perto de sua casa para beber seu drink favorit...