Capítulo 33

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Assim que entramos observei cada canto daquele lugar que me parecia tão familiar. Era uma floresta, as árvores tapavam a vista para os gritos de felicidade de alguém. Puxei o Keyllan que fez questão de olhar para mim e abanar a cabeça em sinal de reprovação. Continuei a andar com a mão dele agarrada à minha. Segui a voz da menina que parecia eufórica. 

- Fly não vás. - Ele disse puxando-me para ele para que eu não pudesse andar. 

- Porque não posso saber do meu passado? - Perguntei em tom de ataque.

- É passado! O que interessa o passado? - Perguntou de uma maneira que pareceu ser uma pergunta retórica. 

- O passado interessa-me sim. Se não queres vir fica ai. - Disse continuando o trilho de terra. 

Ele não disse nada, mas seguiu-me. 

Ouvi a voz da menina mais perto, o que me fez andar mais rápido. Algo em mim dizia que eu tinha que a ver. 

Assim que a vi os meus olhos reconheceram-na instantaneamente. As suas mãos pequenas teimavam em fazer cocegas num rapaz que pouco mais velho que ela era. Os seus olhos azuis olhavam com ternura para o menino que tinha os olhos cinzentos mais fascinantes do mundo, eles eram de uma tonalidade clara, mas havia pequenas partes que a cor roxo manchava o seu cinzento límpido. 

- Um dia vais casar comigo. - Dizia a menina abraçando-se rapaz loiro. 

Ele apenas retribuía o abraço, mas na sua cara havia um sorriso de orelha a orelha.  Olhei para o Keyllan que não tirava os olhos da cena. O seu rosto mostrava-se sem qualquer emoção, mas o seus olhos tornavam-se cada vez mais cinzentos. E foi exatamente nesse momento em que eu estava distraída, que vi a menina cair. O seu corpo inerte no chão e o seu rosto completamente desfigurado pela bola de fogo que alguém tinha atirado no ar. 

- Porque fizeste isso? - Disse o menino para o homem que estava no ar. 

- Fiz o que tinha que ser feito! - Disse o homem, que se mantinha lá no alto sem dar para ver o seu rosto. 

O menino pós as suas asas de fora, tornando o seu cabelo negro e a sua pele mais clara. Um rabo que teimava em nascer fez um buraco nas calças que ele usava e serpenteou tão rápido que parecia uma cobra zangada. Ele levantou voou em direção ao homem, fazendo uma bola branca, que quase me ofuscou. O homem esquivou-se e deu um murro no rapaz, este caiu indo de encontro ao chão. Ele voltou a levantar-se e desta vez não usou nada, apenas vi o homem agarrado a sua cabeça, como se a dor fosse insuportável. O rapaz fez mais uma bola e desta vez, esta foi diretamente ao coração do homem, mas rapidamente o ferimento se regenerou. O homem desapareceu e passado um segundo estava atrás do rapaz, este deu-se conta tarde demais e o homem partiu-lhe o pescoço. O rapaz caiu em terra e o homem desapareceu. 

Olhei novamente para a menina que estava irreconhecível e o meu coração bateu forte no meu peito, ela estava morta. Eu tinha morrido, provavelmente mais vezes do que imaginara... E podia morrer novamente, ela... eu...
O menino levantou-se e foi até ao meu corpo moribundo, deu-me a mão e gritou, gritou tão alto que os lobos uivaram e o céu que estava tão azul , tornou-se no cinzento escuro do seu olhar e chorou com ele, lavando a tragédia da sua alma despedaçada. 

O Keyllan pegou-me no braço e levou-me até ao portal. 

- Não voltes a fazer isto, nunca mais! - Ele disse e a sua expressão era vazia, parecia que tinha envelhecido anos, os seus olhos estavam com olheiras grandes e o seu rosto parecia cansado, como se não dormisse há dias. 

Assim que terminou de falar, deu-me a mão e passou pelo portal. Desta vez os braços não me deram conforto algum e eu  só pensava no quanto o Key tinha sofrido com as minhas mortes. 

Gotas de LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora