Capítulo 43

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– Este beijo foi o último, eu sei o que quero e não quero estar metido nessa indecisão. Se queres saber mais sobre nós terá que ser por ti, não por mim. – Tirou-me a pena e eu fiquei a olhar para ele sem perceber a ideia. – Vou-te ensinar tudo o que conseguir. Vamos falar por telemóvel como pessoas normais. – Sorriu. - Acho que deves conversar com o Laík, por mais que vocês tenham as vossas divergências vão ter que ultrapassar isso, há matérias que será ele a dar-te.

– Matérias? – Fiquei confusa. – Vou ter disciplinas como na escola?

– Bem eu não diria como na escola... Mas tens coisas para aprender. A história do mundo, a controlar os teus poderes, distinguir demónios de anjos e por ai fora.

– Vou saber porque andam atrás de mim? – Senti-me esperançosa.

– Não necessariamente. Isso não posso ser eu a dizer-te porque eu não sei. Quem está encarregue de te guardar não sou eu. É o Laík, supostamente ele deveria saber o que se passa. Mas eu não sei até que ponto é que ele sabe.

– Mesmo que ele soubesse nunca me contaria. Mas fico feliz por aprender!

– Ainda bem. Para já estarás a aprender connosco. Mas eu acho que deverias mesmo era ir para uma escola celestial. Vou mandar um aviso ao Laík para nos encontrarmos é melhor.

Ele pegou no telemóvel e ligou ao Laík, estava a espera que ele usasse os poderes dele, mas não. Estava concentrado a falar com o demónio, como se para ele ligar para as pessoas fosse a coisa mais normal do mundo. Eu até deveria estar a coscuvilhar a conversa, mas a tagarelice na minha cabeça sobre todas as coisas que estavam a acontecer impediu-me de ouvir a conversa. Tinha gente atrás de mim, tinha beijado o Eric e ele tinha desaparecido, tinha conhecido Deus, ele sabia o que ia na alma, beijado o Keyllan e por fim ia ter aulas com o anjo e com o demónio. Estava perdida, mas ao mesmo tempo estava feliz, eu ia saber mais. Nesse dia percebi que teria que deixar os meus sentimentos dentro de uma nuvem, concentrar-me nas coisas que precisava para sobreviver.

– Vamos a casa do Eric.

– Não é longe. Vamos na minha mota. – Disse já a sair do quarto.

Eu já não via o Eric há algum tempo, tinha saudades dele. Não sabia se o voltaria a ver. Ir a casa dele para ver o Laík fazia com que algo em mim doesse, por mais que eu não quisesse pensar em certas coisas era demasiado difícil, ele não estava lá. Liguei a mota e o Keyllan sentou-se e reticente pôs as suas mãos a volta da minha barriga. Não durou quase nada, a casa do Eric era perto da minha. Saí da mota e olhei para a porta. O Keyllan já estava a ir para lá, mas eu continuei ali a olhar como se algo me impedisse de entrar. Vi o Eric a abrir a porta, o meu coração acelerou como se fosse sair do peito, eu não percebia como podia sentir isto.

– Vais ficar à porta? – Disse o Eric

Apeteceu-me correr para ele e abraça-lo, não queria mais nada. Apenas sentir que ele estava ali.

– Fly! – Chamou o Keyllan.

Não conseguia parar de olhar, de pensar que era ele ali. Mas seria realmente ele? Eu nem tinha reparado nos olhos, poderia não ser ele. Dirigi-me para a casa.

– Olá Laík. – Disse desapontada assim que lhe consegui ver a cor dos olhos.

– Vamos para a sala.

Segui-os, eu sabia onde era a sala, mas era como se aquela casa sem ele não fosse a mesma.

– O Eric? – Perguntei assim que os vi sentarem-se no sofá.

– Não é que me agrade, mas temos que falar nisso também. Não sinto o Eric. – Fiquei sem ação. O Keyllan levantou-se e foi para perto do Laík.

– Como assim não sentes o Eric?! – Gritei, enquanto me ia aproximando dele. – Isto é tudo culpa tua! Se tu não tivesses aparecido ele estava bem. O que se passa contigo?! Tu és doente! – Atirei com um copo que estava em cima da mesa, mexi as mãos num gesto involuntário e tudo à nossa volta ficou turvo.

– Para Fly! – Ouvi o Keyllan dizer.

– Eu não consigo parar! – Sentia o poder dentro de mim vibrar, estava a encher-me, como se eu precisasse libertar tudo.

– Para Fly. – Sussurrou-me o Laík, as mãos dele pegaram nas minhas. Ele fez má cara como se eu o estivesse a queimar.

– Sou eu, para.

– Não és não, tens os olhos pretos, não me enganas seu monstro! – Continuei a queimar-lhe as mãos.

– Olha para mim! – Disse-me ele, mas os olhos estavam pretos.

– Eu odeio-te! Desaparece! – Gritei, a raiva dava-me poder, fiz força para expulsar a energia toda para o corpo dele. E não senti mais nada. Voltamos à sala, estava a agarra-lhe nas mãos com toda a minha força, estava cheia de sangue dele. Olhei para o Keyllan, mas ele estava perplexo a olhar para nós. Larguei as mãos do demónio e fiquei a olhar para as minhas. Deixei-me cair, mas ele apanhou-me. Comecei a chorar.

– Calma... Está tudo bem... – Disse-me ele.

– Não, não está! Larga-me! Deixa-me! – Tentei dizer entre o choro. Virou-se para o Keyllan e mimou algo. Ele fez cara como quem não sabia.

Larguei-me dele e sentei-me no sofá. Como iria conseguir ter aulas com ele? Como ia conseguir olhar para ele sem pensar no Eric e na dor que era nunca mais o ver. De saber que era por causa dele que o Eric não existia mais, em lado algum. Meti a cabeça nas minhas mãos como se esta me fosse rebentar.

– Se eu não me tivesse alimentado das emoções dela eu não sei o que aconteceria. – O Laík sussurrou.

– Já devias ter sarado.

– Mas não está a sarar, nem depois de me alimentar.

– Aquela energia não era minha. Ele não esta a curar porque era magia muito antiga e negra.– Disse sem pensar, a minha voz estava rouca. Eles olharam para mim como se eu fosse um ovni.

– Como sabes isso? – Perguntou o Keyllan.

– Só sei que sei. – Olharam os dois para mim. – Ele levou-me a raiva... agora só sinto a tristeza.

– Posso-te levar a tristeza, se quiseres. – Ele disse calmamente.

– Não! Tu já me roubaste demasiado, queres-me roubar o que sinto também?! – Olhei acusadoramente para ele.

– Sou o teu guardião devias ter mais respeito por mim. A culpa disto tudo não é minha. Mas isso também não me interessa. Não preciso que gostes de mim. – Vi-lhe os olhos a tremeluzir, como se mudassem de cor muito rapidamente.

– Ele está aí?! – Levantei-me ia em direção a ele, quando o vi cair.

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Olá meus anjos, espero que estejam a gostar.


Gotas de LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora