Gotas de Luz

Capítulo 44

Levantei-me do sofá rapidamente, atropelando-me nas próprias pernas para chegar perto dele. A minha vida estava a correr, eu não conseguia fazer nada, sentia-me impotente, era uma trás da outra. Assim que cheguei o Keyllan pôs-lhe a mão na cabeça. Tentei pô-lo no meu colo, mas ele era tão pesado. Ainda assim consegui por a sua cabeça nas minhas pernas o Keyllan ficou imóvel, como se estivesse hipnotizado.

– Laík acorda. – Sussurrei.

– Calma, já sei o que vou fazer. – Disse o Keyllan.

Fiquei quieta a ver o que ele ia fazer, sentou-se e deu a mão ao Laík, a respiração dele estava suave, como se ele estivesse a dormir e a ter um sonho bom. A cara estava com uma neutra, parecia um bebe, parecia o meu Eric. Mas não era, não era mais...

– Vou estar fora. Não te assustes, que voltamos.

E assim o vi ficar com os olhos sem brilho, como se tivesse um morto sentado na sala. Fiquei sentada a olhar para eles por horas. Eu não conseguia fazer nada, não os queria deixar, doía-me tudo, mas ainda assim lá estava eu de pernas cruzadas com a cabeça do Laík em cima das minhas pernas. Dei-lhe a mão, estava quentinha. Dei uma olhadela nele, passei a minha mão pelo seu braço nu, a tatuagem estava ali, toquei nela de novo, desta vez ele não podia discutir comigo. Fiz-lhe festinhas no rosto, tudo o que queria era o Eric. Os seus lábios estavam entreabertos, como se estivessem a dizer algo, tentei chegar o ouvido perto, mas eu não conseguia perceber o que ele dizia. Levantei-lhe cuidadosamente a cabeça no chão, fui buscar uma almofada, acomodei-o e fui buscar um copo de água. As minhas pernas estavam tão estranhas que parecia que não sabia andar, peguei num copo e liguei a água, voltei-o a pousar e molhei a cara. Como se ela me fosse livrar dos meus fantasmas, daquilo que eu não conseguia combater. Sequei a cara com um pano que lá tinha e bebi a água. As minhas mãos tremiam, eu tentava acalmar-me para não chorar, dizer-me que tudo ia correr bem. Levei a água comigo e sentei-me perto deles outra vez. O keyllan continuava na mesma posição, os olhos continuavam sem vida. Levantei-me de novo e pus-me a andar de um lado para o outro, estava a ficar muito impaciente. Ouvi um estrondo, olhei para eles a ver se se passava algo, o Laík não parava de bater no chão e o Keyllan estava a respirar com dificuldade. Corri para perto deles.

– Keyllan estás bem? – Ele olhou para mim e assentiu que sim.

Vi a sua respiração a voltar aos poucos ao normal. O Laík continuava a bater com a mão no chão, tentei faze-lo parar, mas assim que lhe toquei no braço senti uma energia passar-me pelo corpo, algo que me deixou paralisada, que me fez sentir o inferno na terra, todo o meu corpo estava a queimar, sentia tanta dor que não sabia se havia alguma parte do meu corpo intacta. Gritei, a dor era tanta que eu não conseguia ver, não conseguia perceber o que se estava a passar. A dor parou e tudo o que senti foi um corpo debruçado sobre mim. Tudo o que senti foi o seu cheiro ao meu redor, as suas mãos na minha cabeça, alguém a dizer-me que estava tudo bem. De início não reconheci, mas aos poucos fui voltando a mim e percebi que era o Laík que estava agarrado a mim. Tentei-me libertar, primeiro protestou, mas depois percebeu e largou-me. Respirei como se tivessem tirado o ar e viu-o afastar-se de mim. Não conseguia falar, estava em choque. O Keyllan trouxe-me um copo de água com açucar e pediu-me que o bebesse. Assim fiz, os meus braços estavam estranhos, como se não me quisessem obedecer, estava com pouca força. Ele pôs-me o copo na mão e ajudou-me a beber. Assim que bebi um pouco e me acalmei tentei por as ideias em ordem e tentar perceber o que se tinha sucedido.

– O que aconteceu aqui? – Olhei para os dois, que me fitavam de olhos arregalados.

– Vou-te contar tudo o que sei. – Disse o Laík aproximando-se de mim