Capítulo 41

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Quanto mais olhava para aquele ser que me tocava, mais as coisas pareciam irreais. O toque dele era quente, como se fosse uma chama acesa, não magoava, não ardia, mas era quente e aconchegante. Ele retirou a mão e eu fiquei sem saber que dizer, não porque me sentia atraída ou pelo que ele tinha dito, mas sim pela parecença absurda dele com o Keyllan. Os lábios pareciam retirados de um e colados no outro, os olhos apesar de multicolores tinham o mesmo formato, quase que o via ali... Nesse momento senti um vazio dentro de mim, um aperto no meu coração, como se a saudade me angustiasse ao ponto de precisar de o ver naquele momento, como se vê-lo fosse urgente. Eu queria manter a calma, mas eu estava a sentir-me impotente, como se fosse um ataque de pânico.

­ – Porque vieste cá? – Perguntou o homem que estava a minha frente. E eu foquei-me naquela pergunta para me acalmar, sabia que precisava focar-me na conversa para me distrair do que estava a sentir.

– Não sei. Não percebo nada, não me percebo. – Sentei-me com a frustração que se aflorava em mim.

– Um dia vais entender, mas ainda não estas preparada. Sinto isso.

– Para vocês nunca estou preparada para nada! Quando estarei preparada para alguma coisa?! Vocês brincam comigo! Fazem de mim um fantoche! Não me ajudam, só pioram a situação! Eu estou cansada que pessoas estranhas andem atrás de mim e ter que ser protegida por forças que eu não percebo! Cansada de saber meias verdades, de entender meias verdades! Eu quero saber tudo! Eu quero proteger-me, saber com quem estou a lidar! Saber o porque das coisas! – Levantei-me sentindo o peso do mundo em mim, ele apenas olhava para mim, o seu semblante não mostrava nada.

­– Não interfiro no livre arbítrio dos humanos, entendo perfeitamente o facto de quereres saber o que te diz respeito, mas isso não diz só respeito a ti, não são coisas simples de serem compreendidas, nem são coisas fáceis de se explicar. Eu não sigo caprichos Fiona. – Parecia tão velho, como se tivessem nascido rugas invisíveis na sua cara completamente lisa, mas severa. – Pedirei ao Keyllan para te ensinar tudo o que ele puder. Saberás tudo.

Sentia-me derrotada, não conseguia entender, era a minha vida! Porque é que eles não me contavam? Apetecia-me chorar, aquele sentimento de impotência era horrível, parecia que eu não era nada. "Keyllan..." 

– Sabes como o mundo foi criado? - Disse interrompendo a minha mente barulhenta.

– Uma explosão criou tudo. – Respondi utilizando o que aprendi na escola.

– Sabes o que os cientistas dizem não está tecnicamente errado! – Ele fez um pequeno sorriso, esperei que continuasse a falar, mas ele parecia estar a espera da minha resposta.

– Onde fica Deus nisto tudo? E como uma explosão acontece do nada?

– Pensa em duas forças a lutarem entre si no mesmo corpo. O mal e o bem descoordenados sem alguém para os equilibrar, duas forças brutas a ir contra a outra para se separarem. Se tu puxas para um lado e a outra pessoa para outro o que acontece? – Perguntou-me

– A corda rompe.

– Foi exatamente isso que aconteceu. Eles eram somente energia, mas começaram a lutar para se separar uma da outra, a energia negativa e a positiva. Assim se deu a explosão que os cientistas falam, não foi a criação do mundo. Foi a criação dos dois primeiros seres do universo, mesmo antes de haver terra por onde eles pudessem andar. E através da energia cada um deles construiu o seu mundo e assim passaram a existir três formas de vida diferentes. Vocês humanos chamam de Inferno e de Paraíso dois deles, depois existe o que vocês humanos habitam. Parece tudo o que vocês sabem, mas a realidade não são contos. Prepara-te Fiona, porque a verdade magoa. Em breve saberás mais. – Ele virou-me as costas e começou a andar.

– Espera! – Gritei, mas em vão.

Ele não estava mais lá. Tudo o que ele tinha contado era parecido com a bíblia, não é como se fosse grande novidade, tirando a parte que eram energias, que só depois se tornaram pessoas. Eram demónios então. Eu iria descobrir tudo, eu tinha que descobrir tudo. Fiquei ali especada a olhar para o nada, para as nuvens. Dancei para poder voltar para a minha casa, para o conforto da minha cama. 

Gotas de LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora