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Evelyn

Agora que eu e William nos havíamos entendido como já devíamos ter feito, o medo que eu sentia por ele desapareceu, mas não por completo. Eu estava reticente e tinha medo que, se alguém o provocasse, ele matasse alguém. Não podia fingir que não tinha medo e se calhar, ele já tinha notado isso.

Levantei o meu corpo da sua cama e passeei pelo seu quarto, passando os meus pálidos e finos dedos pelos seus móveis até parar na pequena secretária presente no seu quarto. Esta encontrava-se cheia de papéis e livros, assim como lápis e canetas. Os meus dedos curiosos remexeram nos papéis e logo as grandes mãos de William me agarraram e me proibiram de mexer nas coisas.

- Deixa-me cuscar. – Choraminguei na brincadeira e ele negou com a cabeça, agarrando as minhas mãos e entrelaçando os nossos dedos.

- Noutra altura, pode ser? – Ele perguntou, dando-me um sorriso aberto, algo que fez o meu coração acelerar.

Eu apenas assenti com a cabeça, não sendo capaz de responder pelas minhas palavras.

- Agora vamos comer qualquer coisa, estou com alguma fome. – Murmurei sorrindo e afastei-me ligeiramente dele, caminhando para a porta. Abri a mesma e saí.

Ouvia os passos de William bem atrás de mim. Os seus passos eram quase inconfundíveis, dado o facto de que ele era bem mais alto do que eu. As suas pernas longas obrigavam que ele desse passos mais longos e menos passos que eu. Eu andava de forma apressada, por ser pequena. Muitos dos rapazes ali internados, quando passavam por mim, olhavam para mim de forma aterrorizada, talvez por William estar bem atrás de mim, como se fosse meu guarda-costas.

O velho Amilton, ao ver-me a partir da sala de convívio, acenou para mim. Ele não temia William, isso estava visível. Ele mantinha o seu sorriso fraco nos seus lábios.

- Querida Evelyn. – Ele murmurou no seu tom baixo e entusiasmado, beijando as costas da minha mão.

- Olá. – Dei um sorriso e beijei a testa do velho homem.

- Vejo que trazes companhia. – Ele sorriu e o seu olhar pesado desviou-se para Will, que nos encarava de forma atenta. – William.

- Este é o Amilton. – Murmurei para o rapaz atrás de mim. Olhei de novo para o velho. – Como já estão apresentados, comecem um jogo de xadrez enquanto vou buscar algo para comer. – Gargalhei docemente, arrancando uma gargalhada de Amilton.

Agarrei na mão de William e fiz com que se sentasse à frente do velhote e afastei-me. Olhei para ambos, que se entreolhavam e caminhei para o refeitório. Quando voltei com algo para comer, reparei que ambos conversavam e não consegui evitar, acabando por ficar à escuta.

- É bom que não a magoes também, William. – Amilton murmurou para o rapaz.

- Não pretendo fazê-lo. – Ele respondeu-lhe de forma calma, acabando com o jogo, ao ver-me.

Aproximei-me novamente e fiz sinal para ele me seguir para onde nós podíamos comer. Sentei-me e pousei o meu tabuleiro à minha frente. Ele sentou-se à minha frente também, olhando para mim. Agarrei no bolo e dei uma dentada, olhando para William.

- Fala-me de ti. – Murmurei docemente, com a boca ligeiramente cheia, olhando para ele.

- Não há muito para falar. – Ele murmurou de forma calma, encostando-se atrás, cruzando os seus braços.

- Oh, deve haver algo. – Suspirei.

- Depende do que queres saber, boneca.

- Hm. – Pensei. – Os teus pais? – Perguntei, mordendo o bolo novamente.

A sua expressão calma e doce mudou rapidamente para uma zangada. Ao ver que isso fora resultado da minha pergunta, repensei e a minha curiosidade aumentou, porém, não me queria meter.

- Desculpa. – Sussurrei, pousando o bolo no prato.

- Fala-me tu de ti, Evelyn. – Ele murmurou no tom frio de sempre.

- D-De mim? – Balbuciei. Um sorriso de canto nasceu nos meus lábios. – Depende do que queres saber. – Brinquei com ele, conseguindo arrancar-lhe um sorriso.

- Diz o que tu quiseres, tanto me faz. – Ele sorriu.

- Então... - Pensei, olhando para ele. – Eu tenho 18 anos. Ahm... - Suspirei.

- Que fazes aqui, Evelyn? – Ele interrompeu-me, encarando-me.

Eu apenas engoli em seco. Não sabia o que responder. Eu tinha vergonha dos meus problemas, das minhas doenças. Não queria compartilhá-las com mais ninguém. Ao ver-me nervosa, esticou uma das suas mãos na minha direção, tocando numa das minhas.

- Calma, não precisas de responder. – Ele murmurou num tom doce e calmo, não parecendo o mesmo William que falara comigo há pouco. – Também fico nervoso e chateado quando me perguntam acerca dos meus pais. – Explicou, acariciando a minha mão.

Eu olhei para ele, deixando a curiosidade mostrar-se. Ele entrelaçou os nossos dedos de forma carinhosa e desviou o seu olhar para as nossas mãos.

- A minha mãe morreu com cancro. Foi demasiado doloroso para mim, sabes? – Ele disse tristemente, soltando um suspiro. – Eu era apenas uma criança e a minha mãe era a minha heroína. Mas depois de isso acontecer, o meu pai começou a dar uma de alcoólico e quando chegava a casa, depois de muito beber, batia-me. – Murmurou olhando agora para mim. – Eu fui crescendo, apanhei muito sem nunca haver um motivo real mas acabei por... - Ele fez uma pausa, abanando a cabeça.

- Acabaste por? – Perguntei deveras curiosa.

- Acabei por matá-lo, Evelyn. Eu matei o meu próprio pai e se queres que te seja sincero, não me arrependo. – Ele disse num tom relativamente calmo, sem nunca desviar o seu olhar do meu. – Após matá-lo, comecei a matar mulheres. Talvez frustração, eu não sei. – Encolheu os ombros.

O medo por este rapaz moreno à minha frente aumentou. O meu coração batia a uma velocidade extraordinária, que não achei possível de acontecer. A minha respiração estava acelerada e isso notava-se.

- T-Tu mataste o teu pai? – Perguntei num tom atrapalhado e assustado.

- Sim, Eve. Eu percebo que não queiras estar comigo. – Ele murmurou.

- E-Eu... - Respirei fundo. – Eu quero estar contigo, Will. Apenas custa-me saber que mataste pessoas. Não entra na minha cabeça, entendes?- Suspirei, observando-o.

- Eu sei, eu percebo-te.

- Então e... Aqueles desenhos? – Questionei curiosa, dando um pequeno sorriso de canto, para que a coisa não ficasse muito tensa entre nós.

- Os desenhos são retratos que fiz a partir das poucas lembranças que tenho da minha mãe. Ela era mesmo tudo para mim. – Explicou-me com um sorriso fraco nos seus lábios vermelhos.

William acariciava a minha mão com o seu polegar, de forma carinhosa e lenta. Chegava a dar-me arrepios de tão carinhoso que ele estava a ser. Afinal nem todos os vilões são maus até ao fim, têm o seu lado carinhoso.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora