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{ William }

Os sons abafam-se quando eu me foco em alguma coisa.

Eu fecho-me na minha bolha de pensamentos e tudo à minha volta desaparece. Não é que eu não me aperceba do que se passa, mas interesso-me mais em navegar nas palavras, imagens e sons presentes na minha memória, do que aquelas que me envolvem no momento presente.

Fechado eu na minha bolha de pensamentos sobre a mesma bolha de pensamentos, ignorei completamente os dois homens de farda azul ao lado de uma mulher de bata branca e um homem vestido de forma formal.

-Vamos lá. - eles repetiam.

O homem moreno com olhos esverdeados falava com a enfermeira como se eu não os pudesse ouvir. Então eu desenho um sorriso no meu rosto e levanto-me do banco da parte de trás da carrinha policial que me trouxe do tribunal que me condenou a ficar fechado num hospital psiquiátrico.

Saio da carrinha acompanhado por todas aquelas pessoas a controlar cada passo ou movimento meu. Estando algemado, não poderia fazer alguma coisa de forma capacitada.

Quando sou libertado do frio metal que prendia os meus pulsos, tenho de entrar numa sala com o tal homem.

Ele encara-me durante alguns momentos de forma calma, a avaliar-me, até que decide lançar-me um sorriso convidativo.

-Podes sentar-te. - ele diz apontando para uma cadeira em frente de uma secretária.

-Depois de si, obrigado. - sorrio de volta de forma educada.

Ele faz uma pequena expressão facial a desconfiar do meu ato amigável, mas senta-se na sua grande cadeira para depois eu o imitar. Os seus longos dedos pegam numa pasta acastanhada com o meu nome escrito com uma caligrafia descuidada a preto.

-William... - ele chama olhando depois para mim para avaliar a minha reação. - Posso tratar-te por William?

-O que quiser. - volto a desenhar um sorriso no meu rosto.

-Sabes quem eu sou?

-Não. - minto.

Dr. Darren Parker, começa uma pequena apresentação sobre a sua própria figura e sobre o decorrer do meu futuro tratamento que me é destinado.

Enquanto isso fecho-me novamente na minha bolha de pensamentos para poder ser eu a avalia-lo.

É um homem bem conservado que não deve passar muito dos 40. Apesar do seu sorriso profissional, consigo ver um tom de cansaço nos seus olhos. Presumo que ser-se psiquiatra lhe proporcione muitas dores de cabeça, especialmente se todos os seus pacientes forem como eu. Consigo sentir um ligeiro cheiro a tabaco e café a irradiar dele.

-Ouviste? - ele questiona.

-Sim, Dr. Parker. Importa-se que o trate por Darren? - imito o seu gesto.

-Hm, claro. - ele sorri novamente. Interrogo-me se me quer mostrar simpatia ou a sua higiene oral.

-Bom, Darren, terei um quarto só para mim ou vão entalar-me com algum miúdo cheio de acne? Se tiver de partilhar um quarto prefiro uma rapariga como parceira. De preferência gira e arrumada. Gosto das minhas cenas no lugar.

Dr. Darren pisca os olhos como resposta às minhas palavras. Rio-me numa forma de o levar a perceber que estou apenas a brincar com ele e as suas gargalhadas soam logo em seguida.

-Tens um quarto só para ti. Há inspeções mensais para nos certificarmos que tens tudo no lugar, mas já percebi que posso estar descansado contigo nesse aspeto. - ele informa e assinto num movimento um quanto brusco com a cabeça.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora