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Há uns anos atrás, o Dr. Darren Parker retirou-me da minha família biológica. Pode-se dizer que me adotou. Se eles se importaram com o facto de que me perderiam? A resposta é não. Não se importaram minimamente.

Dr. Darren tem cuidado de mim, pois eu tenho uma doença psicológica rara. Não posso sair deste hospital. Não tenho amigos.

O meu nome é Evelyn. Eu até vos podia dizer a cor dos meus cabelos, a cor da minha pele ou até a cor dos meus olhos, mas a verdade é que não me lembro da última vez que me olhei ao espelho. Apenas sei o meu nome e a minha idade. Eu tenho a 18 anos e creio que Darren me adotou aos 13. Mas não tenho a certeza.

Todas as lembranças da minha vida são muito vagas. Não me lembro de muito.

- Eve. – Uma voz grave e ligeiramente rouca chamou-me, fazendo-me sair da minha bolha de pensamentos. Levantei o meu olhar para poder observar o homem à minha frente.

Ele era moreno. Os seus cabelos eram castanhos-claros e os seus olhos verdes. O Dr. Parker tinha cerca de 40 e poucos anos, mas estava muito bem preservado.

- Sim? – Murmurei num tom doce e baixo, olhando para ele.

- Tenho de ir. – Avisou enquanto se inclinava para poder beijar a minha testa. – Chegou um novo paciente e escolherem-me como seu psicólogo.

Soltei um suspiro. Se havia coisa que eu odiava era ficar sozinha. Se bem que se eu sair daqui, encontrarei montes de enfermeiros, psicólogos e pacientes.

Assenti com a minha cabeça em sinal de compreensão.

- Vê se sais. A enfermeira Amelie está à tua espera na cafetaria para tomares o pequeno-almoço. – Informou, abrindo a porta do nosso pequeno quarto. – Alguma coisa, sabes onde estou. – Deu-me um sorriso e acenou. – Até logo pequena. – Ele saiu e fechou a porta.

Deitei o meu corpo por cima do colchão confortável da minha cama e respirei fundo. Precisava de um banho. Levantei-me novamente e caminhei até à casa de banho. Era um pequeno compartimento onde cabia uma banheira, um lavatório e uma sanita. Nada de requintado, tudo muito simples. Liguei a água e o som calmo que a água transmitia enquanto corria, entrou nos meus ouvidos. Comecei a despir-me, pousando o meu pijama lavado em cima do lavatório.

**

Saí do quarto e arrastei-me pelos corredores, até chegar à bem-dita cafetaria.

A enfermeira Amelie estava sentada numa das cadeiras, enquanto olhava para o vazio. Bati na porta de madeira, fazendo a senhora levantar-se sobressaltada.

- Evelyn. – Ela murmurou, levando a sua enrugada mão ao seu peito, demonstrando que se assustara. – Assustaste-me. – Confirmou as minhas suspeitas, dando uma pequena gargalhada.

- Não era a minha intenção. – Murmurei num tom baixo, encolhendo ligeiramente os meus ombros esguios.

- Descansa. – Ela deu um sorriso doce e caminhou até mim. – Anda, vamos comer. – Murmurou e uma das suas mãos pousou no fundo das minhas costas, guiando-me até à mesa.

**

Dei um último sorriso à velha enfermeira, acenando-lhe antes de sair da cafetaria. Fechei a porta e comecei a caminhar para a sala de convívio. Os meus passos eram a única coisa que se ouvia naquele enorme corredor. Vi meros adolescentes, provavelmente com a mesma idade do que eu, a correr pelo corredor e a gritar.

Os gritos deles entraram nos meus ouvidos, fazendo-me tapar os mesmos em agonia. Era muito doloroso ouvir gritos, agudos principalmente. Fechei os olhos enquanto os se afastavam e de repente, o meu corpo embateu noutro, ligeiramente mais alto do que eu.

Os meus olhos abriram-se e o meu olhar subiu para o rosto do rapaz.

- Desculpa. – Sussurrei, com algum medo da sua reação.


EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora