13

326 33 1
                                    


Evelyn

William deitou-se na sua cama e logo me deitei a seu lado, observando-o de forma atenta. O seu olhar estava concentrado no teto branco e eu fechei os meus olhos, calmamente.

- Evelyn. – Ele chamou-me de forma calma e baixa, fazendo-me abrir os olhos. Ele continuava com o seu olhar preso no teto.

- Sim? – Sussurrei de forma igualmente doce, começando a desenhar pequenos círculos no seu peito coberto pela sua t-shirt branca.

- O que fazes aqui? – Ele balbuciou e fechou os seus olhos por segundos, mas logo os abriu para olhar para mim. – Quer dizer, como vieste aqui parar? Nunca me contaste nada acerca disso. – Ele murmurou, encarando-me com os seus olhos cinzentos.

- Tenho um transtorno psicológico. – Murmuro de uma forma calma, mas rígida, para dar a entender que não queria mais tocar no assunto. Mas ele não percebeu.

- Que tipo de transtorno? – Ele murmurou, no seu tom ligeiramente curioso.

Senti o meu interior contrair-se com a questão. Eu não sabia explicar. O que lhe diria eu?

- Will. – Murmurei, tentando dar-lhe a entender novamente que não queria continuar a conversar.

- Explica-me. – Ele suspirou. – Tu sabes tudo sobre mim e eu apenas sei que és filha adotiva do Darren, nada mais. E sei que entras em pânico com certos sons e que tens anemia. Eu quero saber mais. – Ele deita o seu corpo de lado, na cama, de modo a conseguir observar-me melhor e eu acabo por me sentar, ligeiramente frustrada.

- Eu não me lembro da minha infância. – Acabei por murmurar, de cabeça baixa. – Eu não me lembro da minha mãe, eu não me lembrava do meu pai. – Suspirei e ele levou uma das suas mãos para cima das minhas, acariciando ambas. – Eu apenas sei que quando era pequena, o meu pai batia-me e a minha mãe não fazia nada. – Sussurro. – Sei porque o Darren me contou. Eu não me lembro mesmo de nada. – Suspiro. – Eu não falava com ninguém. Tu, o Darren e o Amilton são as únicas pessoas com quem eu consigo falar. – Sussurro.

- E isso tem um nome? – Ele insistiu.

- Mutismo seletivo. Amnésia dissociativa. – Encolho os ombros tristemente. – Eu tocava no piano que havia na sala de convívio. Todas as manhãs, tardes e noites eu tocava. Agora nem isso consigo suportar. A melodia era fantástica, no início, agora é um ruído como todos os outros. Um ruído que me incomoda bastante e me causa dor. – Murmuro. – Darren diz que há solução, fazendo terapia com música, o problema é que nem música consigo ouvir. – Murmuro suspirando.

Olhei para William. Ele olhava para mim com um ar sério, pensativo. Ao ver-me triste, levou a sua mão ao meu rosto, acariciando o mesmo. Fechei os meus olhos ao seu toque e ele puxou o meu rosto para o dele.

- Eu não devia ter perguntado, desculpa. – Ele sussurrou e eu pude sentir a sua respiração perto do meu rosto. Os nossos lábios colaram-se, iniciando assim um beijo calmo, cheio de carinho. Quando dei por mim, estava deitada novamente, debaixo do seu corpo. Ele parou o beijo e eu suspirei de reprovação. Ele puxou os lençóis para nos tapar e eu acabei por me aconchegar ao seu corpo, sentindo-me bem mais confortável e quente.

- Nunca devia ter perguntado sobre o teu problema, Eve. – Ele sussurrou, contra a minha testa. – Não te queria perturbar mais.

- Não te preocupes. – Sussurrei.

- Eu preocupo-me muito contigo, Evelyn... - Ele sussurrou e eu suspirei.

- Dorme bem William. Até amanhã. – Sussurrei finalmente fechando os olhos e acabando por cair no sono em menos de nada.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora