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Will

-Grávida? - murmuro.

Confirma com um movimento de cabeça sem colocar o seu olhar em mim. Baixo o meu olhar para as minhas mãos com novas ligaduras brancas que não tardarão a ganhar uma cor avermelhada.

Estremeço com a ideia de pai com que cresci. É horrível pensar que, depois de tudo o que eu sofri nas mãos daquele filho da puta, eu daria um filho ao mundo para sofrer o mesmo e vê-lo acabar num sítio como onde estou ou ainda pior, mas não será assim. Nunca poderia dar a um ser, que resultou de mim e da Evelyn, algo como o que eu tive. Porque eu não sou como ele. Ou serei? Afinal eu tive coragem de matar o meu progenitor.

Evelyn acaba por se levantar e arrumar as suas coisas à pressa.

-Desculpa. Eu não sabia que ficarias assim... Desculpa. - ela caminha na direção da porta. Agarro o seu braço.

-Assim como? - pergunto.

-Não estás zangado, William? - ela murmura. Depois formula um sorriso no rosto quando eu cruzo o meu olhar com o seu. Nego com a cabeça.

-Eu estou maravilhado. - respondo abrindo o meu rosto para um sorriso grande. Puxo-a para se sentar na minha cama de novo. - Sabes como sou, pensei em tudo o resto. Desculpa.

Deixo uma pequena gargalhada sair da minha boca. Sinto as suas mãos prenderem o meu rosto. Agarro uma das suas pálidas mãos e levo-a aos meus lábios para a beijar.

-Então... Estás contente? - pergunta a rir, os olhos brilhantes.

-Estou Evelyn. É tão bom. Nós os dois pais. - rio-me e coloco a minha mão na sua barriga.

-No que pensaste? - pergunta esfregando a sua mão na minha.

Encolho os ombros e tento não perder o meu sorriso alegre, mas é difícil de evitar. Olho para os cobertores velhos da cama engulo em seco. Os seus dedos carinhosos mexem nos meus cabelos como que a motivar-me a falar.

-A minha mãe era bonita. - digo com a voz rouca. - Ela gostava dos meus desenhos e eu gostava de desenhar para ela. A minha mãe sempre foi muito meiga. Dizia-me para nunca ter medo de nada porque ela iria proteger-me sempre. Quando ela morreu e o meu pai começou a usar-me como o seu saco de porrada ela já não podia fazer nada. Eu tinha medo dele.

-Agora já não tens que ter medo de nada. - ela diz-me desenhando caricias na minha bochecha. - Ele já cá não está.

-Sim, mas estou eu aqui. - respondo. - E se eu for como ele? E se eu fizer mal ao nosso filho ou a ti?

Olho para ela. Não escondo os meus sentimentos, com ela não preciso de os esconder. Por isso, deixo os meus olhos serem uma janela aberta para dentro de mim. Paro de lutar contra a indiferença e deixo-me comportar exatamente como me sinto.

Evelyn abana a cabeça e depois sorri para mim.

-Oh William. - ela murmura. - Nunca o farias. Eu sei que não. Porque tu não és assim. Não és como o teu pai e nunca o serás.

-Evelyn, eu matei-o.

-Ele já estava morto há muito tempo, Will. - Eve tem um sorriso no rosto que a faz ficar linda e me acalma. - Tu tens amor em ti. Tu amas-me e sei que vais amar o nosso filho. O teu pai não sabia o que era amor sem a tua mãe, mas tu és diferente. Tu sabes o que é amor sem a tua mãe.

Suspiro a pensar nas suas palavras. Olho para a sua barriga escondida pelas suas roupas e volto a acarinha-la com os meus dedos ligados.

-Achas que vamos dar uma boa equipa? - pergunto.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora