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Will

Deixo Evelyn com Lilian nas suas conversas aborrecidas de mulheres e avanço pelos corredores. Fico encostado na parede entre a ala das solitárias e da enfermaria. Pouco tempo depois, aparece um segurança a assobiar.

-William. - ele diz o meu nome como forma de me saudar. Aperto-lhe a mão e levanto a minha sobrancelha.

-Conseguiste? - pergunto-lhe.

Ele ri-se e olha para trás para ver um enfermeiro passar por nós sem se questionar o que estamos a fazer. O segurança desencanta uma caixa do seu casaco embrulhada em papel e dá-ma para as mãos.

-Estou a correr enormes riscos em trazer-te isto do exterior. - ele relembra-me.

Guardo aquilo no meu bolso e dou-lhe uma risada sem humor.

-Devias ter pensado nisso antes de andares embrulhado com uma paciente. Sabes que relações dessas são proibidas. Estavas lá na hora errada, meu irmão. Apanhei-vos e o meu silêncio tem preço. - respondo-lhe.

O segurança assente e volta a estender-me uma mão que eu recuso. Passo por ele novamente em direção aos dormitórios e suspiro quando o ouço rir e voltar a assobiar para seguir com o seu caminho.

Sorrio para as enfermeiras que passam por mim desconfiadas com o tamanho do meu bolso e grito-lhes um "chocolates para a Evelyn". Elas riem e ficam babadinhas por ser um gesto bonito, mas de certeza que não são chocolates para a Evelyn.

Pouso a mão na porta do dormitório do loiro e dou um enorme suspiro. Fodasse. Merda. Porque caralho tenho de ser eu a meter-me na vida deste caralho? Merda.

Abro-a e entro. Jake olha para mim com um olhar surpreso, enquanto seca os seus cabelos e tem uma toalha presa na sua cintura. Entro e tranco a porta do quarto.

-W-William? - ele gagueja.

-Não, Jake Aberração. Não te vou violar. Podes estar descansado. - murmuro e deixo-me cair na sua cama para me entregar à preguiça.

Olho para Jake que continua paralisado sem saber o que fazer. Acabo por me rir da sua figura com gargalhadas sinceras. Ele fica com as bochechas vermelhas e lá acaba por misturar o seu riso com o meu.

-O que queres? - acaba por perguntar ainda a rir. Encolho os ombros.

-Talvez umas tréguas. - respondo.

-A-a sério? - parece ficar empolgado.

-Sim, Aberração, mas ainda precisas de me dar uma razão para confiar em ti se queres ajuda. - respondo sentando-me na cama.

-Ok. Juro. Tréguas. - ele acena com a cabeça muito rápido. Rio-me da reação dele e tiro a caixa do meu bolso. - O que é isso?

-Estou a confiar em ti, Aberração.

-Ok, ok. - ele passa uns boxers pelas pernas e uns calções da instituição e senta-se à minha beira.

-Consegui fazer um acordo com um segurança e ele arranjou-me umas coisas do exterior. - explico-lhe.

-Do exterior?

-Fora do hospício. - respondo.

-Ah.

Rasgo o papel atirando-o para o chão e depois abro a caixa. Desenho um sorriso nos meus lábios por ser exatamente o que eu pedi. Pego na máquina fotográfica e aponto-a para o loiro. Tiro-lhe uma fotografia para o ouvir protestar por não ter sido avisado antes. Tiro a fotografia e abano-a até conseguir ver os olhos cansados de Jake. Entrego-lha e vejo-a analisa-la por alguns segundos.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora