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Evelyn

Aconcheguei-me no sofá da sala de convívio, colocando-me de forma mais confortável, mas parecia impossível. Havia algo que me estava a incomodar, um pressentimento de que algo de mau iria acontecer.

- Eve. – Uma voz masculina e mais rouca chamou por mim. Levantei o meu olhar, encontrando assim um homem que não reconheci.

O meu instinto foi levantar-me de imediato e começar a correr, mas fui impedida. O homem, que aparentava ter os seus quarenta anos, agarrava o meu braço com alguma força. O pânico começou a aumentar.

- Hey! – Uma outra voz masculina, mas agora conhecida por mim gritou. – Largue-a já! – William ordenou, afastando o homem de mim.

Will colocou-me atrás do seu enorme corpo e os meus dedos apertaram a sua t-shirt branca, tentando controlar o pânico que insistia em crescer.

- Conheces este homem, Evelyn? – William perguntou-me, tentando visualizar a minha figura atrás dele, por cima do seu ombro.

- N-Não. – Murmurei num tom assustado enquanto o meu corpo tremelicava.

- Vou fazer esta pergunta apenas uma vez, senhor. Quem é você e o que quer da Evelyn? – Will rosnou, olhando para o homem, que nos observava de forma atenta.

- Eu não vou responder a essa tua pergunta, jovem. Não te diz qualquer respeito. – O homem respondeu e o rapaz que agora me protegia não pensou duas vezes e espetou um murro no rosto velho do homem à nossa frente.

- Will! – Gritei. Um erro.

A minha cabeça começou a doer de imediato. Tudo à minha volta parecia que estava a ser engolido por uma enorme escuridão e os meus tímpanos pareciam que iam rebentar.

- Olha para mim, Evelyn. – O rapaz agarrou no meu corpo, deitando-me no sofá. – Evelyn. – Ele chamou uma vez mais e foi a última coisa que eu ouvi antes de entrar num sono profundo.

William

- Evelyn! – Chamei novamente, abanando o frágil e pálido corpo da loira agora à minha frente.

- Levem-no para a solitária. – A voz de Darren sobressaiu-se finalmente. – Coraline, leva este senhor para o meu escritório. Cuida do que for necessário e eu já lá passo. – Ele ordenou.

Dois seguranças agarraram nos meus braços, começando por fim, a arrastar-me pelo corredor a fora.

- Não podes fazer isto, Darren! – Gritei no corredor, vendo o médico a encolher-me os ombros.

- Foste avisado. Nada de mau comportamento. Diverte-te sozinho, agora. – Ele deu um sorriso cínico.

Merda! Porque raio é que eu me deixei levar pelas provocações e piquei-o mais? Fodasse.

Nada me preocupava mais neste momento do que o facto de a minha Evelyn ter desmaiado. Sinto-me culpado. Talvez se aquele homem misterioso que tentou agarrá-la me tivesse respondido, nada disto teria acontecido.

Se calhar, eu mereço estar uma semana nesta solitária. Só não suporto a ideia de não poder ver a rapariga loira, que tanto me entretém dentro deste hospital psiquiátrico. Darren sabe disso. Ele sabe que ela é a única que me deixa são, mas mesmo assim, faz com que eu fique mais louco do que ao que já sou. Ele sabe que ela é tudo para mim e eu fui tolo, porque ainda lhe dei esse prazer de descobrir.

Os dois brutamontes atiraram-me para o chão, no interior do compartimento minúsculo e branco, onde eu passaria uma semaninha inteira. Isto não iria custar. Passaria depressa.

- Diverte-te, palerma. – Os seguranças provocaram os dois. Eu fiz o meu dedo do meio, arrancando assim várias gargalhadas dos idiotas vestidos de preto.

A porta metálica fechou, fazendo um enorme estrondo. Ouvi o barulho de chaves a trancarem o compartimento e suspirei de forma pesada. O inferno vai começar.

Levantei-me e logo a seguir sentei-me na cama onde passaria a dormir por uns dias. Talvez se me portasse bem, poderia sair mais cedo. Ou não.

Evelyn

Após aquilo que me pareceram longas horas, eu pude por fim, abrir os meus olhos. A minha visão encontrava-se turva, porém a minha audição, estava perfeita. Eu conseguia ouvir tudo e pude então perceber que haviam dois homens dentro do quarto. Mas havia uma terceira respiração, o que me levou a pensar que seria uma enfermeira. Assim que tomei controlo total do meu corpo, sentindo então os meus membros adormecidos, notei que havia uma mão a segurar a minha e a acariciá-la, de forma calma. Apertei essa mesma mão, esperando ser William, porém, enganei-me.

- Evelyn. – A voz de Darren murmurou num tom baixo, quase num sussurro e eu sentei-me, levando a minha mão livre à minha cabeça, podendo então sentir o quão dorida esta se encontrava. – Princesa, como te sentes? – Ele sussurrou, beijando as costas da minha mão.

- A minha cabeça vai rebentar, Darren. – Sussurrei num tom ligeiramente fraco.

- Coraline, traz-me um medicamento para ela, por favor. – Ele pediu de forma doce à tal enfermeira presente no quarto connosco e a mesma apenas assentiu e saiu.

Olhei para o outro homem, em frente a Darren. Era o homem que me quisera agarrar e sabe lá Deus fazer o quê. Ao ver o quão assustada eu me encontrava, Darren suspirou.

- Evelyn, este é o teu pai biológico, Jackson. – Soltou a minha mão. – É totalmente compreensível que não queiras sequer olhar para a cara dele ou até mesmo que não o reconheças, visto que o que ele te fez, a tua memória apagou. – Explicou.

- O que faz ele aqui? – Questionei, engolindo em seco.

- Ele está com cancro, Eve. Ele veio despedir-se, és a única pessoa que ele tem agora.

- Podes ir embora. Vai, sai da minha frente. – Murmurei, talvez mais fria do que aquilo que eu realmente queria soar.

- Evelyn. – Jackson murmurou.

- Vai. – O médico murmurou novamente. Ele levantou-se e saiu, de cabeça baixa, sem pronunciar uma outra palavra. Notava-se que estava magoado pela minha reação, algo que era totalmente compreensível. Até eu ficaria magoada se me respondessem desta maneira. Estou surpreendida comigo mesma.

Darren levantou-se, sem desviar o olhar de mim.

- O William? – Perguntei, voltando a deitar-me, esperando que a enfermeira voltasse.

- Ele está na solitária. Ele merece lá estar. – Respondeu. – Eu quero-te longe dele, Eve, para o teu bem. Ele só te vai magoar. – Ele beijou a minha testa e saiu, deixando-me sem qualquer palavra para lhe responder.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora