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Will

Releio as palavras dele vezes e vezes sem conta. Cada uma das suas mensagens deixadas para mim, no meu caderno, entre os meus desenhos, eu leio-as enquanto ela deixa a exaustão tomar conta dela, deitada na minha cama.

Passo os dedos pela minha nuca, refletindo, sentado a um canto no quarto. Quando ela murmura algo no seu sono, olho-a pensando que ela já acordou, mas volto a focar-me no meu caderno quando me apercebo que são apenas palavras que fugiram dos seus sonhos.

Quando aqui cheguei, quando me envolvi com ela, não pensei que isto fosse chegar a este ponto. A um ponto que vivo para a ver bem, para a ver feliz, concretizada e sã. Releio as palavras dela de amor, de saudade, às vezes até de raiva por eu ter deixado isto acontecer, mas logo a seguir volta a fluir amor e um compreensão perante tudo. No entanto, aquilo que eu fiz é incompreensível.

Entre estas mesmas paredes, eu deixo-a ver aquele que tinha ficado lá fora, aquele que me fez aqui entrar. De todas as minhas facetas, essa seria aquele que eu nunca poderia deixar escapar e falhei.

Eu arruinei-a. Eu quis dar-lhe amor e, na verdade, dei-lhe um problema. Para não falar de uma criança. Talvez a nossa menina seja o que mais feliz que daqui possa sair, mas pensando outra vez... Porque uma menina tão preciosa tem de surgir no seio de uma família tão perturbada? Não o digo pela Evelyn. A minha doce Eve é capaz de dar todo o amor do mundo à nossa miúda, mas terei eu? O meu amor por ela trouxe-nos isto.

Como pude eu fazer-lhe aquilo? Como pude eu gostar de a ter da forma que tive todas as outras criaturas tão vulgares? Oh minha preciosa Evelyn... O que te fiz eu?

Eu destruí a tua vida.

-William?

Levanto a minha cabeça para a ver esfregar os olhos. Os seus cabelos despenteados caem na minha almofada como sempre gostei de admirar. Ela olha em volta até o seu olhar se cruzar com o meu. Dirijo-lhe um pequeno sorriso.

-Como te sentes? - pergunto-lhe quanto ela se eleva para se sentar na minha cama com a barriguinha saliente na sua roupa. - Melhor?

-Hm... Sim. - Evelyn responde-me.

-E a nossa menina? - Evelyn olha-me novamente quando profiro o nossa.

-Está bem. - assente.

Um silêncio surge. É quebrado para eu a informar que lhe trouxe comida a qual ela recusa.

-Come. - eu insisto. Pego no tabuleiro que tinha deixado na minha secretária e ponho-o na cama do outro lado, o meu lado da cama. Eu sento-me no fundo desta, junto dos seus pequeninos pés.

-Eu não tenho fome William. - ela diz com um tom calmo.

Baixo o meu olhar. Levo uma mão para um dos seus pés e faço-lhe um carinho. Ela não se retrai, o que para mim, já significa muito.

-Come. Por favor, só um bocadinho. - peço. Olho-a novamente.

Evelyn assente e pega na comida para dar dentadas pequenas e vagarosas. Subo o meu carinho para o fundo da sua perna e fico-me por aí, enquanto a vejo comer. Morro por beijar os seus lábios, morro por acariciar os seus cabelos, morro por me perder nela, mas contento-me com este carinho simples.

Não sei o que lhe dizer. Não quero tocar no assunto do que aconteceu, não quero falar da solitária, não lhe quero perguntar como foi o tempo sem mim porque bom não foi de certeza. Por tudo isto, mantenho-me encerrado a tentar decidir como lhe posso dizer que ela tem de ir embora. Não é seguro aqui comigo. Só lhe fiz a vontade. Sentia saudades.

EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora