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Evelyn

Todo o meu corpo dói e a minha cabeça lateja. Recordo-me de pouca coisa do que aconteceu.

Lilian encontra-se a meu lado, enquanto esperamos que Darren volte.

A imagem de William com uma faca na mão a tentar magoar-me passa na minha cabeça imensas vezes e não consigo imaginá-lo daquela maneira. O meu Will nunca me faria aquilo, algo teria de o forçar.

A nova medicação.

Não, o Darren nunca faria isso ao Will.

A porta abre-se e revela o homem de meia-idade que eu considerava um pai, fechando a mesma logo depois de entrar.

- Como estás? – Ele caminhou para mim rapidamente e agarrou o meu rosto, observando-me. – Ele magoou-te? Ele tocou-te? – O seu tom continha raiva e preocupação.

- Não. – Murmuro baixinho, abanando a cabeça enquanto a baixava. – Quer dizer, só fez um cortezinho aqui. – Descobri o meu pescoço de modo a mostrar o penso que Lilian colocara para tapar a zona ferida. - O William... - Sussurro, olhando para ele. – Onde está ele?

- O William está onde nunca mais te pode tocar. – Murmurou ele, afastando-se.

- Ele não tem culpa... - Suspiro e pelo quarto, procuro o frasco dos medicamentos até o encontrar. Pego-lhe e entrego-o para as mãos de Darren. – O Martin deu-lhe isto, ele ficou assim depois da medicação.

- Mas... - Ele observa os comprimidos que se encontram no interior do frasco.

- Por favor... - Suplico.

- Ele quase te matou, Evelyn. – Lilian murmura, enquanto suspira.

- A verdade é que o William nunca faria mal à Evelyn, Lilian. – Darren comenta, guardando o pequeno frasco dentro do bolso da sua bata branca. – E todos nós dentro desta sala sabemos bem disso. – Passa os seus dedos pelos negros cabelos e suspira. – Vou mandar o Jake vir-te fazer companhia ou assim, se quiseres, claro. – Olha para mim.

Abano a cabeça, sentindo-me ligeiramente triste. – Eu quero o Will, Darren. – Sussurro, abraçando o meu próprio corpo e sento-me na cama atrás de mim, onde as roupas da mesma estão completamente desarrumadas e ainda existe sangue visível, do Will. – Chama o Jake. Eu preciso da companhia dele. – Olho para o chão e sinto alguém aproximar-se.

- Ei. – Darren tenta chamar a minha atenção, mas ao perceber que eu não olharia para cima, levantou a minha cabeça cuidadosamente. – Eu prometo que o trago de volta, mas só depois de perceber o que se passou e só depois de ele perceber que estragou tudo. – Beija a minha testa. – Ambos sabemos que assim que eu o soltar, tu não o vais deixar aproximar-se de ti. Agora dizes que o queres, mas quando o vires, vais ter medo dele. Eu sei que é isso que vai acontecer. – Comenta num tom baixo e desaparece para fora do quarto, seguindo pela enfermeira.

Respirei fundo e passei os meus pálidos e finos dedos pelos meus cabelos, puxando-os para trás. A blusa que cobria o meu corpo era de William e ainda tinha o cheiro do perfume dele. A pequena Rosalie mexia-se bastante dentro de mim, estando assim, a deixar-me um pouco desconfortável.

Levantei-me e procurei pelo caderno do Will. Não se encontra no seu sítio habitual e algo me diz que ele não conseguiu desenhar o que queria, quando o encontro perdido no meio do chão, junto com o lápis e vejo que algumas das folhas foram arrancadas. Os meus dedos folheiam pelos muitos desenhos e encontro um que aparenta ser bem recente. Não passavam de meros riscos e percebo que ele tentara desenhar-me outra vez.

A sua mente devia estar tão desfocada que ele não conseguia focar-se no que queria realmente fazer. Fecho o caderno e vou arrumá-lo no seu sítio, onde devia estar. O William devia estar aqui.

Ele tentou magoar-te, Evelyn. A minha mente alerta-me. Mas eu não me importo. Isso não me faz amá-lo menos. Deixa-me magoada, mas eu amo-o.

- Evelyn? – A voz de Jake chama por mim e isso retira-me dos meus pensamentos aleatórios sobre o homem que amo. Faz-me perceber também que me encontro apoiada na pequena secretária de ferro e que umas ligeiras dores estão presentes no meu ventre.

- Desculpa, estava a pensar... - Murmuro baixo, suspirando e oiço os seus passos na minha direção. Uma outra dor atinge-me e eu encolho-me, sem largar a mesa que me apoia. Ele apressa-se e agarra-me.

- Ei, estás bem? – Pergunta docemente, passando as mãos nas minhas costas.

Não lhe consigo responder mas acabo por sentir com a minha cabeça, respirando fundo logo depois. As dores não são intensas, mas são o suficiente para eu sofrer um pouco. Sinto Rosalie irrequieta e não sei o que fazer. Ele balbucia qualquer coisa sobre chamar o Darren, penso eu e sinto-o desaparecer da divisão.

Com as dores chegam as memórias da manhã agitada e os gritos passam novamente pela minha cabeça. Um misto de confusão junta-se e eu fico mais agitada do que devia. Os meus gritos e a imagem de William querer magoar-me repetem-se constantemente e isso começa a deixar-me louca.

Tudo se intensifica e sinto alguém tocar-me.

- Larguem-me! – Grito em desespero. Observei a pessoa que me segurava e apercebi-me que era William. Impossível. – Não, não, não. – Choramingo e outra mão segura-me.

- Evelyn. – Alguém me chama, mas não estou propriamente focada nessa voz e não consigo reconhecê-la. William está à minha frente e vai magoar-me.

- William, não me faças mal... A Rosalie... - Murmuro a medo e as coisas estão confusas na minha cabeça.

- Evelyn, é o Darren. – A voz diz-me. – O William não está aqui. – Diz calmamente mas sei que não é verdade.

- Sai! – Grito e volto a afastar-me. Ou assim eu pensei.

As coisas não estão mais no sítio, está tudo desfocado e eu estou perdida a meio dos meus pensamentos. As dores não existem, William desapareceu e a voz também. Não existe ninguém para além de mim e da Rosalie. Rosalie. A minha Rosalie.

Sinto os meus olhos pesarem e luto para que isso não aconteça. Já é tudo um borrão negro naquele quarto e não entendo os barulhos à minha volta. Fecho finalmente os meus olhos e sinto o meu corpo desligar-se e o que quer que tenha acontecido, ficou na minha mente apenas.

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