1 | O início

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Estou correndo,correndo muito,meu sangue percorre elétrico pelo corpo,por cada quadra minha respiração fica mais agitada

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Estou correndo,correndo muito,meu sangue percorre elétrico pelo corpo,por cada quadra minha respiração fica mais agitada.

Os soldados estão atrás de mim,não é pra menos,por que fui defender um menino de rua? Eu sei o que esses desgraçados fazem não é? Não deveria ter me importado tanto,acontece bastante em Nova York.

Suspiro no meio da corrida,me importar demais é o meu maior defeito. Também foi pelo ódio,os Eles são os maiores donos desse sentimento em meu coração.

Lembro que minutos atrás a criança sorriu para mim e depois me olhou como se eu fosse me meter em encrencas,e na verdade,me meti realmente.

Continuo correndo, dessa vez consigo ver os soldados dos Eles se aproximando de mim.
Suas armas disparam tiros,normalmente tranquilizadores,mas mesmo assim não posso correr o risco.
Enquanto eu olho para trás,tropeço e caio no chão em cheio.

Eles me alcançam.

Inferno.

Com certeza estou me dando muito mal.Mesmo.

- Quem pensa que é miserável? - um deles segura meu braço.

Apenas fico quieta.

- Mais uma inferior imunda atrapalhando nosso trabalho! - o soldado da esquerda diz com desdém.

- O garoto não fez nada. - olho para sua máscara com rispidez.

-Todo inferior merece punição, inclusive você. - ele me olha com um semblante malicioso.

O mesmo sinaliza para o outro soldado com uma certa conexão de pensamento,eu sei que vou apanhar,o que faz meu coração bater infinitamente mais rápido.

Tento me levantar e correr,mas eles formam uma barreira e  começam a me dar chutes na barriga,fecho os olhos de tanta dor, ouço suas gargalhadas e sinto vontade de vomitar. É diversão pra eles, diversão.

Sua mão vai direto no meu rosto,descontando a dor da pedra que joguei em seu uniforme,abro a boca mas não há som algum,meus olhos ficam embaçados,a dor é horrível,nauseante.

De repente eles se assustam e param de me bater.

- Connor,um contaminado,vamos embora. - sinto que o soldado está com medo na voz,o outro assente e eles vão embora.

Fico no chão,com uma dor imensa no corpo,e quando minha visão melhora,observo um contaminado vindo na minha direção,ele está falando coisas sem sentido - um dos sintomas do vírus - e me olha gargalhando.

- Meu deus - sussurro trêmula.

Me apoio na parede,mas quanto mais rápido eu tento,mais rápido caio de novo no chão,minha agonia consome o corpo enquanto ele chega mais perto,perto,perto.
Quando já consigo sentir sua presença a centímetros de mim,fecho os olhos pensando o pior.

Alguma coisa faz barulho.

E não foi em mim,abro lentamente os olhos e vejo o contaminado caído no chão,sem vida,sangue escorrendo de sua cabeça.

Alguém me salvou.

Tento levantar para ver quem é,mas a luz do sol atrapalha meus olhos,além da tontura.

- Obrigada.. - sussurro.

- De nada - é um voz masculina.

Não consigo ver seu rosto,ele apenas sai correndo atento a alguma coisa.Nem pude agradecer direito,se ele não estivesse aqui,eu já seria uma contaminada.

Levanto totalmente e vou andando pelo beco,bem devagar,esbarrando em cada parede que encontro pela frente.

Com dificuldade,chego ao centro da decaída Nova York,vejo no horizonte uma estátua de uma mulher segurando uma tocha, apenas até o pescoço; enferrujada e rachada.Minha mãe dizia que essa era a Estátua da Liberdade,ela ainda tinha alguma beleza antes do vírus H.347 eliminar quase todas as pessoas do mundo,ninguém sabe como surgiu o vírus,ele de repente apareceu nas reportagens,boatos e logo nas pessoas,poucas delas sobraram na terra,inclusive a minha cidade,uma das únicas que ainda possuía algum sinal de vida,destruída,prédios consumidos por plantas,lojas vazias em decomposição.

Nós os inferiores - como "carinhosamente"os Eles nos chamam - vivemos na fome,na miséria,não é um lugar agradável de se viver,já os Eles,vivem cercados por uma muralha em uma distante montanha,consigo até escutar suas gargalhadas cruéis com a vida confortável que levam,me sinto enojada ao pensar como pode haver tanta contradição.

Ando mais um pouco e chego até minha casa,levanto meu capuz,não quero que minha mãe me veja machucada,ela está doente demais pra isso,ela iria me olhar com aquele jeito de mãe de que você está encrencado e ao mesmo tempo está preocupada com você.

- Oi Hailey,demorou, a mamãe ficou preocupada com você - Matt vem até mim e me abraça.

Ele tem onze anos,fico triste por crescer e acompanhar nossa mãe do jeito que está, mas tento dar a vida mais normal possível para o meu irmão.

-Hailey,onde você estava?demorou muito para voltar - minha mãe diz me olhando com preocupação.

- O centro estava cheio mãe,mas trouxe algumas frutas - digo olhando para baixo.

-Hailey,por que está de cabeça baixa e com este capuz? - ela pergunta curiosa.

- Não é nada mãe. - digo disfarçando a dor imensa no rosto.

- Espera aí.

Me contive,mas minha mãe tira meu capuz,e eu continuo de cabeça baixa,ela levanta meu queixo e vê o machucado,coloca as mãos na boca assustada e toca no olho que levei o soco.

-Hailey,o que é isso?

- Eu..bati em um poste,um tombo bobo - digo com a pior desculpa possível.

- Hailey,sei muito bem que não foi isso que aconteceu,me conte agora - minha mãe cruza os braços.

- Um grupo de pessoas passou por mim,eu corri assustada e acabei dando de cara em uma parede,foi só isso. - minto,com um olhar entediado para parecer convincente.

Seu semblante de rigidez se desfaz e ela suspira.

- Me desculpe filha,acho que estou ficando neurótica.

Assinto.

- O jantar vai ficar pronto em vinte minutos,descanse querida,já vou fazer um curativo - ela diz fazendo carinho em meu rosto.

- Você que precisa descansar mãe, precisa se cuidar mais. - digo.

-Hey não roube minhas frases! agora você que precisa descansar. - ela sorri de forma amorosa.

Vou para o meu quarto e deito na cama,ainda sentindo a dor excruciante no meu corpo,mas não me arrependo nem um pouco,faria de novo.

Eu penso quando vamos achar a cura para um vírus que ainda pode acabar com o resto de nós, e quando ficaremos livres dos Eles que mantém um mínino de domínio sobre as pessoas,quando seremos humanos de verdade e nos unirmos,e quando eles não terão mais vantagens e se colocarão no seu devido lugar,quando...

Tudo será diferente.

Ninguém consegue me compreender com meus pensamentos - as vezes nem eu mesma - minha mãe se esforça para me entender,mas eu sei que ela deseja que eu me conforme e continue indo ao centro,voltando para casa e evitando o futuro que se aproxima,mas sinto algo vivo dentro de mim,algo ardente,consumidor.

Esperança.

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