Assim que percebo que todos estão em volta de mim,me esquivo dos braços de Thomas e tento enxugar as lágrimas,mas elas insistem em ficar.Assim como a minha dor.
- Hailey,o que aconteceu?Por que a Lilly correu para a floresta? - Matt me pergunta,com preocupação.
Minha garganta simplesmente se fecha.
- Ela foi contaminada - diz Thomas com um tom sério,mas melancólico.
Todos ficam em silêncio.Onde só meus soluços são ouvidos.
Finn me abraça e Thexa coloca a mão no meu ombro,como ela sempre faz,Finn até chora um pouco,Lilly iluminava a cada um de nós,com seu sorriso genuíno, sua alma boa.Mas ninguém diz nada,ninguém diz que vai ficar tudo bem ou um "sinto muito",me consolam em silêncio.Isso é bom.
Estou tão atordoada,
tão sufocada pela tristeza que nada me acorda do transe.
Lilly foi a primeira pessoa que conheci na Redoma,a primeira pessoa nesse genocídio que eu jurei proteger,jurei cuidar,mil juras para que em um momento que não estou de olhos abertos,ela é tirada de mim sutilmente.Em silêncio.A culpa corrói.
Quando olho para os meus amigos,minha dor aumenta,porque temo em perde-los a qualquer segundo em que eu não os observo.Me sinto fraca,pequena.
Enfrento fome,sede,doença,feridas,hematomas,não ter onde ficar,correr até meus pulmões arderem,lutar para ter um mínimo de vida que tenho direito,mas nada disso se compara a dor que sinto agora,a dor sobre minha mãe,Matt e Lilly,nada de compara a essa sensação esmagadora.
Nada.
Estamos nos encaminhando para a floresta,para o nosso acampamento,os contaminados subitamente evaporaram,deixando o território para nós,mas por algum motivo,não conseguimos passar,penso que é só uma coisa boba,uma alucinação de minha cabeça,mas meu corpo já carregado de angústia fica rígido e tenso.
Não estamos conseguindo sair.
Por algum fenômeno que não conheço,uma barreira de vidro é levantada da floresta,é tão fina,mas inatingível,nos fazendo ficar apenas na área dos holofotes.Presos.
O grupo começa a tentar quebrar a barreira,me junto a eles dando pontapés,socos,chutes,uso minha faca para danifica-la mas nada adianta,potente como o aço.
Meu desespero aumenta.
- O que está acontecendo?! Temos que sair daqui! - Callie grita nervosa,enfiando duas facas no vidro.
- Vão se ferrar seus imbecis,já não basta acabar com nossas vidas não é?! - Kênia grita abrindo os braços,como se falasse com os Eles.
Olho para a grande tela apagada e sem vida,e um dos recentes anúncios daquela mulher vem a tona em minha mente,foi depois daquele momento sereno que tivemos no acampamento.
Há apenas doze participantes vivos na
Redoma,contudo,o mundo não pertence aos inferiores,são e sempre serão a minoria,e essa ordem entra em vigor agora.Apenas um grupo deverá ficar de pé.
Minha cabeça começa a encaixar as peças desse abominável quebra cabeça.Nos recusamos a lutar,nos recusamos a obedecer,tudo não passa de um plano,eles enviaram os contaminados hoje a noite para sairmos do acampamento, sabiam que iríamos para algum lugar iluminado,um lugar rápido e provisório,nos prenderam aqui dentro como insetos inúteis.E eu sei a razão.
Querem os assassinos como vencedores.
Caímos direitinho em sua gaiola.
Sinto que estou ficando tonta, vejo apenas alguns borrões, me deparo com Dimitri,ele sempre foi enigmático, frases construídas para de deixar curiosa pelas respostas,agora eu sei o motivo,ele foi sábio o suficiente para notar que ainda não havia acabado,ainda restava o grande final,posso até imaginar o sorrisinho daquela mulher macabra enquanto olha para os imaturos que só querem sobreviver.
Dimitri percebe meu olhar.
- Esse é só o começo Hailey,seja forte. - Dimitri me dá uma espécie de aviso,urgente.
Meu coração palpita.
A tela se acende,exibindo a mulher ruiva com aquele semblante que tanto detesto,da qual sinto vontade de traze-la para a Redoma,onde esse sorrisinho cínico iria se desfazer.
Um frio no estômago me percorre,sentindo agonia por sua mensagem.
Ela ajeita a postura,e parece me olhar de forma gélida.
Saudações.
Como as ordens não foram cumpridas,tivemos que induzilos ao real propósito dessa Redoma,que com certeza não
foi para criar laços.
Garantiremos que os vencedores tenham sua família e suas respectivas vidas de volta.Apenas se cumprirem o acordo.Apenas um grupo ficará de pé,e não adianta usarem a desobediência, nós observamos vocês, e vão apodrecer nessa Redoma se não cumprirem o propósito,afinal,a vida é feita de propósitos.
Está na hora de crescerem.
A mensagem acaba.
Todos se dão conta do quanto fomos fáceis de mover,tão fáceis de manipular,jovens famintos por uma saída,capazes de tudo para ter um lugar seguro de volta.
Olho para os lados,tentando não desabar no chão,Lilly vem em minha cabeça,desfigurada pelo vírus,surtando,definhando,me sento,porque não tenho força para ficar de pé.
Manipulável,fraca,pequena.
Não dou a mínima para o sorriso de satisfação daquela mulher ao me ver tão impotente,porque eu queria que todos os Eles neste exato momento estivessem em minha pele,sentindo,sentindo a mais pura dor que me encontro.
Mas no momento do abafado do meu casaco onde fixo meu rosto, escuto um grito,um não,vários gritos misturados em coro.
Levanto minha cabeça,e quando tudo fica nítido,minha teoria se confirma,é quando minhas mãos suam e um grito tenta se libertar dos meus pulmões,não tendo sucesso nenhum.
Thexa está encravando com toda a força uma faca nas costas de Matt.
Me levanto assustada,Matt sangra,Thexa se debate enquanto Finn a segura,os outros ficam em rebuliço.
No instante em que tento correr até eles,sinto uma lâmina fria e dolorosa atravessar meu ombro,me fazendo soltar finalmente um grito,viro para trás e desejo pensar que é apenas uma alucinação da minha cabeça,mas está aqui,ao vivo e a cores.
É Kênia,se posicionando para me atacar mais uma vez.
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A I M U N E • 1
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