Kênia me joga no chão com toda a sua força,caí sem mesmo resistir,a dor em meu ombro me faz fechar os olhos com força,e por mais que tudo esteja acontecendo com a velocidade de um raio,eu ainda não entendo.
Não sei o que está acontecendo.
Abro os olhos e a figura grande de Kênia e sua lança tampam o holofote,olho para ela da mesma forma que olhei para Thomas quando ele quase me matou,com angústia,confusão e ódio.
- Kênia como pode esquecer de tudo?
- Eu não esqueci Hailey,mas eu tenho uma família,eles precisam de mim,e se eu tiver que matar você para ve-los de novo, é isso que farei. - lágrimas escorrem de seus olhos.
- Será que está tão cega?! Eles não vão levar você pra casa! Vão trair você,provavelmente mataram sua família! Está sendo manipulada,como não entende?! - explodo,enquanto sinto o ar sumir do meu corpo.
Seus olhos se enchem de ódio,e no minuto que ela levanta sua lança na direção da minha cabeça,rolo para o outro lado,sua lança se encrava no chão pela tamanha força,então,Kênia a larga e pega uma faca de seu casaco,ela vem até mim e antes que pudesse tirar meu sangue,impulsiono toda a minha força ao chutar sua barriga,ela se afasta e eu aproveito a deixa para levantar,sangue jorra de meu ombro,molhando o chão.
Nem pude respirar e ela já está pegando no meu pescoço,fico tão desesperada por oxigênio que em um reflexo,faço um corte fino em seu braço com minha faca,ela segura o corte e nesse momento a empurro com toda a força que me resta,e corro,corro e não paro.
Observo a paisagem medonha que me cerca.
Thexa está jogada no chão,com uma flecha em seu peito.
Imagino que foi Thomas que fez isso,mas mudo de idéia quando Ravi tira a flecha que do corpo dela,limpando seu sangue,é como se aquela flecha estivesse dentro de mim.Me lembro da sua mãe,dos tantos traumas que ela carregava,e todos eles se foram no momento que ela fechou os olhos.
Finn empurra Ravi direto no chão,Ravi é pequeno e magro,e Finn é maior e mais forte,só o que eu vejo nos olhos de Finn é que ele está entorpecido pelo ódio.
Sua faca encontra o peito de Ravi fatalmente.
Vou até ele,ele se encolhe no chão e lágrimas caem dos seus olhos sem serem contidas,ainda estou atônita,ele treme,chora,geme,e só o que eu faço é olhar nos seus olhos,há sangue tanto em minha faca quanto na dele,nosso olhar releva toda a nossa dor.
No que nos tornamos.
Manipuláveis,fracos,assassinos.
Imagino as gargalhadas daquela mulher enquanto ecoa uma frase em minha mente.
Jovens frágeis,imaturos,pássaros presos em uma gaiola.
Antes de chegar mais perto de Finn,o chão treme,treme tanto que não consigo me fixar no chão,caindo e me equilibrando com as mãos.
Sinto algo subir.
As árvores ficam mais próximas,os holofotes mais fortes.
O chão distante.
Vou para a ponta do círculo e levo um susto ao ver.
A área dos holofotes foi levantada,estamos como que em uma bandeja,apenas com armamentos de ferro nos sustentando.
- Hailey! - é a voz de Finn,berrando meu nome.
Me viro e dou de cara com Kênia correndo na minha direção novamente,ela corre tão rápido que só o que eu faço é estender minha faca,em um piscar de olhos,ela já está em cima de mim.
Mas seu olhar de ódio fica inerte.
Não consigo entender,só tentar respirar a medida que meu coração luta para pular pra fora.
É então que percebo.
Sinto o líquido se esbanjar na minha mão,a lâmina de minha faca penetrando no estômago de Kênia.
Ela olha para mim.
Me lembro do momento em que matei um contaminado para salvar Dimitri,enfiei a faca no seu estômago,assim como fiz nela,mas há uma diferença crucial.
O contaminado era uma espécie de monstro,movido pelo instinto,pela fome.
Mas Kênia é humana.
Ela tem o brilho nos olhos de quem quer viver,de quem não quer desistir,e ela olha para mim de um modo tão excruciante que lágrimas caem de meus olhos,como se eu fosse a responsável por acabar com toda a sua esperança.
E foi exatamente o que eu fiz.
Nossos momentos passam como um flash em minha cabeça,nossas risadas,o modo como ela conquistava fácil uma conversa,seu jeito durão,mas que era uma amiga se você precisasse.
Mas outra visão dela vem na minha cabeça,instintiva,controlada pelo ódio,como se sua cabeça só fosse programada para me matar.Empurro seu corpo para o lado e tudo não passa de um borrão.
Alguém me estende a mão,não a pego,fico apenas no chão tremendo.
Ainda acho que isso é um pesadelo,que vou acordar no acampamento,onde vamos fazer uma fogueira e conversar como se fôssemos pessoas normais.
Mas a mão me puxa contra minha vontade,e apesar dos vultos,vejo que é Matt.
Ele está completamente ensanguentado,machucado em todo o rosto,e só o que eu penso é que ele vai avançar para me matar também.
Mas não é isso que ele faz.
Ele arranca uma parte do próprio casaco e coloca no meu ombro ferido.
- Você devia me matar,sabe disso. - eu digo,com a voz embargada.
- Quero que fique viva,entendeu? - suas mãos já encrustadas de sangue vão até meu rosto,seu olhar chega a ser urgente,mas suas mãos são,de algum modo,consoladoras.
Não consigo fazer nada a não ser olhar para seus machucados,do quanto ele está ferido.
- Não tem que fazer isso,não precisa,só vá em frente. - lágrimas caem dos meus olhos cansados.
Antes dele dizer qualquer coisa,alguém o empurra para longe,e como ele está praticamente desmaiado,vai direto no chão,vejo que é Callie,olhando para Kênia.
- Você a matou! Eu pedi perdão a você,eu confiei! - ela explode enquanto chora.
- Eu não tive escolha. - meus olhos estão tão abatidos que mal consigo falar.
Ela fecha os olhos.
- Achei que fosse diferente Hailey.
- Achava que todos nós éramos diferentes. - a exaustão me sufoca.
Callie pretende me atacar,estou sem forças,como se todo o peso do concreto estivesse sobre a minha pele,e quando Callie está prestes a tirar a única coisa que chamo de vida,a frase de Matt toma conta de todo o meu ser.
Quero que fique viva,entendeu?
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A I M U N E • 1
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