Lexa ficou no hotel mais próximo da prisão que conseguiu, mas essas instituições costumam ser distantes dos centros das cidades. Assim que se acomodou no quarto, ela pegou o celular para ligar para Clarke antes de entrar na reunião de videoconferência com os pesquisadores. O aparelho quase caiu da mão de Lexa com o tanto de vibração para notificar as mensagens que recebeu.
Nenhuma novidade que todas eram de Clarke.
"Está tudo bem?"
"Alguma emergência de trabalho?"
"Você sabe que pode falar comigo."
"Estou sendo chata? Desculpe, meus nervos estão à flor da pele e estou preocupada."
"Estará lá amanhã, certo?"
"Por que não responde? Está tudo bem?"
"Me ligue assim que puder."
Lexa olhou para o relógio, tinha apenas 15 minutos antes da hora marcada para a videoconferência, a conversa com Clarke precisaria ser adiada. Ela entendia todo o nervosismo de Clarke, a menina estava ansiosa para pegar o diploma e precisava do apoio de Lexa. Obviamente Lexa não perderia a cerimônia de formatura de Clarke ou a oportunidade de dançar com ela na festa, ela apenas não podia ter esperado mais tempo para resolver tudo com Anya. O futuro delas estava logo à frente e ela não estava pronta.
Lexa balançou a cabeça para clarear as ideias e digitou uma mensagem rápida:
— Surgiu uma coisa. Desculpe princess, era algo urgente e inadiável, te explico tudo quando voltar. Você acha mesmo que eu perderia a chance de te ver usando uma beca horrorosa? Não mesmo! Espere por mim. Não fique nervosa, você será facilmente a mais bela mulher naquele lugar. Tenho uma videoconferência agora, conversamos mais tarde.
Os dedos de Lexa coçaram para digitar um "eu te amo", mas ela decidiu esperar. Seria melhor se Clarke pudesse ouvir isso primeiro.
*****
— Lexa Grigori? — chamou uma agente penitenciária.
Lexa mordeu o lábio e se aproximou da mulher. A mulher mascava um chiclete e parecia entediada quando avaliou Lexa e a direciou para a sala de revista.
Quando a revista terminou a agente a levou para o lugar das visitas familiares, Lexa sentiu um nódulo se formar em sua garganta quando disseram que ela estava na lista familiar de Anya.
Coragem, Lexa, vai ser simples. Vocês já foram como irmãs, disse a si mesma.
Pareceu uma eternidade o tempo que levou para a porta do outro lado da sala se abrir com um clique alto e Anya passar por ela, Lexa prendeu a respiração quando viu Anya. A mulher mais magra, a roupa era larga demais e seu rosto estava tenso, seu longo cabelo estava preso e ela caminhou relutantemente. Se sentou em silêncio na frente de Lexa as duas se encararam, a morena procurou por todo o rosto familiar a mulher que era como irmã para ela, a mulher que mentiu e enganou sem remorso. Lexa procurou por longos minutos e não encontrou indícios da mulher que ela achou que conhecia tão bem, a postura de Anya exalava indiferença forçada, sua boca estava em uma linha reta e seus olhos eram frios e sem sombra do seu velho humor sarcástico.
— Olá, Anya.
— Lexa. — disse secamente.
— Eu preciso entender, eu acho. — Lex falou, estava fazendo um esforço para falar com Anya sem a barreira das mágoas.
— Eu te entreguei a carta de Costia, não foi bastante explicativo? — Anya disse com uma ponta de sarcasmo.
Lexa quase sorriu ao ouvir o tom tão familiar. Quase.
— Não me refiro á isso, mas já que tocou no assunto eu quero agradecer, de novo, foi um gesto que eu apreciei muito.
Anya assentiu, seus ombros relaxaram levemente e ela parecia ter se livrado de uma grande carga. Seus olhos diziam isso, agora que ela parecia estar sentindo o suficiente para deixar Lexa ver, e então Lexa percebeu Anya tinha mudado tanto, de alguma forma ainda estava distante da pessoa que a morena achou que conhecia e amava, mas ainda era ela ali. O entendimento entre as duas também ainda era fácil, um troca de olhares dizia mil coisas, Lexa sabia o quanto que Anya estava arrependida. Talvez não por tudo, apenas por ter estragado o que elas tínhamos.
— Bom, eu vim aqui porque não posso te odiar, sabe? É exaustivo, e vem tirando muito de mim, bem mais do que estou disposta a oferecer. Eu sei que não se deve perdoar quem não pede perdão, mas eu perdoo você e acima de tudo, estou me perdoando. Estou me perdoando porque sei que tenho uma parcela de culpa na mudança que você sofreu e mesmo que inconsciente eu tive participação no seu sofrimento, considerando que você está aqui... acho que ainda tenho, não é?
Anya fechou a expressão novamente, escondendo tudo que estava sentindo com o desabafo de Lexa. Era como se a prisão tivesse tornado sua habilidade de se fechar ainda mais forte..
— Acho que sua loirinha andou filosofando para você, hein? — ela sorriu sem humor — Mas eu entendo, foi exaustivo te amar por tantos anos e te culpar por não me corresponder, e ainda é. Sei que o tempo não volta, mas isso é alguma coisa, não é? Perdoar não nos oferece uma segunda chance?
Lexa piscou várias vezes. O coração batia acelerado e ela sentiu lágrimas se formando no fundo de seus olhos. Anya também precisava de perdão para prosseguir!
— Talvez você precise desse perdão para seguir em frente, cortar os laços comigo ou para salvar o que tenha restado da nossa amizade. — Anya disse com calma, seu tom era sábio e firme como se tivesse praticado aquele discurso por meses — Mas eu preciso disso para continuar vivendo ou para começar a viver, que seja, eu preciso. Não posso dormir mais uma noite sequer sabendo que você está lá fora e me odeia por tudo que fiz. Eu me odeio o suficiente para nós duas. Não quero me perder, Lexa. Se você não vai mais estar comigo, então eu preciso estar inteira, preciso de mim.
Lexa engoliu o nó que se formou em sua garganta e fechou os olhos com força uma vez para impedir as lágrimas, mas uma ainda escapou.
— Sim, eu entendo... é importante salvar quem nós somos, eu perdoo você. — Lexa fungou — Eu te perdoo com todo meu coração, te desejo uma vida, desejo que para nós duas uma vida livre de ressentimentos e mágoas.
— Obrigada. — Anya disse em tom calmo e honesto.
Lexa mordeu os lábios e as duas se encararam por algum tempo, num impulso mais forte do que ela buscou as mãos de Anya em cima da mesa e segurou entre as suas.
— Você vai ficar bem? — perguntou, a preocupação era forte apesar de tudo, toda a consideração não se apagava do dia para a noite.
Anya arregalou os olhos e os fixou nas mãos que segurava as suas, apertou levemente e esboçou um fraco sorriso.
— Eu vou. Você vai ficar bem?
— Sim, eu vou. — Lexa respondeu com segurança.
Ela sorriu, mais uma vez aliviada.
— Que bom, é bom ouvir isso.
A visita acabou e Lexa se viu esperando por um abraço que poderia muito bem ser o último. Anya hesitou antes de sair e Lexa se aproximou e passou os braços em volta do corpo de outra com força e fungou de verdade sem lutar contra as lágrimas, era uma despedida e estava liberado desmoronar.
— Eu sinto muito. — Anya sussurrou. — Por tudo.
— Eu também. — Lexa balbuciou,
Anya se afastou com lágrimas nos olhos e deu um sorriso triste para Lexa antes de sair da sala.
Lexa saiu da instituição com o coração despedaçados pela saudade e por tudo que não teria mais com Anya, mas sua consciência estava conformada e aliviada. Quando aquilo passasse, ela se sentiria em paz.
Clarke tinha razão, o perdão cura.
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O "Mais" que eu preciso (Clexa) REVISADO
FanfictionFanfiction criada a partir da série The 100. Clarke Griffin está na reta final do curso de genética e precisa conseguir um trabalho na área antes de conseguir o diploma. Lexa Grigori é, aos 28 anos, uma geneticista reconhecida e herdeira de um dos m...