Capítulo 17

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Clarke encarava o corpo do homem estirado completamente congelada. O homem estava morto. Morto. Morto. Clarke engasgou com uma risada nervosa ao se dar conta de que tinha matado um homem. Uma batida na porta deixou os nervos da menina repentinamente agitados.

Jae, está tudo bem ai? — veio a voz lá de fora, acompanhada de mais batidas insistentes.

Clarke verificou a porta e prendeu a respiração, estava trancada, mas o homem do lado de fora começava a bater agressivamente.

— Jae? Porra, responde logo. — Clarke olhou na direção do homem caído tentando pensar em alguma coisa que pudesse fazer para se proteger.

O que é tudo isso?Tem alguém lá dentro? — A voz de Anya soou irritada — Abra logo essa porta.

Está trancada! — veio a voz do homem de novo.

Clarke começou a tremer de raiva e medo, queria deixar que abrissem a porta para encarar Anya, mas não podia se descontrolar.

— Talvez ele esteja mandando ver. — o homem que forçava a porta sugeriu com um sorriso e Clarke estremeceu.

Clarke sentiu seu ódio aumentar diante da frieza de seus captores. Talvez precisasse matar mais alguém antes que pudesse sair de lá. Se não tinham piedade dela, ela também não teria piedade deles e faria o que fosse necessário para sair dali.

Talvez... — Anya ponderou — Quando ele terminar e alguém o vir por aí, digam que eu quero conversar com ela, a sós. — Anya falou contemplativa — Dêem o fora daqui, todos terão sua vez em outro momento.

Clarke respirou fundo e se sentou no chão. Não entraria em pânico de novo. Esperaria eles se dispersarem e tentaria sair dali. Clarke apertou o alicate com força e olhou fixamente para o corpo do homem no chão. Ela queria conversar? Tudo bem, então.

*

Horas depois que Lexa declarou que ia se entregar à polícia.

Anya ligou a Ligo a TV com o controle remoto e se jogou no pequeno sofá de seu escritório no casarão. A mulher respirou fundo e olhou em volta: o lugar tinha duas amplas janelas, um sofá, um quadro na parede, uma mesa de mogno com material de trabalho em cima, e atrás da mesa tinha uma grande estante com livros. Mas o objeto que capturou sua atenção foi um porta retrato com uma foto de quando Lexa ela se formou no ensino médio. Anya e Lexa estavam sorridentes, Lexa envolvia a cintura de Anya e esta abraçava os ombros da morena. Pareciam felizes, muito felizes... Um nome citado no noticiário chamou a atenção de Anya:

— ... se entregou hoje à polícia por produção e venda de armas biológicas, vemos a seguir uma declaração do avô da senhorita Grigori, dono oficial dos laboratórios: eu não acredito que a minha neta, minha herdeira, essa mulher tão comprometida com a profissão, tenha tomado tais atitudes de forma egoísta e impensada, precisa ter outra explicação.

Anya assiste com o maxilar trincado enquanto exibem a filmagem de Lexa saindo da delegacia usando óculos escuros e uma expressão determinada; os repórteres tentam a todo custo conseguir uma declaração dela, mas ela não diz nada. Seu andar até a viatura da polícia é altivo e controlado. A repórter continua falando, mas Anya a ignorou. A mulher não esperava que ver Lexa naquela situação fosse deixá-la com tanta raiva. Aquelas imagens jogavam as esperanças de Anya no lixo. Lexa realmente se entregou para defender aquela menininha? por isso? Jogou toda a carreira no lixo para tentar salvar aquela garota sem importância?

A reportagem mudou para um policial declarando o desaparecimento de algumas pessoas e a foto de Clarke apareceu na tela, e foi só o que precisava para fazer Anya estourar. A mulher se levantou abruptamente e jogou a televisão no chão, lançou o controle na parede e gritou com toda a força.

— Aquela maldita... — respirou fundo para tentar se acalmar. Precisava pensar, e acima de tudo: precisava impedir que as lágrimas escapassem.

Lexa nunca mais arrancaria lágrimas de Anya, nunca mais. Ela não podia mais viver ao lado de Lexa e ser machucada pela outra de forma inconsciente. Não podia perdoar ser trocada tantas vezes... Lexa não enxergava quem esteve a seu lado o tempo todo?

Clarke...

Anya se endireitou e alinhou suas roupas. Já chega. Aquela menina nunca mais ficaria em seu caminho. Passou as mãos no rosto várias vezes para apagar os indícios da dor, estampou um sorriso cruel e saiu para encontrar Clarke.

*

Momento em que um dos capangas forçou a porta da casa de ferramentas.

O homem encarregado de levar comida para Clarke não tinha aparecido com o relatório, então Anya decidiu sondar o que estava acontecendo. Diogo esmurrava a porta e a loira ficou preocupada, algo com certeza estava errado.

— O que é tudo isso?Tem alguém lá dentro? — Anya perguntou irritada — Abra logo essa porta.

Diogo olhou para ela e franziu a testa.

Está trancada! — ele forçou mais um pouco e então deu um sorriso lascivo — Talvez ele esteja mandando ver.

Anya cruzou os braços para disfarçar o seu desconforto e tentou se lembrar de que Clarke merecia sofrer por se meter em relações que ela não entendia.

Talvez... — Anya ponderou — Quando ele terminar e alguém o vir por aí, digam que eu quero conversar com ela, a sós. — continuou contemplativa — Dêem o fora daqui, todos terão sua vez em outro momento.

Os homens se dispersaram rapidamente e Anya se afastou lentamente da casa de ferramentas. Muito próximo dali, o casarão se erguia altivamente. Sua construção rústica bem ameaçadora no cair da noite. Não muito longe dava para ver o celeiro. Mount Weather era a fazenda dos Grigori, Anya e Lexa tinham passado a infância ali, correndo pelos pastos e dando trabalho para os avós de Lexa. Anya sorriu com a lembrança da própria inocência ao passar pelo celeiro, caminhando até a árvore que ainda tinha o balanço. A mulher se sentou e olhou para para o céu, estava escurecendo rapidamente. Quantas vezes ela dividiu aquela visão com Lexa?

— Droga. — Anya soluçou. Todas aquelas lembranças eram sufocantes.

Sem se levantar do balanço, Anya esticou o braço para o tronco da árvore: as letras A + L continuavam gravadas no tronco. A mulher respirou fundo, não sinto medo, raiva ou arrependimento. Começava a se sentir conformada. Ela não teve o amor, então levaria dor para quem quer que fosse. Ainda tinha um papel para representar. Lexa estava acabada e agora Anya precisava acabar com Clarke.

Anya se levantou do balanço e olhou para ele uma última vez:

— Talvez possamos nos reencontrar novamente.

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Ao voltar para o casarão, Anya se depara com a porta aberta e as luzes acesas. Ela não se recorda de ter deixado as coisas daquela forma, mas não pode confiar em sua mente quando estava tão transtornada. Confusa, Anya entra na casa e sobre as escadas lentamente, a frente do escritório tinha sido tomada por um cheiro horrível de ferrugem e a maçaneta estava pegajosa.

— Ugh vou ter que mandar limpar isso aqui. — reclamou.

A mulher deu alguns passos em direção a mesa quando escutou a porta se fechar. Anya se virou assustada e conteve o grito que ficou preso em sua garganta.

— Você queria conversar comigo? — Clarke falou sem emoção, a roupa estava suja de sangue e ela estava apontando uma arma para Anya.

O "Mais" que eu preciso (Clexa) REVISADOOnde histórias criam vida. Descubra agora