2º Capítulo

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  - O quê que se passa aqui? – A professora perguntou e olhou para nós furiosa.

- Há pessoas que não gostam de ouvir certas coisas. Mas não se preocupe. Já está tudo resolvido.

- Espero bem que sim. Agora toca a entrar na sala de aula! Saiu do nosso meio e entrou na sala.

- Isto não fica assim. – Passou por mim e deu-me um encontrão.

Revirei os olhos e entrei na sala de aula. Sentei-me no lugar do costume, a mesa do fundo da sala, e tirei as coisas da minha mochila. Eu costumava ficar na mesa do fundo com uma rapariga da minha turma que também sofre de bullying. Normalmente passamos as aulas a falar do que nos tinham feito. Hoje, para variar, ela estava atrasada. Comecei a escrever a lição no caderno e alguém bate à porta. Depois da professora dar ordem a porta abre-se e todos os olhos estavam na mesma.

Uma rapariga de cabelos ruivos e olhos verdes entra pela porta e uns começam-se a rir e outros viraram a cara. A rapariga ruiva de olhos verdes era a minha companheira de mesa, a Annie. Já estava pronta para lhe contar tudo quando ela senta-se na mesa da frente.

- Annie? Annie! Chamei-lhe baixo. Ela olhou para trás.

- Que foi? Perguntou no mesmo tom que eu.

- Porquê que não vieste para aqui?

- Desculpa, mas não quero estar mais á tua beira. Já viste a fama que tens? Toda a gente diz que és uma puta. E agora andam a dizer que sou a tua substituta. Não posso andar mais contigo. Disse e virou-se para a frente.

O quê? Ela vai-se afastar de mim por causa do que dizem de mim? Desde que ela me conhece que dizem essas coisas de mim. Porquê que ela não se afastou antes?
Eu já vi que não posso confiar em ninguém. No fim todos acabam por me abandonar. Até a minha melhor amiga me abandonou. A pessoa em quem eu mais confiava. A pessoa que sempre disse que ia ficar ao meu lado, nos bons e maus momentos.
Os meus olhos estavam húmidos. Lá ia eu voltar a chorar.

- Professora? Chamei-a e ela veio ao meu lugar.

- Diga menina Gomez.

- Será que posso sair. É que não estou a sentir-me bem.

- Mas passa-se alguma coisa? Quer que vá alguém consigo?

- Não, não é preciso.

- A menina pode ir, mas depois quero ver se está bem.

- Obrigada professora.

Arrumei as minhas coisas na mochila e saí da sala. Neste momento deviam estar todos a perguntar uns aos outros o porquê de eu ter saído da aula. Já sei que vou ter que levar com as bocas, de que saí da sala para ir fazer um "servicinho".

Já estou farta disto. Ao início ainda aguentava ouvir as bocas, mas a cada dia que passa torna-se mais difícil. Nenhum deles sabe o que é ser gozado pela escola toda. Nenhum deles sabe o que é não ter amigos. Nenhum deles sabe o que é chegar a casa e fazer de conta que não se passou nada na escola e que toda a gente me adora.

Eu devia de receber o prémio de melhor atriz. Durante quatro anos, consegui enganar os meus pais. Eles pensam que tenho muitos amigos e que sou umas das populares da escola. Os professores, apesar de saberem que sou gozada, nunca disseram nada aos meus pais. Basta eu dizer que estou bem e que não ligo ao que os outros dizem, e eles acreditam logo.

O pior disto é que não tenho ninguém com quem desabafar. Não tenho nenhum amigo. Não tenho ninguém em quem possa confiar. Todos acabam por me abandonar. Acontece sempre a mesma coisa.

Percorri os corredores vazios e fui até á casa de banho. Fechei-me num compartimento e escorreguei pela porta abaixo enquanto as lágrimas escorriam-me pelo rosto. Eu já não aguento mais isto. Estou farta de ser julgada! Estou farta disto TUDO! Neste momento só me apetece morrer. Desaparecer e esquecer que estas pessoas existem!

Limpei as lágrimas que escorriam pelas bochechas abaixo e fui á minha mochila. Abri o bolso pequeno e tirei de lá uma lâmina. Ainda tinha algumas marcas de sangue, da última vez que me tinha cortado na escola.

Para quem se pergunta, ando sempre com uma lâmina. Nunca se sabe quando é que vou precisar de uma das minhas melhores amigas.

Tirei o meu casaco e puxei as mangas da camisola para cima. Á medida que aproximava a lâmina do meu braço, a vontade de me cortar aumentava. Como os vampiros precisavam de sangue, eu preciso de me cortar. Uma comparação estúpida, porque os vampiros não existem, mas é a melhor comparação que consigo arranjar neste momento.

Quando senti uma dor forte no meu pulso inclinei a cabeça para trás e fiz mais força na lâmina. Afastei a lâmina e voltei a fazer o mesmo, só que noutras partes do braço. Á medida que me cortava, a vontade de chorar diminuía e já não sentia tanta dor. Era esse o lado bom de me cortar. Cortar-me alivia-me. Alivia a dor que sinto dentro de mim. Esse também era o motivo por me cortar. Para diminuir a dor.

Tirei o pacote de lenços do bolso da minha mochila e limpei o sangue que escorria pelo meu braço. Peguei num lenço e limpei algumas gotas de sangue, que tinham caído no chão. Esperei que parasse de votar sangue e vesti o meu casaco. Pus a mochila às costas e saí do compartimento. Fui até ao lavatório e passei o meu tosto por água. Limpei as mãos e a cara com papel e saí da casa de banho.

(...)

Finalmente estava a sair da escola. Estava a ver que as aulas nunca mais acabavam!
Meti os fones nos ouvidos e fui para casa o mais depressa possível. Estava ansiosa para saber o que os meus pais me queriam contar.

Entrei em casa, pousei a mochila em cima do sofá e fui até á cozinha. Entrei e umas vozes familiares entraram nos meus ouvidos. Os meus pais já tinham chegado.

- Chegaram cedo hoje! Disse pegando numa maça.

- Pedi para sair mais cedo. Disse o meu pai.

- Porquê? – Sentei-me em cima do balcão.

- Quero passar mais tempo com a minha família. - Estranho ouvir o meu pai dizer isto.

- Ok, não vem aí coisa boa. A minha mãe riu-se e o meu pai olhou para ela. Digam logo o que têm para dizer.

- Tu sabes que nos gostamos muito de ti, não sabes? A minha mãe aproximou-se de nós.

- Sê direta.

- Estou grávida. – Disse e ao mesmo tempo põe as duas mãos á volta da barriga.

Eu fiquei sem reação. Olhei para os dois e deixei cair a maça que tinha nas mãos.

- Eu disse-te que ela não ia reagir bem. – O meu pai pós as mãos na cabeça.

- Selena? Diz alguma coisa, filha.

- Eu não acredito que vou ter uma irmã! Dei um grito e abracei a minha mãe.

Ao início ela ficou surpresa pela minha reação, mas depois abraçou-me com todas as suas forças.

- Mas as notícias não ficam por aqui. – Larguei-a de imediato e olhei para o meu pai.

- É boa ou má?

- Depende. – Olharam um para o outro.

- Eu recebi uma proposta de trabalho irrecusável! Vou receber o dobro do que estou a receber agora! E como vamos ter mais despesas com o bebé...Coçou a cabeça de tão nervoso que estava.

- E isso é uma má notícia? É uma ótima notícia!

- O problema é que vamos ter que nos mudar para o Canadá. Mais precisamente Ontário.   

Depressed (Parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora