— Então, onde você está agora?
Minha mãe questionou pela milésima vez. Revirei os olhos por instinto e olhei ao redor quando subi o último degrau das escadas.
A grama em frente ao enorme prédio estava bem aparada e as árvores deixavam o local um tanto aconchegante. A maior parte do pessoal estava dividida em rodas de amigos. Diria que eram os veteranos, pois assim como tinha grupos de colegas, também haviam pessoas como eu: Novatos. Novatos totalmente perdidos.
— Estou pronta para entrar na faculdade, mãe. Agora, eu realmente preciso desligar.
— Tudo bem! Aproveite bem seu primeiro dia, minha filha. Tenho certeza que você vai adorar.
Franzi o lábio em desgosto e logo o mordi com força. Eu não iria adorar nada que tinha naquele espaço, talvez gostar. O que eu queria mesmo era voltar para Nova York. Voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído. Voltar para a Columbia.
— Tchau, mãe.
— Eu amo você.
— Também.
Peguei o papel amassado dentro do meu bolso para checar onde seria minha primeira aula.
Uma semana atrás, eu havia visitado o prédio em uma pequena excursão. Eu queria conhecer um pouco o local, no entanto, falhei miseravelmente.
Primeiro, porque cheguei atrasada por ter pegado o ônibus errado. Segundo, porque eu só consegui ver uma parte da faculdade já que o passeio estava quase no fim. E, por último, eu estava tão nervosa que nem ao menos tinha conseguido decorar o lugar que daria todos aqueles enormes corredores.
Quando me vi pronta para seguir o caminho, meu corpo bateu contra outro assim que fui dar passos para trás.
— Me desculpe! — disse em sobressalto, me virando.
Deparei-me com uma garota um pouco mais baixa do que eu. Ela tinha cabelos castanhos e abaixo dos ombros. Seus olhos eram em um tom escuro.
— Eu que peço desculpas. Estava tão vidrada nesse celular que acabei esquecendo que havia tantas pessoas nesse lugar. — disse em meio de um sorriso que me deixou mais tranquila. — Primeiro dia?
Soltei um suspiro ao encolher meus ombros.
— Sim. Estava indo em direção à sala. Pelo menos, eu acho que é essa direção.
Ela finalmente guardou o celular no bolso enquanto me observava com cuidado.
— Onde é o local? Posso te ajudar com isso.
Alcancei o papel amassado para ela. A maioria do pessoal já estava se dirigindo as suas respectivas aulas enquanto eu permanecia parada conversando com uma pessoa que nem ao menos sabia o nome.
— Eu tive aqui uma semana atrás, mas não consegui decorar onde cada corredor dava acesso. — falei, notando seu silêncio.
— Semana passada? — ela me olhou com o mesmo sorriso de alguns segundos atrás. — Eu também tive. No entanto, eu tenho uma ótima memória e consegui decorar cada parte desse lugar.
Abri a boca minimamente ao expressar minha surpresa pela confiança que ela transbordava ao falar aquilo.
Sem ao menos me dizer para qual local deveria ir, ela começou a caminhar. Não hesitei em segui-la.
— A sua sala é no quarto corredor, não no terceiro. Eu já estive lá e estava completamente vazia. Quero dizer, havia três garotas lá dentro, ou seja, é o mesmo que vazia. Não acha?— ela me olhou por um instante. — Por qual motivo escolheu jornalismo?
Tentei processar cada palavra que ela falava para finalmente responder. Ajeitei a bolsa em meu ombro um tanto desconfortável com aquela pergunta. Toda vez que eu falava sobre o real motivo de ter escolhido aquele curso a maioria me julgava.
— Gosto de comunicação em geral. Ler, escrever...
— Legal! Sua sala é a mesma que a minha. E sim, eu também escolhi jornalismo. No entanto, escolhi porque gosto de estar no meio dos famosos e porque adoraria aparecer na televisão.
Ri juntamente com ela após sua declaração. Eu nunca havia me imaginado em algum programa de televisão, porém diversas vezes entre os famosos.
Nós duas paramos em frente a uma porta branca. A mesma se encontrava entreaberta então já podíamos notar o número de pessoas lá dentro. A maior parte eram garotas que aparentavam ter minha idade, mas também havia alguns meninos.
— É essa aqui.
Esperei a menina entrar e logo fiz o mesmo. Todos ali dentro pareciam já estar se acomodando com a pessoa ao lado ou à frente. Uns conversavam animadamente e outros eram mais quietos.
Segui a garota até as duas carteiras vazias no meio da sala.
— A propósito, me chamo Kylie. Kylie Turner.
— Every Holdings.
(...)
Quando cheguei ao apartamento em que estava morando, pelo menos até terminar a faculdade, comecei a ajeita-lo. Fazia uma semana e três dias que estava em Londres. Não havia tido tempo e muito menos ânimo de explorar a cidade. Passei boa parte dos meus dias arrumando o lugar onde moraria por anos.
Está tudo bem por aí?
Respirei fundo antes de responder à mensagem para minha mãe. Nos últimos dias ela estava tão próxima que me deixava sufocada. Eu sabia que era por preocupação, mas mesmo assim me irritava. Era como se ela tivesse se certificando de que nada de ruim aconteceria comigo.
Ao lembrar da sua forma estranha de agir, me recordei de suas palavras no aeroporto: "Tudo o que eu e seu pai fazemos é para seu bem.❞
Tudo ótimo.
Respondi, não tendo total certeza daquelas palavras.
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SUSSURRA-ME
RomanceEles eram diferentes, porém, tinham coisas em comum: liberdade, desapego e o medo da entrega. A cada vez que se encontravam não conseguiam se controlar. Aqueles olhos cor de mel, os lábios, o jeito de Nate Young despertava a atenção de Every Holdin...