VIII

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Já tava na hora de jantar, então Beatrice foi preparar algo pra nós. Eloah já tinha acordado e já tava bem melhor, acho que ela já tava sabendo lidar com as mudanças desse novo mundo. E eu já tinha esquecido tudo que aconteceu a algumas horas atrás, só espero que ninguém tenha presenciado o momento. Eu ia contar pra Eloah, certeza, mas esse não era o momento certo. Não sei como ela reagiria a mais uma surpresa não tão agradável como essa.

***
Ate agora não me conformei com a perda do Shawn, ele já era um amigo pra mim mesmo com pouco tempo de convivência.

Ele se arriscou por mim, me salvou e eu não pude fazer nada, ver ele morrendo daquele jeito só partiu mais ainda meu coração. Passei um tempo mal mas dormi e até que foi bom, tirou o peso das minhas costas. Dormi com Leticia do meu lado e acordei sem ela, queria saber onde ela estava.

Depois de passar nesse lado do Alabama, na ronda que perdi o Shawn encontramos uma orda que estava vindo em direção a cidade, então Norman resolveu seguir, ir pra outro estado e procurar novamente um lugar pra ficar, acordei e já estávamos na estrada a algum tempo.

Só paramos outra vez em Meridian, Mississippi. As vezes Norman parece tão sem rumo, ele não sabe pra onde ir, não tem o objectivo de chegar em algum lugar, estamos andando apenas para fugir de algum lugar ou outro que se encha de zumbis, apenas pra continuarmos vivos, eu sabia que devíamos conversar sobre isso mas não estamos preparados.
Eu não sei por que eles acham que eu preciso falar com Norman, como se eu fosse diferente deles, se eles falarem com certeza Norman vai ouvir.
Talvez eles achem que Norman me trata diferente de alguma forma? Talvez sim mas nada a ver comigo, é questão de honra pra ele, pois prometeu com o sangue de meu pai nas roupas que cuidaria de mim não importa o que acontecesse, o tratamento não é diferente, pro Norman eu sou como uma filha. Talvez por isso ele me ouça com mais facilidade mas não quer dizer que eu tenha que falar, julga-lo e cobrar dele um objetivo, um lugar pra chegar como se fosse isso que importasse, estamos num apocalipse zumbi, a nossa casa, ou quando vamos chegar nela não importa apenas temos que sobreviver.

Leticia passou a viagem inteira distante, não falou muito comigo, só ficou sentada naquela mesa, e toda vez que a Juliana se aproximava ela ficava desconfortável, não falei nada eu sei que ela sabe, não gosto daquela menina perto dela, tento fazer ela lembrar dos nossos beijos, do fim de tarde naquela sorveteria, mas no fim ela ainda perde tempo olhando pra aquela menina.

Paramos novamente, um pneu furou, a freiada que Norman deu assustou todo mundo, mas nada de grave aconteceu, Norman foi trocar o pneu mas o estepe não estava lá, como não vimos antes? Alguém teria que ir até a cidade mais próxima dali e procurar.
Norman se ofereceu logo de cara, e depois me ofereci pra ir com ele e ele concordou. Estava cansada de ficar ali tentando adivinhar o que aconteceu com essas duas, precisava sair pra ver se esquecia disso tudo.

Ficamos ali parados na estrada durante a noite, Norman queria ir bem cedo no outro dia então achei melhor ir dormir, Leticia deitou do meu lado, passou a ponta dos dedos dos meus braços até o ombro e depois deu um beijo no meu pescoço que me fez arrepiar inteira, mas parou por ali mesmo, deitei olhando pra ela e nos encaramos ate eu dormir sem dizer uma palavra. Ela tentava sorrir mas alguma coisa estava a incomodando como se estivesse engasgada pra dizer algo. De novo fingi não perceber.

A noite foi tranquila, acordei e o sol nem havia saido por inteiro e Norman já estava lá pronto pra ir. Levantei com cuidado pra não acordar Leticia, mas mesmo assim antes de sair fui beija-la, que acabou despertando um pouco, dei tchau e então fomos.

Parece que ia ser uma caminhada longa, nos dois estávamos calados, mas mesmo assim andando juntos, sorrindo um pro outro, quer dizer, eu sorria, ele quase nada, mal mostrava os dentes mas era o jeito dele, eu entendo.

-Você queria mesmo vir comigo ou esta fugindo de alguma coisa? - ele falou agora sem nenhum sorriso.

-Não estou fugindo, só queria ficar longe e sim queria vir também, o tempo que passo com você é incrível, melhora meu dia completamente - respondi.

-Quem diria, tudo aquilo que eu tinha indo embora assim, um seriado tão famoso, fãs, amigos, minha familia, tudo e graças a esse apocalipse. - ele falou desviando o olhar pra eu não ver seus olhos encherem de lagrimas.

-Norman, todos sofremos perdas, cabe a nos decidir superar ou nos matar por dentro por isso. O apocalipse não foi nossa culpa, nada que nós tenhamos feito causou isso, então nos culpar ou ficar procurando o "e se " das coisas não é o melhor a fazer - falei.

-Eu sei, vc tem razão, quantos anos tem mesmo senhora filosofa? - perguntou brincando.

-Filosofa? Sério? Eu odeio filosofia - nós dois rimos.

Não estava sendo fácil pra ninguém tudo isso mas estamos nos dando bem.
Caminhamos bastante e conversamos mais ainda, ate que chegamos a uma cidadezinha de beira de estrada, só se via um posto de gasolina, um bar, um pequeno mercado e casinhas por perto nada muito grande, então paramos no posto pra procurar o pneu.
O mercadinho parecia ter um pouco de tudo, quando funcionava claro porque agora esta saqueado. Não tem quase nada pra ver, mesmo assim fui ate lá enquanto Norman pegava o pneu.
A porta estava aberta, não fiz esforço algum, tinha muita coisa revirada mas consegui enxergar a sessão de roupas, e fui dar uma olhada.

Com a minha espada em mãos entrei ate lá no fundo, estava quase chegando quando um zumbi agarra meu pé, por pouco que não me morde, consegui emperrar minha espada no meio de sua cabeça, as vezes imagino como deve ser essa sensação de ter uma espada na cabeça. Mas espero nunca senti-la.

Quando finalmente chego ate as roupas escuto uma buzina, pego quantas peças femininas que consigo e saio ate a porta da loja, Norman tinha um carro, não posso acreditar. Era lindo, fiz um sinal com a cabeca e corri ate ele.

-Aonde conseguiu esse carro? -perguntei curiosa.

-Eu estava olhando pelo posto e ali atrás tem uma garagem e esse carro estava la com mais vários pneus, os quais peguei muitos - ele falou orgulhoso apontando pro banco de trás.

-Você não perde tempo não é mesmo ? E onde vai por esses pneus? - perguntei.

-Tem um compartimento do lado do trailer que podiamos usar pra isso - respondeu - e você tem o que ai?

-Roupas- falei com um sorriso de "não me critique".

Ele apenas sorriu e disse "tudo bem" então voltamos pro trailer.
No caminho já fui escolhendo quais peças queria e as que não joguei pela janela, Norman disse que podia dar pra Juliana, não mesmo!!!
Chegamos lá já devia ser 3 da tarde? Não sei, nunca sei dizer a hora como Norman faz só de olhar o sol. Estava com fome então pedi pra Bea me dar algo, ela estava nos tratando como filhas já e era um amor de pessoa.
De novo Leticia e Juliana uma em cada canto do trailer, Chan e Jorge não estavam ali mas também não perguntei por eles.
Disse "oi" pra Leticia e me sentei com ela pra comer. Mesmo clima, mesmos olhares, estava dificil mas eu não queria ser a entrometida ciumenta, se estava acontecendo algo só ela podia me falar.

Run! Zombies In AreaOnde histórias criam vida. Descubra agora