XIX

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Fiquei com Alec lá em cima conversando por um bom tempo, ele me contou muita coisa sobre ele, e por que estava lá no estacionamento com o avô.

Eu preferi não contar nada da minha vida, ele saber dms não é bom, não quero me apegar a mais ninguém. Só falamos sobre Leticia ter sumido e nada mais. Deu hora do almoço e descemos lá pra baixo.

Anne veio correndo atrás de mim perguntando de Leticia, ela vai sentir muita falta dela se ela não voltar logo.

É ruim quando se apega a uma pessoa e depois a perde, é como se um pedaço de você fosse arrancado com tanta força, com tanta violência que causa um sofrimento enorme a quem fica. Fico imaginando isso em uma criança, Anne não precisava passar por isso agora, nem eu mas Leticia deve saber o que esta fazendo.

Sentei com Anne na mesa ela mal comeu, Bea ficou preocupada com a filha mas não tinha o que fazer.
Norman me perguntou o que tinha acontecido e eu não sabia explicar só disse o mesmo "Leticia sumiu".

Ninguém acredita em mim mas é a verdade. Eu não pude nem tentar fazer ela ficar.

P.O.V Leticia

Eu não sabia o que estava fazendo, só sei que precisava de um tempo pra respirar. Eu precisava parar pra pensar no que aconteceu, nada tava se encaixando, eu deixei meus avós pra trás sem nenhum aviso, deixei meus pais, eu poderia ter protegido eles mas não, acabei saindo correndo como se não estivesse acontecendo nada. Eu sentia falta dos meus avos, eles não eram os melhores mas faziam parte do meu dia-a-dia, não sabia que chegaria nesse momento de parar e pensar. Eu entreguei minha família inteira pra morte. Eu só queria chorar, jogar pra fora todas as lágrimas que eu guardei por todos esses dias. Agora não tinha mais o que fazer, não adiantaria voltar pra trás, eles poderiam estar mortos ou ter virado zumbis, não sei qual é o pior. Eu não vou poder olhar nos olhos dos meus pais e falar o quanto eu amo eles. Não vou poder agradecer minha avó por tudo que ela me fez. Não vou poder discutir mais uma vez com meu avô por motivos sem noção.

Nunca chorei tanto, talvez era isso que eu tava precisando. Jogar tudo pra fora. Eu teria que pensar diferente agora. Tenho amigos do meu lado querendo sobreviver, pessoas que também perderam suas famílias, preciso ser forte e continuar lutando pra viver. Agora eu teria que construir a minha família. Mas mesmo pensando em tudo isso eu não conseguia parar de chorar, tava doendo muito. Eu não sei se aguentaria voltar. Minha cabeça tava explodindo, eu precisava esquecer de tudo, precisava apagar. Acabei dormindo.

Acordei chorando, limpei as lágrimas e vi que já tava escurecendo, não poderia voltar pra lá agora. Eu não sei o caminho é no escuro seria mais difícil achar o caminho certo. Liguei à luz do carro pra ver como estava as ruas e já tava cheia de zumbis, desliguei e fiquei quieta lá dentro. Agora seria uma péssima hora de passear pela cidade então fiquei por ali mesmo, por sorte estava num lugar bem protegido. Ligar o som seria uma péssima ideia, chamaria os zumbis então a única coisa que tinha pra fazer era ficar olhando pra rua. Sono eu não tinha, acabei dormindo a tarde toda. E seria até melhor ficar acordada, nunca se sabe o que pode acontecer.

Acabei voltando para o mesmo pensamento. Eu estava sensível de uma tal forma que isso me assustava. A cada vez lembrava era uma lágrima. Eu não sei até quando viveríamos, não sei se isso ia passar, ninguém sabia então pra que continuar vivendo? Isso poderia não ter fim e as pessoas vivas poderiam não ter mais famílias, não ter um lugar pra morar, não ter alimentos, porque chegaria um momento em que acabaria todos os alimentos e depois como nos viveríamos? Não sei, posso estar ficando doida mas acho que não compensa mais viver. Eu não aguentaria perder mais pessoas.

A noite estava longa, parecia não ter fim, será que o sol também morreu? E se o sol morreu? Como eu voltaria? E se o hospital foi atacado? Quem me fará companhia? E se eu for a única sobrevivente? O que eu vou fazer? Acho que isso é um adeus.

Eu estava tonta, tudo parecia ter duplicado, eu estava ouvindo vozes e não tava mais sentindo minhas mãos, eu estava suando muito e meus olhos estavam ficando pesados até que tudo sumiu, eu não enxergava mais nada, será isso a morte? Tão simples assim? Tá muito fácil.

Abri os olhos e tava tudo muito claro, tinha uma luz muito forte me impendindo de continuar abrindo os olhos. Eu não sabia aonde estava e o que estava fazendo ali, por um momento minha memória apagou tudo o que estava guardado. Fui lembrando das coisas mas não conseguia lembrar o caminho pra voltar, não sabia aonde o grupo estava e aquilo me deixou em pânico. Eu teria que fazer algo pra lembrar como voltar. Estava morrendo de fome então fui procurar algo pra comer. Andei pelas ruas e nada. Acabei achando o mercado e já fui atacando as coisas, peguei algumas coisas pra levar pro carro e outras fui comendo. Guardei as coisas no banco do passageiro e entrei no carro, não sabia nem que horas era. Poderia ser muito cedo ou muito tarde, se eu tiver sorte terei mais oito horas pra procurar o caminho.

Já tava escurecendo novamente e eu já estava numa estrada, por sorte encontrei essa estrada mas não tinha placa dizendo pra onde ia, não tinha nada por perto só árvores, eu teria que parar em algum lugar e continuar amanhã mas ia esperar escurecer mais um pouco pra poder parar. Seria arriscado demais ficar na estrada mas era o único jeito. Entrei numa mata e fiquei por ali, tava bem escondida, amanhã bem cedo eu continuaria o caminho, tenho certeza que não estava longe.

Run! Zombies In AreaOnde histórias criam vida. Descubra agora