Capítulo 3

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Finalmente chegamos ao restaurante para o meu tão esperado almoço. Estávamos entre discussões sobre a tal da viagem e piadas sobre a dificuldade do Dani em pronunciar "repórter". Quem já estava por lá deve ter pensado por um instante que éramos um grupo de feirantes entrando no estabelecimento.

Me dirigi ao banquete para conferir o que estavam servindo naquela tarde. Peguei um pouco de arroz com feijão, salada de alface com tomate e bastante cebola, por que não? Filé de frango e muita batata frita. Linguiça e coração de frango. Eu realmente estava com muita fome. Olhei para o Gordão e vi o de sempre: ele passava pelas fritas e pegava umas três, quatro, cinco, talvez seis e as comia. Isso sem contar com as que já estavam em seu prato. "É só para experimentar e ver se está bom", dizia ele. Certas vezes o notava pegando bolinhos de queijo ou até mesmo experimentando pedacinhos de salsicha. Ele era tão cara de pau que fazia isso sem medo e chegava à balança para pesar o prato ainda mastigando e repetindo de boca cheia para a funcionária: "é só para experimentar, sabe?". O prato raramente pesava o bastante para o valor a ser pago passar de cinco reais enquanto os nossos sempre passavam dos quinze. Em resumo, ele almoçava na fila mesmo. Não me espantaria algum dia vê-lo se aproximar da balança com um peixe inteiro se rebatendo e tentando escapar de sua boca.

Todos sentaram-se à mesa, cada um com seu prato. Escolhemos a mesa mais próxima das janelas com vista para a rua, estrategicamente na área mais arejada do restaurante. Se pela manhã estava abafado, naquele horário então já estávamos prestes a cozinhar por conta dos insuportáveis trinta e três graus daquele início de tarde.

– E aí Edu. Você está dentro da aventura, certo? – Perguntou-me o César dando continuidade ao assunto sobre a viagem de carro para o exterior.

– Claro. Vou dar meu jeito. Isso está se parecendo com o Se Beber Não Case, mas fazer o que se sou idiota, tonto e maluco o bastante para aceitar qualquer coisa que me propõem e que sinto que não vai dar certo?

– Ah garoto. Somos todos malucos! Faltam só vocês confirmarem agora. – Jogou a atenção para o Gordão e o Dani.

– Também vou dar o meu jeito. Vou conversar com a Rose assim que chegar do trabalho. Conheço a minha mulher. Vou contá-la que lá vendem muitos perfumes. A Rose ama perfumes. – Respondeu o Dani.

– E você. Vai com a gente, não vai Gordão? Lá tem cerveja, cara. – Eu disse para tentar convencê-lo.

– Ah... você sabe como me ganhar! – Respondeu.

– Pensando bem, podemos falar para a Rose que o Martín forma um casal com o Edu, ao invés do Guto – disse o César – e por falar no Guto. Onde ele está?

O Gordão terminou de mastigar toda a sua salada, deu um gole no refrigerante do Dani e ajeitou-se para responder: – o vi correndo para a recepção bem na hora que estávamos indo para o elevador. – Parou. Respirou fundo e concluiu – creio que não queria perder o horário do mensageiro que coleta os envelopes. – E por fim arrotou de modo silencioso, porém com o típico e insuportável odor de arroto.

Prendendo a minha respiração com os dedos apertando o nariz para não sentir aquilo por conta daquele gordo filho de uma mãe, ainda completei sobre o paradeiro do Guto com minha voz num timbre nasalado:

– E depois disso, acredito que ele vá passar na clínica para agendar a massagem.

– Ok. Não deixem de avisá-lo para que ele também possa confirmar.

Terminamos de comer e nos levantamos. Caminhamos até a fila do caixa. Comi tanto que minha vontade era sair dali carregado pelos outros.

Saímos de lá e fomos nos sentar do outro lado da rua, de frente para o prédio da Supra. Foi quando o Dani levantou uma questão muito importante:

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora