Encostamos o carro próximo a uma casa bem grande que havia por lá. Não era uma mansão, muito menos luxuosa. Era apenas grande. Muito grande e antiga.
– Olá, forasteiros!
– Quem é esse? – Perguntei ao ver o cara de uns quarenta e cinco anos, magro, alto, cabelo penteado de lado e com a sua barba por fazer.
– Pela voz, esse deve ser o Fabiano da Amplo Tríplice Comex, empresa parceira da Supra nas operações de importação e exportação aqui em Foz do Iguaçu.
– Vocês devem ser os loucos que eu pensava que nunca conseguiriam chegar até aqui.
Saímos todos do carro e fomos cumprimentá-lo.
– Eu sou o Fabiano Santa Cruz da importação. Como vão? Chegaram cedo.
– Estamos cansados, mas muito motivados, Fabiano – respondeu o César.
– Peguem suas mochilas e venham comigo. Vou apresentar-lhes para o pessoal e em seguida os levarei até onde vocês poderão dormir durante as próximas noites. Vão economizar uma boa grana em estadia. Com a gente isso será na faixa.
– Não sabemos nem como te agradecer - disse o Ricardo. – A propósito, sou o Ricardo Santos da supervisão da Supra. É um prazer imenso poder te conhecer.
– Fique frio. É pela parceria entre as nossas empresas. Está tudo bem. Sempre temos a vontade de conhecer as pessoas com quem sempre falamos por telefone e trocamos e-mails. O César não havia falado sobre a sua vinda, Ricardo. Sua presença é uma surpresa agradável.
– Fui o último a me envolver nesta viagem. Muito obrigado!
Caminhamos pelo quintal daquele casarão até chegarmos aos fundos. Lá havia um rapaz careca e barbudo preparando uma churrasqueira. Ele não era muito alto. Perto dele estava uma moça que havia acabado de sair lá de dentro da casa. Era uma mulata linda. Ela tinha seus cabelos cacheados. Era a cara do Brasil, uma bela e típica brasileira. Uma moça linda como ela por ali era a única pessoa que nós forasteiros seriamos capazes de olhar e ter certeza de que era brasileira já que a população que frequentava a região era composta por muitos brasileiros, paraguaios, argentinos e até alguns árabes e povos de outras nações sul-americanas.
– É aqui mesmo que funciona o nosso escritório. Antes era uma casa bem velha. Compramos o terreno de trás e então começamos a construir mais dois andares e outros cômodos mais aos fundos até chegarmos a esse tamanho.
– Lucas e Ângela. Estes são os aventureiros de São Paulo.
– Olá! – Dissemos.
– Olá! - Responderam.
– Tivemos de vir fazer plantão logo cedo. Decidimos dar um churrasco após a chegada de vocês. A Ângela é quem cuida da parte de exportação. Já o Lucas é importação e exportação. Ele é um funcionário estratégico, pois é paraguaio e entende da legislação de lá, mas fala o português perfeitamente. Aliás, muitos dos que vivem por aqui falam o português e o espanhol de modo claro e quase que perfeitos.
– Mas ele também fala o Guarani. Estou certo? – Perguntei.
– Sim, está! Essa é a língua oficial do meu país ao lado do espanhol. Prazer. Sou o Lucas Sanabria.
– O prazer é nosso, Lucas. – Respondi. – Você é tipo um brasiguaio?
– Os brasiguaios são brasileiros que vivem e trabalham no campo do lado paraguaio da fronteira. Neste caso eu seria uma espécie de "paraleiro" – disse ele rindo de seu termo recém inventado.
– Tem razão. E quanto à você, Fabiano. Também fala bem o Guarani?
– Aí já é demais né, Eduardo – respondeu calmo e sorridente –, mas até que conheço alguns termos desse idioma.
– Também sou de São Paulo, rapazes. De quais áreas que são vocês? – Perguntou-nos a Ângela sorridente e muito simpática.
– Nasci em São Paulo, mas desde muito pequeno vivo em Diadema, na região metropolitana. Sou o único que não vive na capital do estado – respondi –. O César e o Daniel são da zona norte. Moram na região de Santana. Eles são os dois que estão conversando ali na frente.
– Eu sou da zona oeste – disse o Tony. – Moro na Barra Funda.
– Eu sou o único da zona leste. Moro no Tatuapé - disse o Guto.
– Que legal. A minha família é do bairro de Itaquera. Fica na zona leste também. Nasci e cresci lá. Estou aqui há cinco anos.
– Já eu sou do Ipiranga – disse o Gordão. – Moro próximo da Rua do Grito.
Nossa conversa parou no momento que chegava um senhor que devia ter uns sessenta anos. Ele usava uma camisa regata branca e estava com um boné preto em sua cabeça. Sua barba era longa e grisalha.
– Meninos – disse a Ângela –, este é o velho Carlos. Ele é o nosso zelador e quem faz todo o tipo de serviço nas instalações da Amplo. Carlos, estes são os rapazes que vieram de São Paulo. Você poderia levá-los lá para cima e mostrar-lhes onde ficarão?
– Sim, meu anjo. Venham comigo, guris.
Todos nos reunimos e seguimos o velho Carlos em fila indiana. Entramos pelos fundos na parte onde havia dois andares acima do térreo. Lá não tinha nenhum elevador, então fomos de escada mesmo, não que fizéssemos questão de ir de elevador, mas seria bom pelo velho Carlos, pois tínhamos de subir dois lances de escada entre um andar e outro.
– Eu era morador daqui antigamente. Aqui era apenas uma casinha num terreno maior. A família do Fabiano morava no sobrado da frente. Quando se mudaram para o centro da cidade eu passei a tomar conta de tudo por aqui na ausência dos Santa Cruz. O Fabiano juntou os dois terrenos num só para construir tudo isso aqui. Sou eu quem cuida dele desde que seus pais faleceram em noventa e nove.
À medida que subíamos as escadas, os censores de movimento nos detectavam e ascendiam as luzes automaticamente, um sensor para cada lance. Quando estávamos chegando no segundo andar, o velho Carlos caiu da escada. Todos ficaram muito assustados e preocupados com ele.
– CARALHO! – Gritou o Dani –. Está tudo bem com o senhor?
– Está sim. Fiquem calmos, meninos. Eu sempre caio nessa parte da escada.
– Sempre? – Perguntou o Ricardo.
– Sim. É que o sensor de movimento daqui tem um certo atraso, então a luz nessa parte sempre se ascende depois que já caí na escuridão. Acontece que dessa vez a luz aqui não demorou para ascender e eu já estava no chão me entregando ao tombo. Esse sensor me pregou uma peça.
– O senhor não bate bem da cabeça – disse o Guto –. Se jogou no chão só porque pensou que a luz não se ascenderia? Você já deve ter trabalhado com comércio exterior durante a sua juventude. Só pode!
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...