Capítulo 5

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Antes da cerveja...

– Bom dia! – Aquela era uma das poucas manhãs que eu não estava atrasado.

– Bom dia. Caiu da cama? – Perguntou o Augusto.

– Já sei. Dormiu aqui não foi? – Supôs o Gordão.

– Vão à merda vocês dois!

O Guto com cara de preocupado, ao invés de me xingar por manda-los à merda, apenas tocou no assunto da viagem em tom de desistência: – E aí, sobre essa parada de ir pro Paraguai... ainda dá tempo de desistir?

– Para com isso, Guto. Todos nós iremos e ninguém desistirá... não no meu turno – disse o Gordão cochichando.

– Por que você está falando baixo? – perguntou o Guto.

– Ah... Não sei! Isso sempre acontece – disse o Gordão falando bem alto.

Viramo-nos cada um para o seu computador e focamos em nossas atividades. Aquela era uma manhã sem muitas coisas a serem feitas. Depois de terminar tudo o que tinha sobre minha mesa e aprovar alguns documentos de embarque acessei o Google Maps para consultar quais as opções de rotas de São Paulo para Foz do Iguaçu. As duas melhores opções variavam de 12 a 13 horas de viagem, mas levando em consideração algumas paradas para esticarmos o corpo, mijarmos... cagarmos em situação extrema e comermos algo, essa viagem poderia levar até 15 horas.

Uma das alternativas era seguir para o Paraná passando por Itapetininga, Capão Bonito e Itararé no interior de São Paulo, entre muitas outras cidades, claro. Depois já no Paraná seguir para Ponta Grossa, passando por Jaguariaíva e Castro e por fim ir para o oeste passando por cidades como Guarapuava e Laranjeiras do Sul até chegar a Foz. A segunda alternativa de rota era quase uma hora mais rápida que a primeira, seguindo para o oeste pelo interior de São Paulo passando próximo de Tatuí e Avaré e depois por Ourinhos e Assis para então seguir para o sul em direção à cidade de Londrina já no Paraná. De Londrina seguiríamos por Maringá e Cascavel, até finalmente estarmos em Foz do Iguaçu, ou Niagara Falls como disse o Gordão ao confundir-se alguns dias antes.

Tirei um print da tela e mandei por e-mail para todos os malucos.

"Bom dia, meninas!

Vejam abaixo as duas melhores opções de rota São Paulo - Foz do Iguaçu.

Por favor verifiquem a melhor opção e organizem-se. Ainda hoje teremos de fazer as malas, separar o dinheiro, cancelar cesarianas e seja o que Deus quiser.

Cordialmente,

Eduardo"

Não demorou muito para eu receber a primeira resposta vinda do Gordão:

"Mama eu!"

E em seguida o César:

"Boa, Edu! Isso mesmo. Vamos pela rota Ourinhos – Assis, Londrina - Foz.

Quando a conversa parecia encerrada chega um e-mail do Tony:

"O que tá pegando aí?"

A tarde daquela terça passava lentamente. Eu respondia a alguns e-mails enquanto comia a algumas paçocas.

– Não aguento mais essa Rádio Som FM. Vamos quebrar essa caixa de som, Gordão?

– Pausa para o café? Assim não ouviremos a essa música amaldiçoada.

Fomos até o oitavo andar do prédio para pegarmos os nossos cafés. Enquanto caminhávamos até lá, me desliguei de tudo o que o Gordão dizia. Apenas pensava na maior loucura da minha vida que me envolveria no dia seguinte.

– E aí, seu gordo. O que você vai levar pro Paraguai?

– Vou separar algumas camisetas, duas bermudas, meias e cuecas. Coisas de higiene pessoal e acho que já é o suficiente. E você?

– Tudo isso e paçoca.

– Seu doente!

Quando a porta do elevador se abriu, lá estavam o Tony e o nosso chefe, o Ricardo. Chegamos bem na hora que o Tony acabara de contar ao Ricardo sobre essa aventura rumo ao Paraguai.

– Aconteça o que acontecer, quero vocês aqui na segunda-feira. Não quero saber de histórias que venham a ser contadas depois para justificar uma falta ou possível atraso. Espero ter sido claro, Eduardo.

Então o chefe entrou no elevador para voltar ao nosso departamento sem nem me dar tempo de resposta. Provavelmente estava muito irritado por conta da greve em um dos órgãos anuentes do governo, pois em seus dias normais ele não costuma falar daquela maneira.

– Por que você contou a ele sobre isso, Tony? – Perguntei.

– Ele estava falando comigo sobre um processo que será liberado somente amanhã no final da tarde. Me disse que vai precisar do meu apoio para acompanhar os procedimentos. Estava muito irritado por conta das greves que vêm acontecendo. Expliquei que amanhã não poderei fazer hora extra por conta de uma viagem, então ele me perguntou todo animado para onde eu vou. Expliquei que para o Paraguai com vocês... de carro, a partir daí o humor dele mudou de repente e vocês apareceram. O que tá pegando?

– Viemos só buscar uns cafezinhos para fugirmos da Rádio Som – respondeu o Gordão.

– Mas isso não adianta. A Som toca em todos os andares do prédio!

– Pelo menos aqui no hall do elevador e próximo da máquina de café não é possível ouvir.

– Verdade. Bom café para vocês. Vou voltar ao departamento.

O nosso chefe é um cara que sabe o que faz e pensa antes de agir, mas é um pouco desesperado. Seu humor muda repentinamente algumas vezes. Um sujeito baixinho e com o cabelo lambido para trás. Nós todos gostamos do Ricardo. Tem nos ensinado bastante sobre importação. Nos dava ainda algumas lições como de pai para filhos. Como dizia ele, passamos mais tempo juntos no escritório da Supra do que ele pode passar com as próprias filhas.

– E aí, Gordão. O que você vai fazer hoje depois da cerveja?

– Direto pra casa. Vou tomar um banho e vestir a minha cueca da sorte do Scooby-Doo que é para dar tudo certo nessa viagem.


Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora