Paramos de beber e continuamos conversando. Resolvermos ficar numa boa para retomarmos os canecos no início da noite com o Lucas e a Ângela seja lá em qual bar que fosse.
Passamos o período da tarde caminhando pela área brasileira da fronteira próximos da Ponte da Amizade que era bem perto do escritório da Amplo. Estávamos os quatro lado a lado quando de repente o Gordão saiu correndo até parar uns cinquenta metros adiante. O Lucas e a Ângela não entenderam e então me olharam como se eu tivesse uma justificativa para aquela arrancada. E tinha...
– Não se preocupem com o Martín. Ele apenas tropeçou. Esse é um velho truque para disfarçar o tropeço.
– Tropeçou? Truque? – Perguntou a Ângela.
– Sim. A arrancada foi apenas uma técnica para disfarçar um tropeção numa tentativa de amenizar o mico. Utilizamos muito essa técnica em São Paulo. Vimos isso num show de stand up. Quando você sai correndo ao tropeçar, o quase tombo fica imperceptível aos olhos dos demais. Em São Paulo é muito útil já que nem todas as calçadas facilitam caminhadas.
Os dois começaram a rir.
– Mas e se ele tivesse caído? – Perguntou o Lucas.
– Se tivesse caído teria de fazer flexões tentando dar a entender que não caiu, apenas deitou para se exercitar.
– Boa técnica – disse ele – a levarei comigo para o resto da minha vida. Um dia talvez eu precise.
Alcançamos o Gordão que estava sentado ofegante.
– Não tenho porte físico para isso – disse ele.
– Então se recupere, garoto e da próxima vez aceite o tombo ou corra menos – disse a Ângela rindo dele. – Vamos voltar para o escritório. Preciso avisar ao velho Carlos que se ele decidir sair terá de trancar o portão, pois não voltaremos logo já que vamos para os bares.
Enquanto ainda estávamos caminhando nos arredores do escritório e próximos da fronteira, o trio parada dura caminhava pelas ruas de Ciudad del Este.
– Caralho. Estou em outro país... Não acredito!
– Dani, você já está enchendo o saco falando isso a todo momento. Guto, quantas vezes ele já disse isso?
– Contando com essa, creio que umas dezenove vezes.
– Dezenove vezes, Daniel.
– Eu só estou feliz. Será que não posso ficar contente por estar pela primeira vez perto de tantos gringos e em solo estrangeiro?
– Olhe ao redor, Dani – disse o César – Olhou? Setenta por cento das pessoas que você vê são brasileiros. Não tem tanto gringo andando pelas ruas. Aqui é tipo um clone da rua Vinte e Cinco de Março lá em São Paulo. Ou melhor, aquela tradicional rua comercial de São Paulo é uma cópia de uma rua qualquer daqui do polo comercial paraguaio.
– Não. Aqui é melhor.
– Concordo com ele, César!
– Mas aqui é abafado. Não entendo. Viemos um pouco mais para o sul no mapa e ao invés da temperatura cair, está mais quente.
– Não seja tolo, César. Não viemos tanto para o sul. Além disso, o Edu havia me explicado que seria normal aqui ser abafado assim, pois estamos numa região úmida da bacia dos rios Paraná e o Paraguai. Acho que isso é uma fotossíntese ou coisa assim.
– Fotossíntese? Achei que isso fosse aquela parada das plantas se desenvolvendo a partir da luz do sol ou algo do tipo. A vida inteira errado e agora essa verdade me vem como um soco. Enfim, quero só ver como faremos para guardar todas as nossas compras no carro durante a volta pra São Paulo – disse o Guto – e ainda compraremos mais coisas, sem contar que os outros ainda nem compraram nada.
– Eu deveria ter vindo no Gato preto - respondeu o César -, Assim estaríamos em dois carros e teríamos mais espaço para as coisas.
– Tenho quase certeza de que o seu carro não aguentaria chegar até aqui – comentou o Dani.
– E o seu carro? Aquele pálio mal cuidado que polui mais que Cubatão?
– Vá tomar naquele lugar, César.
– Wow! – Disse o Guto. – Vamos parar vocês duas???
– Tudo bem – responderam juntos.
– Agora vamos voltar. É bom não deixarmos para voltar tarde ou pegaremos trânsito na travessia da ponte como havia sinalizado o Lucas.
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...