Capítulo 14

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Paramos de beber e continuamos conversando. Resolvermos ficar numa boa para retomarmos os canecos no início da noite com o Lucas e a Ângela seja lá em qual bar que fosse.

Passamos o período da tarde caminhando pela área brasileira da fronteira próximos da Ponte da Amizade que era bem perto do escritório da Amplo. Estávamos os quatro lado a lado quando de repente o Gordão saiu correndo até parar uns cinquenta metros adiante. O Lucas e a Ângela não entenderam e então me olharam como se eu tivesse uma justificativa para aquela arrancada. E tinha...

– Não se preocupem com o Martín. Ele apenas tropeçou. Esse é um velho truque para disfarçar o tropeço.

– Tropeçou? Truque? – Perguntou a Ângela.

– Sim. A arrancada foi apenas uma técnica para disfarçar um tropeção numa tentativa de amenizar o mico. Utilizamos muito essa técnica em São Paulo. Vimos isso num show de stand up. Quando você sai correndo ao tropeçar, o quase tombo fica imperceptível aos olhos dos demais. Em São Paulo é muito útil já que nem todas as calçadas facilitam caminhadas.

Os dois começaram a rir.

– Mas e se ele tivesse caído? – Perguntou o Lucas.

– Se tivesse caído teria de fazer flexões tentando dar a entender que não caiu, apenas deitou para se exercitar.

– Boa técnica – disse ele – a levarei comigo para o resto da minha vida. Um dia talvez eu precise.

Alcançamos o Gordão que estava sentado ofegante.

– Não tenho porte físico para isso – disse ele.

– Então se recupere, garoto e da próxima vez aceite o tombo ou corra menos – disse a Ângela rindo dele. – Vamos voltar para o escritório. Preciso avisar ao velho Carlos que se ele decidir sair terá de trancar o portão, pois não voltaremos logo já que vamos para os bares.

Enquanto ainda estávamos caminhando nos arredores do escritório e próximos da fronteira, o trio parada dura caminhava pelas ruas de Ciudad del Este.

– Caralho. Estou em outro país... Não acredito!

– Dani, você já está enchendo o saco falando isso a todo momento. Guto, quantas vezes ele já disse isso?

– Contando com essa, creio que umas dezenove vezes.

– Dezenove vezes, Daniel.

– Eu só estou feliz. Será que não posso ficar contente por estar pela primeira vez perto de tantos gringos e em solo estrangeiro?

– Olhe ao redor, Dani – disse o César – Olhou? Setenta por cento das pessoas que você vê são brasileiros. Não tem tanto gringo andando pelas ruas. Aqui é tipo um clone da rua Vinte e Cinco de Março lá em São Paulo. Ou melhor, aquela tradicional rua comercial de São Paulo é uma cópia de uma rua qualquer daqui do polo comercial paraguaio.

– Não. Aqui é melhor.

– Concordo com ele, César!

– Mas aqui é abafado. Não entendo. Viemos um pouco mais para o sul no mapa e ao invés da temperatura cair, está mais quente.

– Não seja tolo, César. Não viemos tanto para o sul. Além disso, o Edu havia me explicado que seria normal aqui ser abafado assim, pois estamos numa região úmida da bacia dos rios Paraná e o Paraguai. Acho que isso é uma fotossíntese ou coisa assim.

– Fotossíntese? Achei que isso fosse aquela parada das plantas se desenvolvendo a partir da luz do sol ou algo do tipo. A vida inteira errado e agora essa verdade me vem como um soco. Enfim, quero só ver como faremos para guardar todas as nossas compras no carro durante a volta pra São Paulo – disse o Guto – e ainda compraremos mais coisas, sem contar que os outros ainda nem compraram nada.

– Eu deveria ter vindo no Gato preto - respondeu o César -, Assim estaríamos em dois carros e teríamos mais espaço para as coisas.

– Tenho quase certeza de que o seu carro não aguentaria chegar até aqui – comentou o Dani.

– E o seu carro? Aquele pálio mal cuidado que polui mais que Cubatão?

– Vá tomar naquele lugar, César.

– Wow! – Disse o Guto. – Vamos parar vocês duas???

– Tudo bem – responderam juntos.

– Agora vamos voltar. É bom não deixarmos para voltar tarde ou pegaremos trânsito na travessia da ponte como havia sinalizado o Lucas.

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora