O bar ficava cada vez mais cheio. Por todos os lados brasileiros, paraguaios e argentinos. Turistas e nativos.
Em nossa mesa o Fabiano conversava com o Ricardo e o Tony. Provavelmente falavam sobre a competição de pôquer que iriam participar na noite do dia seguinte em um cassino de Ciudad del Este. O Gordão estava feliz contando para o Guto sobre o presente que ganhara de Ronald Garcia, o suposto chef de cozinha boliviano. O Guto correspondia alegremente. Engraçado como um gordo consegue sentir a felicidade de outro quando o assunto é comida. Sei disso porque apesar de magro, creio que meu espírito já esteja bem gordinho, por isso muitas vezes eu conseguia sentir a mesma felicidade que eles. Eles ficavam tão contentes com qualquer comida quanto eu com qualquer paçoca. Perto deles dois se sentara o Dani com cara de bravo por conta da irritação que passara ao ser incomodado e corrigido quanto a pronúncia do nome do Aleksey. Ao seu lado estava o César tentando anima-lo contando-o que descobriu um lugar bem legal onde ele poderia comprar a alguns perfumes para a Rose, sua mulher. No palco rolava uma breve passagem de som nos momentos que antecediam a apresentação da noite. Já eu querendo saber um pouco mais sobre Foz do Iguaçu, apenas conversava com o Lucas e a Ângela sobre os resultados da minha pesquisa.
– Antes de voltar para São Paulo vou querer ter conhecido a usina Itaipu Binacional e as Cataratas do Iguaçu.
– Uhul. Viva as Niagara Falls! – Gritou o Gordão ao ouvir sobre o que eu havia acabado de falar.
– Bem, basta querer que podemos levá-los, mas isso depende do dia e hora, pois temos nossos compromissos com nossas famílias – disse a Ângela.
– Tudo bem. Amanhã iremos cruzar a fronteira pela primeira vez, pelo menos o Gordão e eu... e acho que o Tony e o Ricardo também. Vamos comprar algumas coisas e conhecer o lado de lá. Vocês vêm com a gente?
– Amanhã não poderemos – disse o Lucas. – Vou almoçar na casa dos meus pais lá mesmo no Paraguai, em San Alberto, ao norte de onde vocês estarão.
– Já eu passarei o dia em Cascavel, cidade onde vivem os meus avós paternos.
– Boa. Vamos ver direito. Provavelmente não iremos juntos, pois cada um tem algo específico a fazer no Paraguai. Vou descobrir os afazeres de todos até a hora de irmos dormir.
Paramos apenas para tomar as cervejas em nossos copos antes que esquentassem. Naquele momento cessaram todas as conversas no bar, pois chegara a hora que o gerente, um senhor de uns cinquenta anos, gordinho e calvo subiu no palco e pegou o microfone para apresentar a artista da noite.
– Boa noite, Foz do Iguaçu. Boa noite à todos os fiéis amigos do bar Cataratas Brasil. Espero que gostem desta noite de muitas bebidas, conversas, risadas e, a partir de agora, música ao vivo. Com vocês, Camila Maldonado!
Todos aplaudiam às suas palavras, eu em particular aplaudia a tudo, desde o clima naquele lugar, as palavras do gerente e a decoração do palco feita com pequenas lâmpadas de led amarelas em fios que se moviam descendo e subindo em volta da Camila, o que fazia lembrar vários vagalumes, mas aplaudia principalmente aquela moça muito bonita que estava no palco, a cantora da noite. Sua pele bem clara, cabelos ultra escuros com uma franja caída e ajeitada para detrás de sua orelha esquerda. Para completar, a decoração de seu cabelo continha uma rosa presa ornamentando-a delicadamente. Ela usava um belo vestido preto um pouco acima dos joelhos e um salto alto também preto. Em seu colo repousava seu violão.
Ela era bela, mas quando começou a cantar, todos nós da Supra cerramos os olhos e viramo-nos uns para os outros com nítida expressão de decepção, não por ela cantar mal, pois sua voz era perfeita, mas por conta daquela música que fazia parte do repertório repetitivo de cada dia da Rádio Som FM. Para a nossa decepção e quebra do encanto, a Camila iniciou sua apresentação cantando "Ao meu redor" de Luiza Possi, música bacana, mas que estávamos cansados de ouvir.
Tanta coisa fora do lugar
ao meu redor,
Minha parte dentro de você
já foi melhor
Um retrato que ficou
enquanto tudo passou
na poeira do tempo
Mesmo assim não quero te deixar
não há razão,
é preciso ainda enxergar
na escuridão
[...]
– Puta que pariu – disse o Dani.
A galera da Amplo não entendeu nada.
– Porra, vocês nos trouxeram a um show da Som FM?
– Como assim, Daniel? – Perguntou a Ângela.
– Não aguentamos mais ouvir isso – respondi. – Pra mim já deu por hoje. Vou para a Amplo mesmo que o velho louco esteja lá – completei.
– Ok – disse o Lucas –, vamos nessa então!
Entramos os cinco retardados na Zafira, enquanto o Tony e o Ricardo fizeram questão de irem no carro do Ricardo com ele, a Ângela e o Lucas.
Chegamos ao dormitório e começamos a nos revezar para tomarmos os nossos banhos. Depois que todos estavam cada um em seu canto e prontos para dormir começamos a conversar um pouco:
– Amanhã vou cruzar a fronteira. A pé – eu disse.
– Estou contigo – disse o Gordão. – O que vocês vão fazer amanhã? – Perguntou ele. Uma ótima pergunta, pois eu também gostaria de saber sobre o que cada um iria fazer.
– Eu vou assistir a um workshop num hotel antes de ir para o cassino para jogar pôquer – respondeu o Ricardo.
– Eu vou só tomar algumas geladas e depois ir direto pro cassino com o Fabiano. Lá encontraremos o Ricardo – disse o Tony.
– Já o Dani e eu iremos às compras novamente. Guto, você vem com a gente de novo? – Perguntou o César.
– Sim!
– Vocês deveriam aproveitar e passar na aduana paraguaia. Lá vocês poderão comprar produtos bem abaixo do preço normal – sugeri –. Qualquer coisa basta procurarem por um tal de Edgard. A aduana fica depois da ponte, à direita. Devem ter passado por lá quando foram às compras hoje.
– Assim até me emociono, Edu – disse o César.
– Ah, vou conhecer o restaurante onde o Ronald Garcia estará e pegar meu brinde – disse o Gordão.
– Nessa estou fora – respondi –, vou fazer outra coisa enquanto isso. A propósito, aonde fica esse restaurante?
– Pra que você quer saber se não vai?
– Não sei, às vezes um grupo de narcotraficantes com uma certa tara por gordinhos pode sequestra-lo. Pensei em saber sobre o seu paradeiro para ter por onde começar a procurar pelo seu corpo... depois de tomar as minhas cervejas, claro.
– Idiota. Nesse caso, aqui diz "Calle Boqueron, 85 – Barrio Centro, Ciudad del Este".
– Ok. Agora vamos dormir!
– Ei Edu – disse o César. – Se algum narcotraficante tarado por gordinhos pegar o Martín, deixe-o brincar com ele um pouco antes de tentar ajuda-lo.
– Com certeza. Já são duas horas da madrugada. Vou nessa. O tio Pestana já está martelando em meus olhos.
– Estranho, Edu – disse o Dani –, você nem quis saber o endereço do hotel onde o Ricardo estará...
– Quem se importa com ele?
- Ei... eu ouvi isso, hein!
Todos rimos.
– Desculpe!
– Você só se preocupou com o paradeiro do Martín, Edu. – Disse o Dani. – Vocês devem mesmo formar um casal.
– Ah, vem mamar, Dani!
– Boa noite, otários! – Tive de bradar.
– Boa noite, Trouxa! – Todos responderam juntos. Quanta sincronia.
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...