Fomos para a sombra até decidirmos o que fazer ao sair dali. O Gordão estava muito chateado por terem levado o seu bolo. O César estava puto da vida e o Guto também, mas a raiva que o César sentia era maior que a dos outros. O pior de tudo é que todos eles me culpavam por aquilo ter acontecido. Eu até concordava com isso, pois se não estivessem ali para me ajudar, nada teria sido levado, mas ao mesmo tempo eu discordava, pois o único que eu havia comunicado foi o Gordão e mesmo que todos tivessem recebido alguma mensagem minha, eu não poderia prever o que estava prestes a acontecer. E foi o que eu lhes disse.
– Caras, não fiquem com essas caras para mim. Eu não tenho culpa do que aconteceu!
– Você tentou contrabandear paçocas e nós viemos por sua causa. Roubaram-nos quando estávamos aqui por sua causa. O Dani sumiu por sua causa. Tivemos prejuízo por sua causa. Estamos na merda por sua causa...
– Quero cagar por sua causa! – Disse o Guto interrompendo o César.
O César falava num tom como se tivesse acabado de perder todos os seus bens em jogos de azar, mas eu o entendia, pois o conhecia e sabia bem que ele ficava assim por conta de qualquer coisa que tirassem dele ou que perdesse.
– Já eu não vou comer a um bolo preparado pelas próprias mãos de um chef de cozinha por sua causa.
– Isso aí! – Disse o Guto também revoltado e fazendo careta por conta de sua dor de barriga. – Ele iria me dar um pedaço bem farto. Também sou gordo, você não tem noção de como estamos nos sentindo agora, Edu.
– Não estamos tão na merda assim – pelo menos não enquanto o Guto se segurasse, pensei. – Para compensar, o guardinha do Paraguai fugiu e com isso ainda tenho as minhas paçocas, olhem que maravilha. E além disso, eu não poderia prever o que estava prestes a acontecer. Talvez se tivéssemos dado atenção ao Aleksey ontem à noite ele poderia ter dado algum aviso sobre isso e nós nem estaríamos aqui agora.
– Você ainda tem suas paçocas? – Berrou o César.
– Sim!
– Aleksey? Você fala de um tal de Alex? O carinha que perturbou o Dani lá no bar?
– Eu fico com as pernas, César.
– E eu com os braços.
– Esperem... Saiam daqui, amaldiçoados – eles me pegaram e começaram a brincar de cabo de guerra fazendo de mim uma corda. Tudo bem que sou magro, mas abusaram no bullying. O Gordão também veio e tomou o meu braço esquerdo do Guto. O César deixou que minha perna esquerda escapasse e eu tentava me equilibrar dando saltos sobre uma perna só e me contorcendo para que me largassem, então o cabo de guerra agora era disputado por três e eu os xingava: – vagabundos, seus filhos da puta... me soltem, lazarentos, Shanghai, Ningbo... Suape! – Quando eu disse Suape o Guto me largou.
– Esperem! – Disse ele já cansado e ofegante. – Arrancar os membros do Edu não nos trará as nossas coisas de volta.
– Ele tem razão! – Respondi. – Acreditem nele. Ele sabe bem o que está dizendo. Me larguem.
– Cala a boca! – Todos disseram, então me calei.
– Vamos parar – disse o Gordão sentindo dó de mim –, já chega. O Guto tem razão e ele já teve o que merece. Pelo menos por hora.
– Vocês formam mesmo um casal. – comentou o César. – Só pode.
Ele aproximou-se de mim após me largarem e eu ter me levantado, cerrou os olhos e me deu um breve sermão.
– Sorte a sua que não vou pegar suas caixas de paçocas e arremessá-las lá embaixo no rio. A sensação de perda que estou sentindo agora é amarga e não desejo isso a ninguém. Você não sente o que eu sinto agora.
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...