Capítulo 25

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Voltei correndo para buscar o amor que deixei para trás. Que romântico. Quando estava quase chegando, notei três pessoas ao redor das minhas caixas, então me apressei. Saí correndo o mais rápido que conseguia.

– Saiam já daí. Olha o ninja, olha o ninja chegando – gritei e em seguida passei a reduzir a velocidade gradativamente até parar ao chegar completamente exausto até eles, uma garota e dois meninos, estes dois saíram de perto assustados quando cheguei, mas a garota continuou lá, parada e me encarando com seus olhos negros feito uma viúva da manhã. – Não peguem isso... por favor. É tudo meu. Acredite, menininha!

– Isso estava aqui largado e nós encontramos!

Ela era baixinha e magra. Seu cabelo era castanho e ela usava um vestido preto. Não aparentava ter mais que treze anos.

– "Isso", minha jovem... "isso" tem nome e pra mim é muito valioso e, "isso" não é para o seu bico e nem para os bicos dos seus amiguinhos que se afastaram – falei apontando para eles que estavam do outro lado da rua. Eram gêmeos de pele negra, magros, altos e com cabelos bem estilizados em cortes black power distintos, um mais volumoso que o outro e também mais bem ajeitado. Após notar o quanto fui grosso com ela, me arrependi de imediato. Sempre acreditei que dar paçocas nos faz ganhar o sorriso de alguém e assim ganhar o dia e até mais que isso, o mundo. Abri uma das pequenas caixas e deixei que ela enchesse as mãos com paçocas. Chamei os dois garotos, os Jacksons Two e também os deixei pegar algumas. Os três sorriram no mesmo momento que comecei a ouvir uma buzina. Por um instante eu havia me esquecido que o meu objetivo era apenas voltar pelas paçocas e depois retornar ao carro. E por falar em carro, nele estava o César buzinando mais e mais e gritando.

– Vamos logo, Pau de vira tripa!

Pau de vira tripa? Que filho da puta! – Pau de vira tripa virou meu apelido no ensino médio após eu receber uma espécie de correio elegante. Eu jogava basquete uma vez ou outra durante o intervalo principal e após o horário de saída, mas apesar de alto, nunca fui bom no esporte. Uma garota veio até mim e entregou-me um bilhete dizendo que uma amiga a pediu que me entregasse. Naquele bilhete estava escrito "Eduardo, você é bonito e tal, mas jogando basquete parece um pau de vira tripa. Pare". Não parei. Enfim, peguei as duas caixas e fui em direção ao carro caminhando o mais rápido que pude. Quando estava prestes a alcança-los, o César engatava a primeira e acelerava levemente. Os alcançava novamente e ele fazia o mesmo e fez por mais duas vezes.

– Para com isso, merda. Está ficando pesado! – Na verdade já estava, mas eu não estava mais aguentando o peso. Na última vez que ele deu aquela partida, acelerou bem sutilmente, quase parando para que eu o alcançasse. Quando eu estava perto do porta-malas ele brecou o carro com tudo, o que me fez esbarrar de frente e cair com as caixas.

– Não joguei as suas paçocas no rio, mas precisava brincar com a sua cara para vingar o nervoso que me fez passar por terem roubado as nossas coisas. – Todos davam gargalhadas.

Eu estava morto, então nem discuti. Apenas me levantei, peguei as caixas e após ele ter destravado a porta traseira as coloquei lá cuidadosamente. Para isso tive de empurrar o último banco para frente para que desse espaço e assim surgisse o porta-malas da Zafira. O fechei e entrei pela porta lateral sentando-me ao lado do Gordão enquanto o Guto estava na frente sentado no banco do passageiro.

O César engatou o carro novamente e saímos dali em arrancada. Eu tentava urgentemente ligar para o Fabiano que não me atendia. Enquanto isso o Gordão enviava mensagens e mais mensagens para o Tony que não o respondia.

– Caramba. O que será que eles estão fazendo? – Questionou o Gordão.

– Será que trepando? – Sugeriu o Guto. – Nós presenciamos o Tony sair do armário ontem.

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora