Capítulo 31

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San Estanislao

Edgard Ronald Óscar estava em uma casa isolada próximo a uma vila de San Estanislao, uma cidadezinha localizada no sul do departamento de San Pedro. Era uma casa velha. Suas paredes eram brancas com alguns desgastes na pintura e mofo. O seu telhado em alvenaria e acidentado com alguns buracos. Sua porta era apenas uma entrada, pois não havia porta. As duas janelas da frente estavam pregadas por pedaços de tábuas velhas. Em sua volta muita lama por conta da chuva que caíra na última hora. Estava sentado a sombra de um ipê rosa que o escondia da luz de um poste, a única árvore isolada da mata e único elemento que possuía certa beleza por ali. Observava o Shelby se aproximar com os capangas que traziam o Ricardo para ele.

Desceram do carro e caminharam. Traziam em seus semblantes apenas a irritação. Estavam irritados porque não tinham nenhuma mordaça para calar o Ricardo que vinha ameaçando o Zorro, ou Norro desde que havia sentado no banco de trás a caminho dali.

– Tragam-no para mim. Quero ver esse idiota!

O capanga brasileiro e o próprio Norro foram pegá-lo.

– Venha, seu filho de uma mãe!

– Tire suas mãos imundas de mim. Seu traidor. Analfabeto!

– Cale sua boca! – Gritou o Edgard. – Então é esse o panaca que agora está nos dando dor de cabeça?

– Olhe lá como fala comigo... espere aí. Você não é o Óscar Silva? O rapaz da cúpula do Mercosul? – Já dava para notar na voz e nas expressões do Ricardo que o efeito do elemento Z em seu organismo já estava passando aos poucos. Bem aos poucos, mas ele já estava visivelmente muito melhor, embora ainda sob o efeito da droga.

– Sou sim e adivinha... acabo de garantir um benefício fiscal para exportar pedaços humanos para o Brasil e será você quem irá em pedacinhos de volta para casa se não colaborar comigo, você está me entendendo? Seu cucaracho brasileño de uma figa!

– Seria drawback, uma vez que vim inteiro e vocês vão me modificar para me reexportar em pedaços... mas espere aí de novo. Você não é do Mercosul merda nenhuma!

– Deu para perceber é? Amarrem-no e venham comigo. Vamos aproveitar a madrugada antes de cairmos na estrada. Será bom deixar secar a lama das vias por aí. Não quero que tenhamos mais contratempos por conta do carro atolado ou perdendo o controle da direção em uma curva deslizante.

O Edgard, ou seja lá qual fosse o seu nome era um rapaz muito inteligente. Cheio dos improvisos em falsas histórias para enganar a quem quer que fosse quando precisasse como fez para nos enganar apresentando-se a nós separadamente, citando seu nome alternando-o a medida que ia se comunicando conosco. Todos os seus atos eram calculados e aguardar que a lama das vias secasse era uma medida sensata para aquele momento.

– Raul, você cuidará dele. – Enfim revelava-se o nome do Norro.

– Sí señor. – Aquiesceu o Raul, mas estava emputecido por ter de passar as próximas horas aturando-o.

O Edgard então deu meia volta com os outros dois capangas e foram caminhando até um bar na esquina de uma rua do centro do vilarejo. Suas paredes eram cor de rosa e bem esburacadas. A sua calçada era bem alta e cimentada, porém estreita. Na entrada ficava um rapaz que pedia esmolas de quem entrava, só não atreveu-se a pedir para Edgard e seus capangas. No mínimo já eram bem conhecidos por ali e por lá ficaram pelas próximas horas.

Hernandarias

Havíamos caído no sono sem nem ter ouvido a mais histórias do Apoema sobre o Pombero. O Gordão estava deitado sobre folhas de bananeira espalhadas ao chão e abraçado com a sua garrafa de elemento gordo. Eu estava próximo a ele, também em folhas de bananeiras, mas deitado ainda sobre algumas chaves que alguém havia largado ali, também sobre o meu celular, um tênis que eu não fazia ideia de quem que fosse o dono e algumas moedas. Tudo aquilo estava por me fazer acordar morrendo de dores nas costas. O César e o Dani estavam sentados e cochilavam debruçados sobre uma mesa que havia no canto daquela oca. O Guto não estava por ali. Nem mesmo os mais velhos que ainda estavam acordados faziam ideia de onde que ele pudesse estar. E por falar nos mais velhos, o único que estava dormindo era o Tony, mas era um leve cochilo perto do Dani e do César sentado em um banquinho e a apoiar suas costas contra a parede.

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora