O César afundou o pé no freio forçando uma parada brusca que fez com que o Guto e ele fossem travados em seus cintos. No banco de trás o Gordão e eu batemos nossos rostos na parte de trás dos bancos da frente outra vez, o que também fez com que os nossos celulares caíssem, mas não sumiram. Não daquela vez. Apesar de uma parada repentina e que poderia causar algum engavetamento caso viesse outro carro logo atrás, aquilo foi necessário, pois fez com que o disparo da Tommy Gun atingisse o asfalto e ricocheteasse para a mata além do acostamento.
– Porra – gritou o Gordão – a arma do cara é de verdade!
O Guto ficou nervoso com o gesto e as palavras do Gordão e respondeu-lhe aos berros de desespero: – Mas é claro, seu idiota. Quem sai por aí sequestrando alguém sem estar armado?
– Tem razão. Eu é que não sou de fazer isso desarmado.
– Você é um retardado, Martín.
– Não precisa me chamar pelo nome. Vou pensar que está bravo comigo.
– Mas estou... e muito bravo. Seu idiota!
Decidimos que para a nossa segurança o César não iria mais chegar tão perto da van, o que daria para ser feito tranquilamente, pois sua velocidade máxima não era capaz de deixar-nos para trás. Sabíamos que se continuássemos seguindo com calma e de uma certa distância atrás estaríamos salvos.
Já era possível notar o sol baixando no horizonte e então perceber a beleza da aquarela alaranjada no céu guarani, mas era uma preocupação, pois estávamos indo cada vez mais para longe de Foz, sem muito dinheiro, com a gasolina abaixo de meio tanque e exaustos. Estávamos atentos a van para que não escapassem de nossa visão quando percebemos que pararam no acostamento numa área de entrada para um vilarejo. Algumas ruas de terra davam acesso para aquele povoado que ficava bem além daquela estrada onde estávamos. O César encostou o carro há mais ou menos uns cem metros atrás de onde estavam. Quando desceram nos encararam e cogitaram colocar as mãos dentro de seus ternos. Provavelmente sacariam alguma arma. Não a Tommy Gun devido às suas dimensões, mas tínhamos certeza de que estavam armados. Só não as sacaram por terem obedecido a alguém que os ordenou que não fizessem aquilo. Era um homem encostado em um carro, um Shelby Mustang GT 350 H preto e com dois riscos brancos em sua pintura no capô, no teto e em sua traseira. Quando notei o modelo logo me apaixonei por aquele carro antigo que tanto vi em filmes de gângsteres dos anos sessenta. Aquele homem era magro e alto. Não pude reparar muito em sua face, pois estávamos distantes o bastante para não notarmos com perfeição sua aparência, mas ele vestia-se numa camisa social branca com uma gravata preta, sua calça era preta com riscos brancos e em sua cabeça também usava um chapéu Panamá, assim como os outros capangas. – Outro do Billie Jean? – Pensei. Debaixo de seu braço esquerdo ele carregava um coldre que sustentava a sua pistola.
Os dois capangas então deixaram de sacar suas armas e foram abrir a van. Entraram e saíram de lá carregando o Ricardo.
– Olhem lá. – Disse o César. – é o Ricardo!
– Calma, César! Não somos imortais. Não saia do carro.
O rapaz que já estava lá entrou no Shelby e foi para o banco de trás. Os outros dois colocaram o Ricardo lá posicionado na parte do meio do banco traseiro enquanto o capanga brasileiro entrava em seguida ficando um de cada lado do Ricardo. O paraguaio foi novamente até a van, largou algo na parte de trás onde o Dani estava escondido. Em seguida entrou no carro e saíram lentamente. Vimos o Dani sair da van e vir em nossa direção. Ficamos contentes em vê-lo, então saímos todos do carro e fomos de encontro com ele para nos certificarmos de que estava bem. Enquanto ele caminhava em nossa direção, atrás dele, repentinamente a van explodiu fazendo com que suas portas fossem arrancadas e projetadas vários metros para os lados, seus vidros estourados e o fogo subisse de pressa para consumir sua lataria. O Dani olhou para trás para ter certeza do que havia acontecido. Encarava a cena com os olhos ofuscados pelas chamas e sentindo o calor do veículo sendo consumido e liberando fumaça negra no ar. Em seguida virou-se novamente para nós com cara de assustado, boca aberta e olhos arregalados.
– Caralho, – gritou ele –, eu poderia ter virado churrasco se não tivesse saído de lá.
E era verdade. Todos nós sentimos muito medo. Foi um susto e tanto. Reparamos que a calça do Dani estava molhada. O Guto não se conteve e então tirou uma onda daquela situação.
– Olhem o Dani. Ele queria apagar o fogo, mas esqueceu de mirar na van e se mijou todinho.
Não pude me segurar e permanecer com expressão de susto por muito tempo, então ri da piada dele, da cara de medo de todo mundo e do Dani que estava mijado.
– Chega de brincadeira – bradou o César –, eles estão indo embora. Todo mundo pro carro agora. Vamos!
O César tentou sair com a segunda marcha engatada, o que fez com que a Zafira saísse pulando até que ele voltasse para a primeira para evitar que o motor parasse. Logo acelerou, passou as marchas novamente e já estávamos perto do Shelby. Quando achamos que poderíamos permanecer na cola deles, saíram em arrancada numa velocidade absurda. O César até que tentou testar a velocidade máxima do nosso carro, mas eles estavam muito mais rápidos, então a única coisa que podíamos fazer era vê-los desaparecerem no horizonte naquele trecho da estrada.
– Estou com fome – comentou o Gordão enquanto sumiam.
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Rumo ao Paraguai
HumorUm feriado prolongado era tudo o que precisavam para caírem na estrada tendo como destino outro país. São profissionais de um escritório qualquer. Edu um apaixonado por paçocas e Martín, o Gordão, um admirador de bons pratos. A dupla se une a seus...