Capítulo 15

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Realmente a ponte estava com o tráfego de veículos muito intenso naquele fim de tarde, mas por seguirem o conselho do Lucas acabaram voltando para o lado brasileiro com boa antecedência.

– Ah, o Brasil.... Como diz aquela frase, "um bom casa a filho torna"!

– Como é, Dani? – Perguntou-lhe o César que era quem estava ao volante.

– Voltamos para o Brasil, um bom casa a filho sempre torna – respondeu enfatizando o "sempre".

– O certo é "um bom filho a casa torna", senhor Daniel.

– Porra César. Você só me corrige. Isso irrita!

Decidiram rodar um pouco por Foz do Iguaçu para aproveitar enquanto ainda restava um pouco da luz do dia, mas o sol já estava se pondo, escondendo-se atrás do território paraguaio.

– É melhor voltarmos para a Amplo, galera. Está ficando tarde – disse o Guto.

– Certo, vamos lá então – respondeu o César.

Enquanto o César guiava o carro pela Rua das Missões até o bairro onde fica o escritório da Amplo, o Dani notou que o velho Carlos caminhava pela calçada.

– Olha quem está ali...

– É o velho louco – disse o César – chame por ele, Dani. Veja se ele não quer carona.

– Não – disse o Guto – não chame. Vamos segui-lo. Não sei se repararam, mas ele está indo na direção contrária à do escritório.

O César então estacionou o carro e todos desceram. Logo estavam a apenas alguns metros atrás do velho Carlos.

– Aonde será que esse maluco está indo? – perguntou o Guto.

– Já pararam para pensar na possibilidade dele ser envolvido com o narcotráfico internacional? – Perguntou o Dani. – Por aqui tem muita gente que faz carreira no mundo do crime, tanto do lado de lá quanto do lado de cá da fronteira.

– Não creio nisso – disse o César –, mas vamos ver para onde ele vai. Se ele do nada entrar numa caminhonete carregada com toneladas de maconha ou quem sabe até adentrar em algum boteco de fachada, onde na verdade funciona algum entreposto de contrabando de mercadorias, nós vamos embora da Amplo e nos hospedamos em outro lugar.

Por ali havia algumas casas com seus jardins bem arvorejados e cercas de arame ao invés de muros como éramos acostumados a ver pelos bairros de São Paulo. Algumas pessoas caminhavam enquanto outras passeavam de bicicleta. O velho Carlos continuava caminhando e virando-se para trás algumas vezes com certo olhar de desconfiança, mas o trio parada dura não foi visto, pois entre o velho e eles caminhavam alguns trabalhadores de empresas da região que estavam em fim de expediente dirigindo-se cada um para o seu lar.

– Ele não para de olhar para trás – disse o Guto. – Se esse velho maluco teme, então com certeza tem medo de ser visto por aqui e certamente anda aprontando.

– Ele virou naquele jardim – disse o Dani. – Vamos lá!

– Acalmem-se, seus apressados – disse o César. – Com calma, muita cautela.

O velho Carlos passou por um jardim, empurrou para o lado uma madeira velha que tampava uma passagem e então sumiu.

– Agora vamos!

Ao passarem pela madeira velha que ocultava uma passagem na parede, o trio parada dura se deparou com um cômodo vazio e com pouca iluminação. Parado um pouco à frente estava ele, o velho.

- Fire in the hole! – Gritou o César. – Entrem!

– Te pegamos seu velho pilantra filho da puta – berrou o Guto.

– O que vocês estão fazendo aqui seus punheteiros?

– Nós é que te perguntamos, seu canalha!

– O que vocês querem? – Bradou a pergunta enquanto dava alguns passos de costas em direção à uma porta que ia para outro cômodo.

– É aqui que você enrola toda a paranga para em seguidadistribuir pro resto do Brasil. Já sacamos – disse o Dani.

– O quê? Vocês estão enganados. Isso aqui é o nosso centro de treinamento.

– Centro de treinamento? – perguntaram todos juntos.

– Isso. Venham!

Ele caminhou até o outro cômodo que a primeira impressão estava vazio e o trio o seguiu.

– Senhor Fabiano? ... Rapazes? ... Podem aparecer.

Todos os que estavam ali saíram de seus esconderijos. Primeiro o Fabiano Santa Cruz que estava no banheiro. Depois alguns tiozinhos que estavam atrás de um balcão, algumas moças vestidas de garçonetes saíram de um micro cômodo onde provavelmente funcionava uma cozinha, depois um anão saiu debaixo de uma mesa verde de pôquer e, por fim, o Ricardo surgiu de trás de uma cortina com seu cabelo todo lambido e o Tony saiu de dentro de um armário.

– Que porra é essa aqui? – gritou o Dani. – Vocês também se envolveram nisso é?

– Acalmem-se – pediu o Ricardo. – Aqui funciona o clube clandestino de treinamento de pôquer e outros jogos. Estamos apenas nos aprimorando, pois amanhã vamos todos juntos disputar um torneio num cassino de Ciudad del Este.

– Exato – disse o Fabiano -, o torneio será entre nós, alguns paraguaios e um grupinho de argentinos.

– Ah, deixe-me ver se entendi direitinho – disse o César. – Vocês vão participar de um tipo de Copa Libertadores de pôquer?

– Exato, mas nada grandioso!

– E por que todo mundo se escondeu?

– Mesmo esse lugar não sendo um cassino, fazemos o uso do espaço para treinamento em jogos de azar. Quando ouvimos a gritaria no cômodo ao lado imaginamos que vocês fossem os federais. Eles consideram qualquer lugar de prática oficial ou amistosa de jogos de azar como se fosse um cassino, então estaríamos todos bem encrencados se vocês realmente fossem da polícia. Os federais não acreditariam e não iriam querer saber, apenas nos prender.

– Pois é. Nem nós estamos conseguindo acreditar ainda, os federais muito menos. Apenas seguimos os passos do velho maluco e chegamos até aqui.

– Eu apenas ia começar o meu turno como vigia – disse o velho Carlos. – De repente esses três patetas apareceram gritando e eu quase me borrei todo.

- De qualquer forma, pessoal – disse o Dani –, vocês precisam fazer esse lugar não parecer tanto com um cassino, pois não parece em nada com um centro de treinamentos ou clubinho do pôquer. Aqui estão algumas moças muito lindas e sexy vestidas como garçonetes, alguns tiozinhos com cara de tarados, um anão que poderia muito bem ser visto como um astro pornô e para completar, o Tony saindo literalmente do armário. Se tivesse rolando um casamento eu diria que isso aqui é um pedacinho de Vegas na América do Sul.

– Eu quase me caguei quando vocês começaram com a gritaria – disse o Tony. – Não viajei até aqui para ser preso.

– E eles, quem são? – Questionou o Guto virando-se para o Fabiano.

– Eles são todos despachantes aduaneiros daqui da região, inclusive o Bruno, o anão.

- Puta que pariu um anão velho que é despachante e se chama Bruno. Ok, agora acreditamos em vocês. Tudo muito comum.

– Mas Bruno é um nome tão jovial, pensei que tivessem inventado esse nome só nos anos noventa. Estava enganado – disse o Dani.

O Ricardo alongava as costas e se esticava para aliviar a dor que deve ter sentido ao correr para esconder-se. Esticava as pernas e dizia: – mas é a mais pura verdade.

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora