Capítulo 9

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– Mas que porra foi aquela?

– Uh... você fala palavrão, Ricardo? – Perguntou o Gordão.

– Falo sim... supervisor também é gente!

– Caramba. E você transa?

– Vá à merda, Martín! Será que desrespeitamos alguma tradição chinesa ao entrar na pastelaria?

O Guto levou as duas mãos ao rosto afim de esconder o seu semblante frustrado e disparou irado: – Que porra de tradição. Nas pastelarias dos chineses lá em São Paulo não tem essa. Nem mesmo nas lanchonetes dos turcos. Droga... eu nem comi. – Lamentou.

Eu também não havia comido nada assim como o Guto e o Ricardo também não, mas p nosso chefe, na realidade, não estava mais tão preocupado em comer, mas sim em permanecer quieto até recuperar o fôlego de vez. Compreendendo a tristeza do Guto por não ter comido, recomendei ao Tony que parasse em qualquer lugar mais a diante naquela estrada: – Vamos ter que parar mais à frente, Tony. Ficamos quase trinta minutos esperando e só gritaram com a gente.

– Como assim? O que aconteceu lá? – perguntou o Tony.

Respirei fundo e então comecei a falar sobre o que havia acontecido na pastelaria dos gritões, desde a nossa chegada, o trocadilho do Ricardo entre Palmital e pastel de palmito, até o Guto gritar Suape – basicamente eu fui o único que não fez nada de errado – concluí.

– Não. Imagina. Nada né? - indagou o Guto – só xingou o cara de vários portos. Nada mais.

– Caramba. Quanta ofensa tem nisso, não é mesmo?

– Que absurdo – disse o Tony – mas também não comemos. E os lanches que ficaram prontos não foram pagos. Até chegaram a nos levar os primeiros que já estavam cortados ao meio.

– Como assim não comeram?

– Quando entramos na lanchonete, fizemos os nossos pedidos: X-salada, X-Bacon, X-Maionese... o X-Tudo do Martín e alguns refrigerantes. Depois que o garçom tomou nota dos lanches que queríamos, decidimos nos sentar para esperar. Nesse meio tempo o Martín viu uma moça muito bonita sentada numa mesa próxima da nossa e se aproximou para puxar assunto. Mal sabia esse gordo amaldiçoado que aquela era a namorada do dono da lanchonete que inclusive foi quem nos levou os primeiros lanches depois de algum tempo de espera. Ele era um cara alto e forte. Tinha um cavanhaque e bigode em volta de sua boca, cabelos secos e bem penteados. Fazia lembrar o Hugh Jackman.

– Boa Gordão. Deu em cima da namorada de um X-Man – disse o Guto.

– Fodam-se os X-Mans... eu não sabia que ela era comprometida.

– Quando o cara apareceu com os nossos lanches – continuou o Tony –, ele ficou muito puto ao vê-lo pertinho de sua namorada. Até gritou "Selena, o que significa isso? ... Quem é você, seu gordo?". Em seguida ouvimos vocês gritando do lado de fora, então saímos correndo de lá. O Martín para piorar ainda passou por ele, pegou meio lanche da bandeja e socou tudo de uma vez na boca durante a nossa fuga.

Nos instantes seguintes seguiu um silêncio que só foi quebrado quando o Dani decidiu fazer uma observação: – Vocês notaram que engraçado um cara que parece um X-Man comercializando X-Salada, X-Bacon e outros lanches com nomes semelhantes aos dos X-Mans?

– Só porque começam com "X", Dani? – Perguntou o César.

– Isso... Xis Man, o Wolverine, Xis salada, Xis marionete... E por aí vai.

– Você quer dizer Xis maionese, certo?

– Isso, César. Que se foda. Tanto faz. Você entendeu.

Não conseguimos nos conter e então todos começamos a rir do Dani. Mais uma vez desde suas primeiras confusões no início da semana.

O Tony pisou o máximo possível correndo no limite permitido para aquela estrada. Foi assim até parar num posto de gasolina onde havia um restaurante Graal. Descemos do carro e apertamos o passo em direção à entrada. O Tony já exausto aproveitou o momento para livrar-se do volante.

– E agora, quem irá dirigir quando partirmos daqui?

– Eu dirijo – respondeu o Ricardo.

– Mas você bebeu!

– Sim. Pouquíssimo desde que saímos de São Paulo. Estou bem.

– É o que dizem todos os bêbados – disse o César.

– Você está bêbado, César. Eu não. E outra, todos vocês beberam e muito mais que eu. Se eu não dirigir ficaremos por aqui até amanhecer, ou o Tony continua até chegarmos à fronteira.

– Nem pensar. Está maluco? Preciso descansar.

– Por conta de irresponsáveis a lei me proíbe de beber o mínimo que seja e em seguida assumir o volante. Eu poderia ter continuado bebendo. Aliás, eu bebo muito mais do que mandei goela abaixo hoje. Preferi parar pensando em assumir o volante. A hora é essa. Se muitos causadores de acidentes pensassem como eu, não teríamos lei seca no trânsito. E eles não seriam causadores de mortes.

– Ah, vem mamar – disse o Gordão – quero comer. Bora cambada!

Todos responderam: – Bora!

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora