Capítulo 32

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Ficamos escondidos naquela esquina e morrendo de medo, pois quase fomos vistos por um daqueles caras que havia sequestrado o Ricardo e logo por quem ao que tudo indicava, era o líder deles. Eu sentia a adrenalina correr pelo meu corpo, pois se aqueles caras estavam por ali, era certo de que o Ricardo também estivesse, mas quando olhamos para o interior do bar, avistamos apenas o Edgard Ronald, dois de seus capangas e outros rapazes que jogavam bilhar e tomavam as suas cervejas. Mas aonde será que o Ricardo poderia estar? E quanto ao carro, aquele Shelby lindíssimo que vimos escapar na via Supercarretera deixando-nos para trás como se a Zafira fosse uma carroça incapaz de alcança-los? Pensei por um momento que talvez o Ricardo pudesse estar trancado em seu porta malas em algum lugar por ali, talvez na rua de trás ou sei lá onde. Continuamos ocultos e observando a entrada do bar. Ao longe e depois de uma curva estavam os outros retardados impacientes a nos esperar para seguirmos viagem. Notei que caminhando em nossa direção vinha um homem. Era calvo com a barba por fazer que havia saído do mesmo bar onde estavam os sequestradores. Ele usava calça jeans e uma camisa branca rasgada na altura do ombro. Em sua cintura, ele trazia consigo uma pochete. Assobiava a alguma canção e talvez estivesse apenas voltando para casa depois de tomar a algumas pingas. Especulei.

Aproximei o meu dedo indicador do nariz fazendo um gesto de silêncio para o Gordão. Aquele homem para nossa infelicidade, ao invés de ir direto acabou virando a rua e dando de cara com a gente, mas nem se importou com a nossa presença e continuou a seguir o seu caminho. Quando já estava me recuperando do susto, o Gordão o acertou na cara com um soco forte e certeiro, o que o fez cair desacordado.

– Mas... mas... que merda você fez, Martin?

– Como assim merda? Você quer respeito, não quer? Eu também quero. Ninguém vem me roubar usando uma pochete, Eduardo! – Disse ele com semblante de bravura como se fosse um super herói ao acabar de derrotar seu principal antagonista numa história em quadrinhos. E ainda queria o mesmo respeito que eu. Seguiu o raciocínio que tive ao deferir um soco na cara do ladrão da Ponte da Amizade, aquele mesmo que calçava sandálias croc. – Foda-se – pensei. Somos doidos mesmo.

– Mas, seu idiota. O coitado não ia nos roubar. Ele só estava passando.

– Ops.

Quase inacreditável. Eu na verdade já não conseguia acreditar em mais porra nenhuma do que acontecera nas últimas vinte e quatro horas. Já estava começando a me arrepender de ter ido para o Paraguai. De repente estava tudo dando errado, pois ao longo da viagem, apesar de termos fugido de uma pastelaria e outros de uma lanchonete ainda em solo de Palmital, as coisas até que iam bem, mas depois que chegamos em Foz e resolvemos cruzar a fronteira tudo passou a dar errado. Tínhamos de estar de volta em nossas casas até o dia seguinte no começo da noite, o domingo e já na segunda estaríamos todos de volta ao trabalho no escritório da Supra Comex, tendo assim que voltar a rotina além de voltar a ouvir às mesmas músicas de todos os dias na rádio Som FM. Enquanto o Gordão e eu tentávamos arrastar o cara que ele havia acabado de agredir, eu colocava em mente a real possibilidade de não chegarmos no horário planejado e ainda a grande chance de não irmos trabalhar na segunda-feira que se aproximava. Sei que se acontecesse algum milagre, poderíamos encontrar o Ricardo e dar o fora dali rapidinho, mas prefiro sempre me preparar para o pior, então tinha em mente que poderíamos passar mais um, dois ou quem sabe até três dias por ali.

Deixamos o rapaz estirado na calçada daquela rua próximo da parede lateral do bar. Se alguém passasse por ali provavelmente pensaria que ele estivesse apenas caído de bêbado e, como nós latino-americanos não nos preocupamos em verificar se uma pessoa caída pela rua realmente está apenas bêbada, ficamos tranquilos, pois ninguém ousaria chamar a polícia. Mas ele não estava tão mal apesar do seu cheiro de cachaça, aliás já estava quase acordando, então decidimos deixá-lo ali e corremos para trás de um matagal não muito alto e nem muito denso que havia de frente para o bar.

Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora