Capítulo 8

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– Pessoal – disse o Tony –, estamos próximos a uma cidadezinha chamada Palmital. Vou pegar a próxima saída para lá e então paramos para comer, certo?

– Tudo bem – todos responderam.

Acessei o Google pelo meu celular para descobrir um pouco sobre aquela cidade. Não tinha conhecimento de sua existência, então decidi naquele momento que iria pesquisar um pouco sobre cada lugar que parássemos, começando por Palmital mesmo. Descobri que a cidade fora antes um povoado, depois virou distrito de outra cidade até que prosperou tanto que foi elevado a município. Nas imagens vi belos rios, igrejas, uma antiga estação ferroviária em ruínas e até um cemitério abandonado. – Maneiro!

– Pare naquela ruazinha ali, Tony – disse o Dani.

De um lado da rua havia uma lanchonete e do outro uma pastelaria cujo nome era Pastelaria Hong Kong.

– E aí, galera. Pastel ou lanche – perguntou o Tony.

O Gordão voltou-se para a entrada da lanchonete – é lanche, molecada. Muito hambúrguer.

– Eu vou à pastelaria. Nada melhor que pastel e caldo de cana – respondi.

– Tamo junto – disse o Guto tocando em minha mão.

O César, o Dani e o Tony seguiram o Gordão. Já o Ricardo foi atrás de mim e do Guto.

– Eduardo... Augusto. Esperem! Vou com vocês.

Entramos naquela pastelaria já decididos sobre o que pedir... pelo menos o Guto e eu já sabíamos o que queríamos: um pastel de quatro queijos e um de calabresa com catupiry para cada. Para beber, um caldo de cana com limão tamanho jumbo.

Atrás do balcão havia uma senhora chinesa. Eu disse "olá" e ela gritou algo em sua língua nativa que não fazíamos a menor ideia do que significava. Não entendi o motivo, então eu disse que queríamos fazer um pedido. Ela tornou a gritar. Não sei o que fizemos de errado. Ela ficou injuriada e foi para os fundos do estabelecimento, de onde veio um senhor chinês, provavelmente era seu marido, então repeti: "queremos fazer um pedido". Ele gritou. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, então o Ricardo pediu a mim que o deixasse pedir primeiro e com mais educação.

– Como assim? E eu fui mal educado por acaso?

O Ricardo fez cara de deixe isso para lá. Deixe-me tentar apenas.

– Oi tudo bem? Que bela cidade é esta onde o senhor mora, não? Já que estamos em Palmital – então pega no meu p... pensei em dizer. Preferi deixar para lá – então vou homenagear a cidade comendo um delicioso pastel de palmito... entendeu? Palmital... palmito! – Não acredito que ele pensou em fazer um senhor gritão daquele rir com uma piada desse tipo.

O chinês tornou a gritar e o Ricardo levou um susto.

– Bem, eu... me prepare um pastel de calabresa, além do outro sabor palmito. Para beber desejo um caldo de cana com limão tamanho jumbo, assim como os meus parceiros aqui – completou sorridente entre o Guto e eu e com os braços em nossos ombros.

– Me lambe, Ricardo! – Resmungou o Guto.

O senhor chinês foi então para os fundos da pastelaria após tomar nota dos nossos pedidos.

– Imagina uma discussão de relacionamento entre esse casal como deve ser.

– Não quero nem imaginar. Ainda estou sem entender o problema deles. Devem ter ataque de nervos, ou sei lá – respondi ao Guto.

Olhei para o meu celular. Havia uma mensagem enviada pelo Gordão através de um chat:

"Estamos na lanchonete. Já pedimos nossos lanches. E por aí... o que tem de bom? PS. Estejam no carro em meia hora".

"Pastel de quatro queijos porque queijo é vida e outro de calabresa com catupiry" - respondi. Pelo o que entendo de Gordão, ele seria capaz de sentir o cheiro daqueles pastéis através da minha simples mensagem, mesmo sem ter enviado qualquer imagem ou ele estar do outro lado da rua.

"Boa. Estão cheirosíssimos! Aqui estou conversando com uma gata =P"

"Ok, cachorro!"

Vinte minutos já haviam se passado e nada dos nossos pasteis. Eu estava muito faminto. Todos estávamos.

Ficamos irritados com a demora e então decidi chamar pelo senhor chinês que veio gritando outra vez.

– Em nossa língua, por favor. Fale em nossa língua! – Repliquei.

Mais gritos e ainda mais altos. Parece que por aqui só eles gritam – pensei. Então fiquei muito irritado e decidi também gritar em chinês com um vocabulário que se limitava apenas a nomes de cidades portuárias da China.

- Escuta aqui... NINGBO, SHANGHAI, YANTIAN, SHENZHEN, XIAMEN. DALIAN E HUANGPU! QINGDAO, ZHONGSHAN, HONG KONG, ZHUHAI... – parei para respirar e então olhei para o Guto na esperança de ele me ajudar citando o nome de outro porto que eu tenha me esquecido.

– SUAPE! – disse ele.

– Suape? – perguntei.

– Suape? – Questionou o senhor chinês que se irritou de vez, então puxou um facão que estava guardado do outro lado do balcão. Parece que se ofendeu com o termo "Suape" que o Guto mencionou acidentalmente. Deve ter se atrapalhado, pois Suape é o porto do Recife, no Pernambuco. Ele nunca foi bom em geografia, nem mesmo trabalhando em nossa área ele aprimorou o seu senso geográfico, mas aquilo eu percebi ter sido apenas uma trapalhada cometida por ele abrindo a boca sem pensar de tanto nervosismo que sentiu, mas que em mandarim deve ter algum significado pejorativo. Vai saber.

– Puta merda! – Exclamei – CORRE MOLECADA!

– Que... gafe hein, Augusto – era o Ricardo quem falava, dessa vez mais ofegante que quando correu atrás do carro ao partirmos de São Paulo – eu não tenho mais... idade para correr assim e agora... me vejo batendo em... retirada por causa disso.

Na rua gritamos ainda mais. Os outros loucos saíram correndo da lanchonete após ouvirem nossos gritos. O Gordão tinha até um resto de lanche socado na boca e em um instante estávamos todos no carro.

– Pisa fundo, Tony! – Pediu o Guto.


Rumo ao ParaguaiOnde histórias criam vida. Descubra agora